Não demora, como em Chico, todos verão emergir o monstro da Lagoa.

Não demora, como em Chico, todos verão emergir o monstro da Lagoa.

Senhor futuro prefeito da cidade de Vitória da Conquista, saudações!

Embora regido pelo elemento terra – já que capricorniano –, é pela água que me dirijo a vossas senhorias. Digo “vossas senhorias” porque, singularmente, há, nos dois, um prefeito em potencial. E essa prefeiturabilidade só se manifestará, plenamente, ali pelas ave-marias do dia 30. Por ora, vou no plural e, assim, alcanço a ambos. E, mesmo que um de vós assuma e outro, não, ainda assim, lá em Salvador, na Assembleia Legislativa, um de vós continuará lutando por Conquista… e pela Lagoa, quero crer.

Imagino que vossa Gusmânica pessoa, ou vossa Raimúndica personalidade estejam, nestora, imersas em compromissos mil, já que se avizinha a votação em segundo turno da eleição do novo prefeito de Vitória da Conquista, que será um de vós. Mas presumo que vossas senhorias – e vou aqui tascar um indubitavelmente – já disponham, em vossos programas de governo, de pronta resposta ao tema que ora vos submeto. Refiro-me à Lagoa das Bateias.

E assim é porque, no caso específico da proposta Gusmânica, temos a promessa de “realizar e executar um Projeto de Recuperação do Parque Urbano da Lagoa das Bateias, respeitando a Política Urbana existente na Constituição Federal e o Estatuto da Cidade.” Não sei, exatamente, qual a sutil diferença entre realizar e executar, mas isso é de pouco importância. Os engenheiros devem saber distinguir. O que, de fato, importa é que há no programa, pétrea, a promessa de recuperação da Lagoa, que é líquida (Valei-nos, Edgar Morin!.)

E é assim porque, no caso específico da proposta Raimúndica, embora não cite nominalmente a lagoa, compromete-se em “contribuir para garantir e utilizar de forma racional, integrada e sustentável os recursos hídricos disponíveis; e colaborar e viabilizar meios de preservação dos recursos hídricos, mediante a constituição de comitês de bacias e ações de preservação das nascentes de microbacias em nosso território”. Quero supor que, no meio de tantas palavras, alguma delas esteja se referindo à Lagoa.

Direta ou indiretamente, vossos programas contém promessas (compromissos) de, assumindo a Prefeitura, recuperar a Lagoa.

Alguém, lendo essas mal traçadas linhas, poderá dizer: “Ora, as prioridades de um novo governo, em face dos graves problemas que afetam a cidade, não devem abrigar a recuperação da Lagoa!”. Devem, sim! Devem porque é vital e porque é por ali que a cidade respira. Mas deve muito mais porque, ainda ontem, foi investida parcela considerável do orçamento público (forma eufêmica para “nosso dinheiro”) para sua recuperação, e, hoje, por descuidos mil, vemo-la abandonada. E porque, mais que uma causa ambiental, é uma causa moral.

À Lagoa não importa qual de vós vencerá. À Lagoa, pouco se lhe dá como lhe chamam, se de patrimônio ambiental ou tão somente lagoa. À Lagoa não importa se assume um governo alinhado com a direita foratemista ou se com a esquerda volverista. À Lagoa, pouco importa se, ganhando Herzém, entrem em cena alianças sejam com o DEM da Capital, sejam com o PMDB nacional. À Lagoa, não importa a ela saber se sua atual decrepitude resulta da insensibilidade de um prefeito que (valei-nos, Paulo Nunes) considera 20 anos muito pouco para governar uma cidade. À Lagoa não importa se, ganhando Herzém, entre em vigor um modo de conduzir a coisa pública sob a égide da livre concorrência e do Estado Mínimo. À Lagoa não interessa saber se, ganhando Zé, ganha numa atmosfera toda nublada, já que o partido dos trabalhadores anda esfarrapado, sugismundo e decadente. À Lagoa pouco importa se, ganhando Herzém, assume aquele que, de repente, deixa de ser pedra pra ser vidraça. Pouco importa se, saindo o PT, rompe-se um paradigma com mais de duas décadas de existência. Pouco importa se, saído o PT, sofram solução de continuidade projetos sociais que fizeram de Conquista uma vitrine. Pouco importa se, entrando o PDMB, nasça um “Primeiramente” municipal.

À Lagoa, senhores, não importa qual de vós vencerá. Ela não sabe o que significa “exonerações em massa no diário oficial”. Também não sabe o significado da sigla LRF; á Lagoa, pouco importa, por ora, a PEC do Teto (aliás, ali pertinho dela, o teto nem sempre é o mais formidável para pouso de aeronaves). O que importa a ela é que, se nada for feito nos próximos quatro anos, ela vai parir um ser pavoroso. E todos aqueles que estiverem vivos vão testemunhar, vão assistir, vão ver emergir o monstro na Lagoa. Um monstro chamado de “Furor Indignado”. Parindo fogo pelas ventas.

Um monstro com duas cabeças, uma pelo descaso de anos, outra, pela continuidade do descaso.

do Blog do Fábio Sena

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