CORREIO

O resultado da última prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não é nada bom para dez faculdades de Direito baianas. Nenhum dos alunos dessas instituições, que se  inscreveram no exame, foi aprovado.
No total, 90 instituições de todo o país tiveram esse desempenho nulo na prova, aplicada em dezembro de 2010 e cujo balanço foi divulgado ontem. Só São Paulo, com 17, teve mais faculdades que não aprovaram ninguém do que a Bahia. Mas com um detalhe: 43 instituições baianas estiveram representadas. Em São Paulo, foram 155.
A instituição baiana que não teve nenhum aprovado e teve mais inscritos foi a Faculdade Metropolitana de Camaçari (Famec): 44 estudantes fizeram a prova, quatro chegaram à segunda e à última fases, mas nenhum foi aprovado. Em segundo lugar na lista está a Faculdade Maurício de Nassau, com 14 alunos, seguida da Faculdade São Salvador, com oito inscrições.

O
coordenador do curso da Maurício de Nassau, Deivid Lorenzo, afirmou que houve
erro na informação, já que a instituição não formou ainda sua primeira turma.

“Ainda não sei quem informou à OAB que havia cursado Direito na
Faculdade Maurício de Nassau, mas, com plena convicção, posso asseverar que não
foram nossos alunos”, afirmou.

O coordenador do curso na Faculdade Social
da Bahia (FSBA), Daniel Macedo, afirmou também que a instituição – que teve seis
inscritos – ainda não havia formado a primeira turma, mas admitiu que os
inscritos fazem parte do quadro de alunos.

“Esses estudantes fizeram a
prova da condição de treineiros ( alunos que ainda não concluíram o curso e
fazem a prova para testar seus conhecimentos), porque ainda estavam no 9º
semestre e não tinham alcançado disciplinas importantes, como Direito Econômico
ou Direito do Consumidor”, explica.
críticas Macedo afirma ser favorável à
prova, mas considera que o grau de dificuldade tem ultrapassado aquilo que deve
ser exigido da advocacia. “Essa provas têm beirado o concurso público e por isso
acabam não medindo corretamente o conhecimento como um todo, mas sim pormenores
de questões judiciais”.

Depois de tentar cinco vezes e não passar da
primeira fase, Sidney Lino, formado em 2009 pela Faculdade de Artes, Ciências e
Tecnologias (Facet), defende o fim da prova. “De acordo com o princípio da
isonomia, todos são iguais perante a lei, então, se o curso de Direito tem esse
exame, então todos deveriam ter”, afirma. A Facet teve 3,85% de aproveitamento –
dos 191 inscritos, só 7 foram aprovados.

O pesadelo dos futuros
bacharéis em Direito é considerado pelo diretor da Faculdade de Direito da
Universidade Federal da Bahia (Ufba), Celso Castro, “um mal necessário”. “É
preciso haver um filtro para que não se engane a população, já que as pessoas
entregam a vida para um advogado”, diz.
Para ele, a multiplicação de
faculdades de Direito é responsável pela alta reprovação na prova e também pela
necessidade da aplicação dela.

“Hoje temos 1.040 faculdades de Direito
em todo o país, enquanto que nos Estados Unidos, por exemplo, há 350. É
praticamente uma em cada esquina”, diz.

Presidente da OAB na Bahia, Saul
Quadros afirma que o alto número de reprovados não se dá em função da
dificuldade do exame, mas sim pelo despreparo do alunado. “O exame é uma
garantia para a sociedade de que só colocamos no mercado aquelas pessoas que
estão prontas para advogar”, afirma, ressaltando que até o ano 2000, a Bahia
contava com quatro faculdades, e  hoje tem 56.

 

Ufba é a 9ª no ranking nacional
Enquanto mais de 100
mil estudantes de Direito de todo o país lamentam os resultados da última prova
da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que teve na última edição o pior
resultado da história, os alunos da faculdade de Direito da Universidade Federal
da Bahia (Ufba) que fizeram o exame comemoram o 9º lugar do Brasil e o primeiro
da Bahia em índice de aprovação.

Dos 129 alunos que se submeteram à
prova, 56,56% (69) foram aprovados. Considerando os números nacionais, dos 106
mil inscritos, apenas 11,32% (12.534) foram aprovados.

Para o diretor da
faculdade de Direito da Ufba, Celso Castro, o bom resultado do curso se deve a
uma série de fatores. “Primeiro, eu diria que nós temos uma seleção muito
rigorosa (o último vestibular teve concorrência de 13 candidatos por vaga) e,
por isso, acabamos tendo também os mais preparados. Além disso, a qualificação
dos professores, que são, em sua maioria, mestres e doutores e  buscam sempre se
qualificar interfere muito”.

Segundo Castro, há um paradoxo no fato de
que a Ufba tenha se destacado no exame da Ordem, já que a estrutura metodológica
da faculdade não é voltada para a prova. “Talvez tenhamos alcançado esse índice
na avaliação justamente por não preparar o aluno para ela. Não damos o peixe,
ensinamos a pescar. Assim acabamos formando profissionais para a sociedade, para
a vida”.

A estudante do 9º semestre, Raphaela Lopes, já se prepara para
enfrentar o exame, mas apoia a lógica de ensino.

“A universidade deveria
ser muito mais que uma aprovação na Ordem, pelo fato de ela analisar somente o
conhecimento da legislação. A profissão e a formação de um estudante têm que ser
muito mais que isso”, conta.

Particular
Das 20 instituições do
país que mais aprovaram em termos proporcionais no último exame, 19 são
públicas. E a  única faculdade particular que aparece no ranking das que mais
aprovaram é a Faculdade Baiana de Direito e Gestão, que ocupa o 20º lugar da
lista – ela aprovou 8 dos 17 alunos inscritos (47%). A faculdade, criada há
apenas quatro anos, fica na Rua Visconde de Itaboray, em Amaralina.


universidades públicas obtiveram aprovação acima de 50%. A Universidade de
Brasília (UnB) é a campeã nacional. Dos 43 inscritos, 29 (67,4%) foram
aprovados.

Compartilhe