Osvaldo Lyra-Editor de Política

 O ministro do Esporte, Orlando Silva, nasceu e se criou no subúrbio ferroviário de Salvador, mas foi através do movimento estudantil e do PCdoB de São Paulo que ganhou projeção nacional. Responsável pela coordenação da Copa no âmbito do governo federal, Silva disse esperar que os governos federal e estadual trabalhem juntos com a prefeitura para que Salvador esteja pronta para o Mundial, em 2014. Nesta entrevista à Tribuna, ele diz que “enquanto a crise segue na política, os serviços se precarizam e quem sofre mais é a população”. Por isso, existe a necessidade de união de esforços em prol da cidade.
Tribuna – Orlando Silva, ministro do Esporte, baiano. Qual sua relação com a Bahia?
Orlando Silva –
A minha relação com a Bahia é de paixão. Eu nasci em Salvador, vivi muito tempo na região suburbana, no Lobato. Estudei minha vida quase toda na península de Itapagipe, em colégios públicos da região. Fui estudar na Universidade Católica de Salvador em oitenta e nove (ano de 1989). O movimento estudantil acabou me tirando da Bahia. Eu já estava no meu quarto ano na faculdade, mas fui morar em São Paulo em noventa e dois (1992), fui para a União Nacional de Estudantes (UNE). Por ser da direção do PCdoB, acabei criando vínculos políticos em São Paulo. Hoje, é meu lugar de fazer política, mas quem nasce baiano sempre será baiano. É aquela história de ‘você sai da Bahia, mas a Bahia nunca sai de você’. Isso é uma máxima que também serve para mim.

 

Tribuna – O que foi feito na sua gestão e tem marca no estado?
Orlando –
Olha, existem conquistas no Brasil, que eu ajudei a realizar, que repercute o Brasil. Por exemplo, eu participei do processo de construção da vitória da candidatura brasileira para sediar a Copa de 2014, e a Bahia é sede do Mundial. A conquista dos Jogos Olímpicos de 2016, e a Bahia também será sede dos Jogos Olímpicos, já que o futebol acontecerá aqui. Nós fizemos o programa Segundo Tempo, que ampliou muito o seu impacto no país inteiro e aqui na Bahia, muitos órgãos não governamentais, com prefeituras e o governo do Estado, parcerias que fazem com que crianças e adolescentes tenham acesso ao programa. Enfim, tem um conjunto de benefícios de políticas que são realizadas nacionalmente que também têm eco na Bahia.

Tribuna – Alguma frustração ou coisa por fazer?
Orlando –
Tenho sim. A minha frustração é não ter conseguido ainda ter trazido um centro de excelência esportiva de alto nível. Neste meu segundo mandato como ministro, vou trabalhar juntamente com o governo do Estado para termos aqui um centro de excelência de alto rendimento. Não é possível que a Bahia não tenha um estádio de atletismo público, ter um ginásio público com capacidade de grandes eventos. Este há de ser um foco da nossa parceria com o governo do Estado.

Tribuna – De que forma o Ministério do Esporte vai poder ajudar Salvador a se preparar para a Copa?
Orlando –
Existe no governo federal um grupo interministerial que eu coordeno, por ordem da presidenta Dilma, que tem monitorado a preparação das cidades. Acabamos de sair agora (tarde da última sexta-feira, dia 11) de uma reunião de trabalho, que foi uma reunião de monitoramento da preparação da cidade de Salvador e do Estado da Bahia para a Copa de 2014. Nós vamos poder ajudar com financiamento em alguns casos, como na mobilidade urbana, em estádio de futebol, vamos ajudar com recursos para o trabalho de qualificação. Eu acredito que a Bahia, particularmente, tem um trabalho enorme de qualificação com seus trabalhadores, sobretudo na área de hospitalidade, para que nós possamos aproveitar o ponto melhor que tem esse evento. Quem vier à Bahia vai ficar encantado com suas belezas naturais, com suas tradições culturais, mas tem que ficar impressionado com a eficiência dos serviços. Eu acredito que o foco na educação vai ser importante e na infraestrutura é fazer as obras de mobilidade urbana, ampliar a capacidade do Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães. Vem um terminal turístico no porto de Salvador.

Tribuna – A intervenção no aeroporto é apontada por especialistas como insuficiente. O que fazer para evitar o caos aéreo em pleno Mundial?
Orlando –
Ampliar os investimentos.

Tribuna – Como fazer isso com um corte tão grande no orçamento já neste começo de ano?
Orlando –
Não haverá falta de recursos para os projetos prioritários. A presidenta da República tem essa determinação. O que for prioritário, e a Copa do Mundo é um evento prioritário, infraestrutura e aeroportos são prioridades. Para o que for prioritário haverá recursos disponíveis, agora, é preciso que a cidade de Salvador, por exemplo, a Prefeitura e o governo do Estado fixem metas. Qual a opinião deles? Qual a demanda específica? O governo não pode se mover apenas pela opinião de um ou de outro especialista. O governo pode e deve dialogar com governos, com base em estudos sustentáveis, que demonstrem a necessidade de investir na capacidade do desembarque do aeroporto, ampliando terminal, pistas, pátios de aeronaves. Então, o tema é importante, é sensível, e o Governo da Bahia deve pautar esse debate a partir de uma convicção que ele chegue.

Tribuna – Salvador não deveria já estar se preparando para receber os turistas, com investimento pesado na qualificação dos serviços?
Orlando –
Já há uma série de iniciativas na área de qualificação. Por exemplo, na área de construção civill. A Superintendência de Trabalho do Estado já tem um programa de qualificação que já gerou impactos, por exemplo, nas obras do Estádio da Fonte Nova. Agora, é claro que assim como na construção civil, precisamos qualificar muitos outros serviços e eu insisto muito no serviço de hospitalidade porque o turismo emprega extensivamente. Salvador é uma cidade com forte vocação para o turismo e a Copa é a chance de nós reforçarmos essa vocação, aumentarmos a projeção da cidade no mundo e vai ser fundamental termos serviços eficientes. É importante o que está sendo feito na área de capacitação, mas, seguramente, precisamos crescer muito o trabalho de capacitação, particularmente, o setor de hospitalidade.

Tribuna – A nova arena está sendo construída, mas falta um plano de mobilidade para a área. Como o ministério está se movimentando diante disso?
Orlando –
Olha, esse é um tema que é muito importante. O próprio BNDES, quando estruturou a linha de financiamento, previu financiar recursos para a construção ou reforma de estádios e financiar intervenções para o acesso ao estádio, reconhecendo que é muito importante, para dar eficácia ao estádio, que ele tenha um bom acesso, que vale não só para a Copa, mas vale para a sustentabilidade da estrutura da arena, porque a arena deve ter muitos outros eventos e isso vai exigir que o acesso seja fácil. O governo do Estado tem consciência da necessidade de garantir acessibilidade, o governador Wagner me disse hoje (última sexta-feira, 11), inclusive, que o acesso será de grande qualidade para o transporte de massa, até porque ali também é onde passa o metrô de Salvador, passa muito próximo.

Tribuna – E o Dique do Tororó? Ali é impossível transitar. Como destravar esse gargalo?
Orlando –
Olha, isso é um problema local. Essa pergunta fica melhor se dirigida à prefeitura porque tem temas que você enfrenta com melhor infraestrutura, tem temas que você enfrenta com engenharia de tráfego. Então, Salvador pode lançar mão de muitos recursos, tendo uma gestão inteligente no tráfego, que possa minimizar os obstáculos que nós vemos em momentos de pico, sobretudo em dias de grandes jogos e grandes eventos naquela região.

Tribuna – Tem acompanhado os problemas administrativos e financeiros da Prefeitura de Salvador. O que fazer para ajudar neste momento a gestão do prefeito João Henrique?
Orlando –
Há uma solidariedade muito forte, eu tenho percebido, do governo do Estado com a Prefeitura de Salvador, assim como há uma solidariedade muito forte do governo federal com a Prefeitura, já havia no governo anterior com o presidente Lula, e hoje a presidenta Dilma deve manter essa relação positiva. O governo federal deve estar sempre aberto para discutir projetos, programas, de maneira que a cooperação se dê e possa se ofertar bons serviços públicos, boa infraestrutura para a população de Salvador. Ao mesmo tempo, a classe política da capital deve refletir sobre a situação de crise, eventualmente, para pactuar saídas que impactem positivamente para a vida das pessoas porque, enquanto a crise segue na política, os serviços se precarizam e quem sofre mais é a população da cidade. Eu espero que essa solidariedade entre o governo do Estado e o governo federal possa se manter e sirva de esteio para ajudar a enfrentar os problemas políticos da cidade.

Tribuna – A sensação que se tem de fora do governo é que a cidade está crua na preparação para a Copa do Mundo. Qual a visão de dentro do próprio governo?
Orlando –
Veja estádios. É o ponto um de uma Copa do Mundo, é o lugar da competição. A Bahia está na linha de frente, é um dos Estados que têm o ritmo mais adequado de preparação do seu estádio. Transporte. A conexão do aeroporto com o Acesso Norte, o acesso a vários pontos da cidade, inclusive ao próprio estádio, tem um projeto selecionado de quinhentos e setenta milhões (R$ 570 milhões), o BRT, já contratado com a Caixa Econômica Federal. É a hora de tirar o projeto do papel, isso foi tema da conversa de hoje (última sexta-feira, 11). Precisa apertar o passo na execução desse BRT, que é muito importante para integrar o aeroporto com outras áreas funcionais da Copa. O plano do terminal turístico já está definido, está na fase de projeto e a execução da obra é rápida e não tem novidade. O que surgiu, inclusive na conversa, é uma demanda da cidade de Salvador e do governo do Estado, que sejam ampliadas as intervenções no aeroporto. Eu sugeri que eles cheguem a tempo sobre o que é necessário ampliar nas intervenções para que nós possamos tratar. Eu diria que Salvador tem evoluído e está se preparando bem para receber a Copa. Quando as obras chegarem num estágio mais evoluído, porque hoje estamos na fase de projeto, de licitação, as pessoas não veem as obras físicas acontecendo. Quando o estádio começar a se verticalizar, e os canteiros de obras começarem a ficar evidentes para a população, essa sensação de primarismo na preparação, ela vai se dissipar.

Tribuna – Setores ligados ao senhor estavam trabalhando para vetar a ida do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para a APO – Autoridade Pública Olímpica. O que tem acontecido?
Orlando –
Meirelles é uma pessoa com quem eu tenho uma relação muito boa, uma relação muito próxima, nós nos aproximamos durante a campanha do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos, em algumas viagens internacionais da campanha. O Meirelles tinha um papel extraordinário na campanha, foi uma intervenção que ajudou a dar segurança à comunidade esportiva internacional quanto à capacidade econômica do Brasil de realizar os jogos. Então, a relação nossa é de muita proximidade. Eu não tenho competência, sequer, de discutir a indicação de autoridades por um motivo simples. Quem indica, quem decide, é a presidenta Dilma, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, passa por esses personagens, não pelo ministro do Esporte. Portanto, é um tema que está fora da minha alçada e o que está na minha alçada, pelo trabalho que fizemos até aqui, é discutir o modelo de governança do projeto olímpico. Isso, sim, eu tenho obrigação de ajudar e, para mim, esse é o foco, tanto que na próxima semana (esta semana), o Congresso Nacional deve votar a Medida Provisória (MP) 503, que fixa qual é o modelo de governança para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, o meu trabalho vai até aqui, já que esse é um tema que eu tratei durante alguns anos e posso dar alguma contribuição.

Tribuna – Houve um erro na negociação entre o comando do PCdoB e o governo Dilma, já que o senhor tinha interesse em assumir a APO?
Orlando –
Não tenho interesse. Eu sou da política, mas de um partido que se marca pelos projetos coletivos. Inclusive, houve um debate se era mais conveniente que eu continuasse no ministério, se era mais conveniente que eu seguisse em outra tarefa, inclusive a Autoridade Pública Olímpica foi uma tarefa especulada, e a conclusão que meu partido chegou com a presidenta da República foi a de que a contribuição que eu podia dar era a mais efetiva no âmbito do Ministério do Esporte. Qualquer abordagem sobre a Autoridade Olímpica, no que diz respeito ao governo federal, passa pela decisão, pela determinação da presidenta da República e não por uma negociação com o PCdoB, afinal, o que importa é que o projeto seja um projeto vitorioso. Foi muito difícil nós conquistarmos o direito de fazer as Olimpíadas e Paraolimpíadas, e uma marca da nossa campanha foi a união entre os três níveis de governo. Essa união precisa continuar para que nós possamos realizar com sucesso os jogos em 2016.
Colaborou: Romulo Faro/ Tribuna

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