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O governo brasileiro afirmou nesta quinta-feira (22) que “lamenta” o rompimento das relações diplomáticas entre Venezuela e Colômbia, anunciado hoje pelo presidente Hugo Chávez.

“O governo brasileiro vem acompanhando, com atenção e preocupação, os últimos desenvolvimentos envolvendo a Colômbia e a Venezuela, inclusive o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países”, afirma a nota emitida pelo Itamaraty. “O governo brasileiro lamenta essa situação”.

O Ministério das Relações Exteriores confirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou para Chávez para transmitir a “disposição do Brasil de contribuir para a superação das diferenças entre os governos da Colômbia e da Venezuela”.

“Os presidentes Lula e Chávez acordaram continuar a discussão do tema por ocasião da visita, anteriormente planejada, do presidente Lula à Venezuela, em 6 de agosto próximo”, acrescenta o Itamaraty.

A ligação telefônica foi comentada pelo presidente venezuelano também. “Acabo de conversar com o presidente do Brasil, nosso irmão Lula, [que está] preocupado com tudo isso. Ele me deu suas opiniões”, disse Chávez em um ato oficial, sem mais detalhes.

Rompimento

Em resposta às acusações de que guerrilheiros estariam abrigados em território venezuelano, Chávez anunciou hoje o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia.

“Não nos resta outra opção, por dignidade, a não ser romper totalmente as relações diplomáticas com a irmã Colômbia, e isso me produz uma lágrima no coração”, afirmou o presidente da Venezuela, em transmissão ao vivo pela televisão.

Chávez também ordenou “alerta máximo” na fronteira e advertiu sobre o risco de que o presidente colombiano, Álvaro Uribe, movido por seu “ódio contra a Venezuela”, pudesse realizar uma ação militar na região.

“Uribe é capaz de mandar montar um acampamento falso do lado venezuelano só para poder atacá-lo e causar uma guerra”, afirmou. “A uma guerra com Colômbia teríamos que ir chorando, mas iríamos.”

O presidente venezuelano fez seu pronunciamento ao mesmo tempo em que a OEA, em Washington (EUA), concluía a sessão na qual o representante colombiano, Luis Alfonso Hoyos, tinha exposto fotos e mapas com o objetivo de provar que haveria cerca de 1,5 mil guerrilheiros acampados no país vizinho, solicitando que uma comissão internacional visitasse os locais em curto prazo.

As relações bilaterais já estavam “congeladas” há um ano, por decisão da Venezuela, e se deterioram desde o anúncio das denúncias apresentadas hoje.

 

OEA pede calma

Depois da manifestação de Chávez, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, pediu que os dois países “acalmem os ânimos” para “buscar um caminho”.

De sua parte, o governo da Colômbia afirmou que não vai realizar movimentos militares em resposta ao rompimento anunciado por Chávez.

Desde o Equador, o vice-presidente eleito da Colômbia, Angelino Garzón, afirmou que o próximo governo vai buscar uma reaproximação com Chávez.

“Faremos todo o possível e utilizaremos todos os amigos que temos em diferentes países do mundo e buscaremos todos os mecanismos diplomáticos para melhorar e fortalecer as relações com todos os países da região, incluindo a Venezuela”, afirmou Garzón.

Adversários de Chávez criticam ruptura

Setores da oposição venezuelana rejeitaram a ruptura das relações com a Colômbia, enquanto líderes empresariais pediram “ponderação” na condução da crise bilateral.

O dirigente e fundador do partido opositor Primeiro Justiça (PJ), Julio Borges, chamou a situação de “delicada” e disse que a decisão de Chávez seria uma maneira de distrair os venezuelanos de problemas internos rumo ao pleito parlamentar de 26 de setembro.

“Chávez tem uma mentalidade militar. Sempre precisa de um inimigo e, se não tem, inventa um. Este é um governo que sempre pensa na ruptura, no choque”, afirmou Borges em declarações à agência EFE.

O secretário-geral do social-cristão Copei-Partido Popular, Luis Carlos Solórzano, solicitou ao Governo de Chávez que permita a verificação internacional das denúncias colombianas.

José Rozo, líder da entidade patronal Fedecámaras no estado de Táchira, na fronteira com a Colômbia, expressou sua preocupação com a “grave” situação com o país vizinho.

“O dano [à economia da fronteira] não tem nenhum perdão, porque milhares de postos de trabalho estão sendo perdidos”, declarou Rozo à EFE por telefone.

O congelamento das relações bilaterais desde julho de 2009 teve grande impacto no setor comercial, que chegou a registrar uma troca comercial de quase US$ 6 bilhões em 2008.

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