O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), adiantou os pontos centrais do relatório sobre a violência contra povos indígenas 2009, indicando que no Estado do Mato Grosso do Sul ocorreram 54% dos assassinatos de indígenas no país.
Dos 60 casos registrados no país no ano passado, 33 ocorreram naquele Estado da Federação. Além desse dado macabro, o governo liderou outras formas de violências e descasos, omisso nos conflitos por terra e violência, em que se opõem o agronegócio e o latifúndio – com apoio dos ruralistas e dos três poderes – e os povos indígenas, como vítimas.
Nos últimos cinco anos, os relatórios publicados trazem diferenças flagrantes em relação aos demais Estados. As denúncias ganharam tal repercussão na mídia brasileira e internacional que o Conselho do Cimi, liderados por seu presidente, dom Erwin Kräutler, e o secretário geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, visitaram comunidades Guarani Kaiowá em março deste ano. O objetivo era conhecer de perto sua realidade e demonstrar o apoio da Igreja Católica a esses grupos humanos.
O racismo contra a população indígena no MS é institucional, denunciou a pedagoga Iara Tatiana Bonin, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Sua pesquisa relacionou as estratégias de confinamento da década de 1920 com as atuais invasões de terras, ameaças e crimes praticados por grandes proprietários contra os Guarani Kaiowá, que “constituem hoje a maior etnia do país, e também aquela que sofre mais intensamente os efeitos de um modelo de ocupação e de exploração de terras para o agronegócio”.
A omissão do poder público está presente em 133 casos de violência registrados, como nos 41 casos de desassistência à saúde, das quais 22 vítimas são do povo Xavante, da comunidade Parabubure, no município de Nova Xavantina (MT).
Segundo os missionários, as mortes ocorreram em decorrência de diversas falhas no atendimento à saúde, num período de apenas dois meses, por não haver transporte para o trabalho e a prevenção das equipes de saúde, e faltarem colchões, medicamentos e materiais básicos, até de higienização na região.
Só na comunidade Guarani Kaiowá, de Dourados (MS), foram registrados 90 casos de desnutrição, o mesmo descompromisso que levou nove crianças à morte em São Paulo, no Tocantins e no Paraná.
O relatório mostra um crescente processo de criminalização de lideranças e um aumento das ações contra indígenas em diversos Estados do país. No caso dos Tupinambá, cinco indígenas da comunidade da Serra do Padeiro, município de Buerarema (BA), foram capturados pela Polícia Federal, algemados, imobilizados no chão e depois agredidos com gás de pimenta e choques elétricos na região dorsal e genital.
A ação tinha por objetivo intimidá-los para que saíssem da terra que ocupam. Da mesma forma, 35 lideranças Xukuru, de Pernambuco, foram indiciadas, processadas por diversos crimes, por causa do reconhecimento de seu território.
Violência e danos ao meio ambiente, decorrentes da morosidade na demarcação das terras indígenas, dos conflitos fundiários, de obras como hidrelétricas, programas de ecoturismo, gasodutos, exploração mineral, ferrovias e hidrovias também aparecem no relatório. Esses projetos impactam territórios indígenas, afetam a vida de diversos povos, inclusive os que não têm contato com a sociedade envolvente.

ALC/Notícias Cristãs

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