
Foto: Raphael Falavigna/Terra
Terra/Marsílea Gombata
Foi questão de segundos. Bastou Marina Silva marcar posição contra o casamento gay em entrevista a portais da internet, na última terça-feira (1º), para que dezenas de tweets críticos pipocassem na rede. Em alguns casos, os internautas anunciavam mesmo a intenção de desistir de votar na pré-candidata do PV à presidência da República. “Marina Silva, você acabou de perder um voto”, protestou LiliOliveira no Twitter.
Mas o universo virtual não reflete por completo a realidade, creem estudiosos do voto no Brasil. Apesar de revelar algumas posições vistas como conservadoras e contrárias às diretrizes de seu partido, sempre liberal em relação aos costumes, a pré-candidata verde consegue manter os pés firmes em dois campos: tem o apoio tanto de conservadores quanto de eleitores mais liberais.
Enquanto o primeiro grupo veria nela atributos coerentes com seus valores e fé, o eleitorado liberal relevaria o aparente conservadorismo moral de Marina e preferiria apostar na agenda ambiental da candidata. “Marina teve uma saída inteligente, que neutraliza a polêmica”, observou Antônio Alkmim dos Reis, cientista político da PUC-Rio. Segundo ele, ao se dizer contrária ao casamento gay, mas propor um plebiscito para discutir o tema, Marina coloca a questão em plano secundário. “O tema fica reduzido tanto para o eleitor conservador quanto para o liberal”.
Presidente do diretório do PV em São Paulo, Maurício Brusadin defendeu a posição da candidata, mesmo que divergente da filosofia dos verdes. “Não vejo contradição alguma (entre Marina) e as teses do partido. Haveria se tivéssemos uma candidata que defende economia do passado, emprego em chão de fabrica”, ressaltou Brusadin. “É diferente de Dilma (Rousseff), que lá atrás era a favor do aborto e agora é contra. (…) Falar o que o povo quer ouvir é a ‘morte da política'”.
Para explicar a convivência entre as convicções de Marina e os dogmas do partido, Brusadin lembrou que o PV criou uma cláusula de consciência, no fim do ano passado. Essa cláusula permite que filiados tenham opiniões contrárias ao PV em temas polêmicos como aborto, religião, legalização de drogas, casamento gay etc.
Para o cientista político da USP Rogério Arantes, o debate em torno do casamento gay é um fator menor e não vai definir o voto diante de um projeto maior. “Não creio que ela vai perder votos, pois seu próprio partido está mirando questões maiores do que essa”.
Um dos coordenadores da campanha de Marina e das alianças estaduais do partido, o presidente da legenda no Rio de Janeiro, Alfredo Sirkis, amenizou a polêmica e disse que a pré-candidata se posiciona contra a cerimônia, mas não contra a união entre pessoas do mesmo sexo. “É um consenso do partido apoiar a união civil. O problema que ela tem é em relação à utilização da palavra casamento, que tem conotação religiosa”, disse.
Adversários
A discussão em torno do casamento homossexual dificilmente será abordada em debates com os rivais Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), avalia o cientista político Alckmin, da PUC-Rio. “O tema, dentro da campanha, não será explorado pelos adversários, que buscarão polarização. Além disso, o assunto não constitui um divisor de águas na corrida”,.
A polarização entre PT e PSDB, na opinião do especialista João Paulo Peixoto, da UnB, ainda dará mais espaço para candidata verde nessas eleições. “Marina ainda vai crescer muito, pois é amena e está à parte da disputa entre Serra e Dilma”, aposta