Globo

O império caiu, é verdade. Mas foi de pé. Maltratado e massacrado por ofensas como reino do colesterol dias antes do duelo, o Flamengo não conseguiu o improvável. Venceu por 2 a 1 o Universidad de Chile, em Santiago, mas despediu-se da Taça Libertadores.

O campo do acanhado estádio Santa Laura funcionou como um labirinto para os rubro-negros se esconderem das pedradas e “moedadas” que receberam do início ao fim do jogo. A vontade prometida e cumprida por pouco não propiciou uma reviravolta.

O Rubro-Negro precisava vencer por dois gols de diferença, ou por um a partir de 4 a 3. E fez um ótimo primeiro tempo. Em jogada combinada de Love e Adriano, o camisa 9 abriu o placar. No segundo tempo, em um dos únicos vacilos defensivos, Montillo fez jogada genial e empatou. Em jogada igualmente brilhante, Adriano fez 2 a 1. Era pouco.

A dupla tentou até o último suspiro impedir o fim iminente de seu reinado. As chances perdidas, as bolas erradas e o suor derramado tiveram um gostinho de “tarde demais”. O denominado e festejado Império do Amor conclui o primeiro semestre amargando derrotas no Campeonato Carioca e na Libertadores. A permanência de ambos é incerta, quase impossível.

Talvez Adriano siga sozinho no reino. Mas sem as regalias e o poder de antes. Se o título brasileiro de 2009 o tornou poderoso, quase incontrolável, o fracasso no primeiro semestre, cujo ponto alto foi a exclusão da Copa do Mundo, devolve-o ao mundo dos mortais. E como tal terá de encarar a tristeza de uma torcida que, mais uma vez, adia o sonho do bicampeonato do torneio continental.

Ao ex-invicto Universidad de Chile, as palmas. Longe de ser brilhante, o time dirigido pelo uruguaio Gerardo Pelusso segue adiante no sonho do inédito título. Mas já pode colocar no currículo que bateu o campeão brasileiro. Foram quatro jogos, com duas vitórias, um empate e uma derrota. A classificação embaixo do braço o credencia para enfrentar o Chivas. As partidas das semifinais acontecem dias 28 de julho e 4 de agosto. Até lá, o Flamengo terá tempo para tentar se reerguer e buscar, via Campeonato Brasileiro, voltar à competição que, mais uma vez, saiu antes do planejado.

Bicicleta de Adriano e gol de Love

A tal atitude diferente prometida por Rogério Lourenço deu as caras nos primeiros minutos. Sobretudo com Adriano, que pediu a bola a todo instante. Foi dele o passe de letra para Vagner Love chutar para fora, aos dois minutos.

O time chileno respondeu em falta da intermediária. Fernandez ganhou facilmente de Willians no alto e Bruno fez boa defesa.

Vagner Love comamora gol do FlamengoVagner Love comemora gol do Flamengo (Foto: EFE)

Mas a iniciativa da partida continuou com os visitantes. A marcação forte na intermediária dificultou a saída de bola da U. Kleberson arriscou de longe, mas mandou por cima, aos 19.

O habilidoso Montillo começou a incomodar e trouxe consigo a inflamada torcida. Juan foi ao chão após ser atingido com uma moeda na cabeça. Em um lance que o árbitro não viu, Bruno agrediu Rodrigues com um chute dentro da área.

Se Montillo articulava os chilenos, Michael desmontava os ataque do Flamengo. Antes dos 35 minutos, ele havia errado sete passes. Já o camisa 10 do Universidad driblou Léo Moura aos 36 e chutou no travessão.

Diante da inoperância de Michael e Kleberson, Adriano fez a função e lançou o próprio Michael. Ele bateu forte, e Pinto espalmou para escanteio. Na cobrança, a bola sobrou para Léo Moura, que fuzilou e acertou o travessão.

O fim do primeiro tempo encaminhava-se para um empate sem gols quando a genialidade do Imperador apareceu. Ele recebeu de Kleberson e, de costas para a baliza, serviu Vagner Love de bicicleta. O artilheiro do amor cabeceou no canto direito do goleiro e abriu o placar.

Empate de belas jogadas favorece La U

No intervalo, a torcida anfitriã deu um péssimo exemplo. Atirou moedas, pedras e até bola de golfe nos rubro-negros. Uma delas acertou e feriu Ronaldo Angelim no rosto.

Mordido e literalmente machucado, o time voltou para o segundo tempo com Petkovic na vaga de Michael. E Adriano ainda mais motivado. Ele iniciou a jogada, Juan cruzou e Vagner Love cabeceou por cima, aos dois minutos.

O Flamengo continuou melhor. Pet jogou entre as pernas de Victorino, avançou, mas finalizou com a perna esquerda para fora. Aos nove, o sérvio cobrou falta da intermediária, um zagueiro desviou para trás e Love furou na entrada da pequena área.

Nas poucas vezes em que furou o bloqueio, Olivera deu um chapéu em David e bateu cruzado. Bruno espalmou e Juan completou o serviço.

Mas as chances eram todas do time carioca. Willians levantou na área e o lindo cabeceio de Adriano só não entrou porque o goleiro Pinto se esticou e colocou para fora. Àquela altura as bolas reservas haviam sumido.

Montillo comemora gol do Universidad de ChileMontillo festeja golaço dos chilenos. (Foto: Reuters)

Só que La U tinha Montillo. O argentino driblou Juan, aos 28, avançou com espaço e deu um lindo toque por cobertura. Adiantado, Bruno não alcançou, e a bola entrou no ângulo direito.

Parecia perdido. Mas o Flamengo também tem seu craque. Adriano ajeitou de calcanhar e Léo Moura devolveu da mesma forma. O Imperador chutou forte de perna esquerda e fez 2 a 1, aos 32. Os minutos finais foram dramáticos. Adriano cabeceou nas mãos do goleiro chileno aos 40.

Willians foi expulso aos 44 ao acertar uma cotovelada involuntária em Putch. No último lance, Vinícius Pacheco entrou na área, mas em vez de chutar ou cruzar preferiu se jogar e arruinar, de uma vez por todas, o primeiro semestre do Flamengo. Como último ato a se relatar, Vagner Love também recebeu cartão vermelho por interpelar agressivamente o árbitro Roberto Silvera após o apito final.

  UNIVERSIDAD DE CHILE 1 x 2 FLAMENGO
Miguel Pinto; Rodrigues, Victorino, Olarra, Rojas; Seymour, Fernandez, Rojas, Eduardo Vargas (Puch), Montillo (Contreras) e Nelson Pinto; Olivera (Rivarola). Bruno; Léo Moura, David, Ronaldo Angleim e Juan; Toró (Vinícius Pacheco), Willians, Kleberson (Bruno Mezenga) e Michael (Petkovic); Vagner Love e Adriano
Técnico: Gerardo Pelusso Técnico: Rogério Lourenço
Gols: Vagner Love, aos 46 minutos do primeiro tempo; Montillo, aos 28, Adriano, aos 32 minutos do segundo tempo
Cartões amarelos: Rodrigues, Nelson Pinto, Montillo (Universidad de Chile), Juan, Willians (Flamengo). Cartões vermelhos: Willians e Vagner Love
Estádio: Santa Laura, Santiago. Data: 20/05/2010. Árbitro: Roberto Silvera (URU)
Auxiliares: Miguel Nievas (URU) e Carlos Pastorino (URU)

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