A viúva do cartunista Glauco, assassinado em São Paulo esta semana, fala pela primeira vez sobre o crime, que ela viu de perto.
Um dos filhos de Glauco, Raoni, também foi morto. O criminoso era conhecido da família.
Uma madrugada de pesadelo, tortura e assassinatos.

O Fantástico entrevistou com exclusividade, esta tarde, a viúva do cartunista Glauco Vilas Boas, morto a tiros na última sexta-feira em Osasco, na grande São Paulo. Bia viu tudo de perto.

Repórter: Eu gostaria de começar essa entrevista perguntando se você tem alguma ideia do motivo desse crime.

Beatriz Galvão: Não, não tenho a menor ideia do motivo desse crime. É uma coisa que eu nunca pude imaginar. Glauco nunca teve inimigos.

Bia: Era mais ou menos uma meia-noite e meia, estava eu e o Glauco deitados, assistindo a um filme na televisão. Minha filha chegou me chamando pelo lado de fora da casa. Eu achei estranho, porque ela tem a chave da minha casa, então eu falei “ué?”.

Quando eu desci o cara já estava com um revólver na cabeça dela.

Repórter: O Cadu?

Bia: O Cadu.

O estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, era um conhecido da família, mas não um amigo íntimo, segundo Bia.

Porque nem reconhecer ele na hora que ele chegou com o revólver eu reconheci.

Cadu frequentava a igreja Céu de Maria, fundada por Glauco.

Segundo Bia, Cadu estava afastado dos cultos havia seis meses. O jovem de classe média alta tinha procurado a igreja pra se livrar das drogas.

Naquela noite, Cadu parecia alterado.

Com uma expressão transtornada, com uma cara de drogado, totalmente fora de si.

Quando o Glauco desceu, ele já chegou e já deu um soco na cara do Glauco, já derrubou ele.

Bia conta que se ajoelhou e implorou para que Cadu parasse.

Aí, nesse momento ele pegou e tacou a coronhada do revólver na minha cabeça e me xingou, me jogou pro lado.

Ela fazia ameaças.

“Para vocês verem que eu não estou brincando, olha aqui”. Jogou uma bala do revólver no chão e fez o Glauco pegar a bala e entregar pra ele.

Repórter: Houve tortura antes do assassinato?

Bia: Houve, houve tortura.

Bia: Ele falava assim: “você é um desgraçado”, só xingava o Glauco. Parecia uma pessoa com um ódio muito grande, sabe?

Cadu dizia ser Jesus Cristo? Segundo Bia, não exatamente.

Ele queria que o Glauco afirmasse que ele era o poderoso. Aí eu mesma afirmei que ele era Jesus. Eu falei: “Não, pra mim você é Jesus”. O Glauco em nenhum momento afirmou.

Quando Cadu levava Glauco em direção à rua, chegou Raoni, filho do cartunista e enteado de Bia.

Aí ele falou: “O que você está fazendo com o meu pai?”, e foi pra cima do cara, e o cara já matou o Raoni primeiro, depois o Glauco. A sangue frio, à queima roupa. Ele deu um tiro no rosto do Glauco. Na cara.

A família de Glauco autorizou a entrada de nossa equipe na chácara onde eles viviam, num terreno grande, 18 mil metros quadrados, a pouco menos de 20 Km do Centro de São Paulo.

Ali fica a sede da igreja Céu de Maria, fundada por Glauco. E foi por aquele portão que, segundo a família, o assassino entrou, na madrugada da última sexta-feira. Ele passou por esse caminho até ter acesso à casa do cartunista. Depois de discutir com a família, saiu por aqui com Glauco até encontrar Raoni, filho do cartunista. Neste ponto, segundo a família, pai e filho foram mortos.

De acordo com a polícia, Cadu acertou quatro tiros em Glauco e quatro em Raoni.

Segundo a viúva, o estudante entrou na casa com outro rapaz. O nome dele é Felipe Lasi, 23 anos. Ele se apresentou à polícia.

Me dava a impressão que ele não estava também muito normal, porque ele estava com o olho muito arregalado, sabe?

Enquanto o Cadu fazia toda essa barbaridade, ele ficou sentado no sofá. Eu falei ajuda, ajuda, por favor. Ele falou que não.

Felipe é dono de um carro, encontrado neste sábado com a frente amassada. O advogado dele alegou hoje que o rapaz foi obrigado a levar Cadu até a chácara. Viu as agressões, mas teria conseguido fugir antes dos tiros.

Não é o que diz a viúva. Após o assassinato, ele levou o Cadu embora dentro do carro dele.

A viúva conta que ontem à noite recebeu uma ligação de Cadu.

Ele falou: “Oi, Bia, é o Cadu”. Aí eu comecei a gritar, desesperada. “Como você tem coragem de ligar no meu telefone?”. Daí ele desligou.

Glauco era adepto da doutrina do Santo Daime, originária da Amazônia.

Imagens inéditas, gravadas pelo Fantástico há três anos, mostram uma das cerimônias e o chá alucinógeno sendo servido.

Aqui, Glauco aparece com uma vela.

O Glauco dizia assim: “Eu gosto tanto da minha vida, gosto tanto da minha família, gosto tanto da minha casa”. Você seria capaz de perdoar?

Bia: O perdão do cristo, mesmo, aquele, eu ainda não consegui sentir em meu coração.
Ela busca no estilo de Glauco a força pra superar a tragédia.

Bia: Ele sempre acreditava que o que ajudava era a alegria, o bem estar vinha da alegria, sabe?

 Fantástico

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