Em meio à briga de acionistas, o grupo Odebrecht apresentou o maior lucro da sua história.

Em 2010, o ganho líquido da Odebrecht S/A e suas controladas foi de R$ 2,7 bilhões, um aumento de quase 180% sobre o resultado do ano anterior quando o lucro alcançou quase R$ 1 bilhão. Foi o melhor resultado desde a fundação da construtora baiana, em 1944, por Norberto Odebrecht. No ano passado, a receita bruta do grupo alcançou R$ 53,8 bilhões, uma alta de 27% sobre o desempenho de 2009.

O lucro recorde ocorre em um momento em que Odebrecht vive uma rixa entre os acionistas. No fim de 2010, eclodiu uma disputa envolvendo os dois maiores acionistas do grupo – os Odebrecht e os Gradins. A disputa foi parar na Justiça.

A família Gradin, detentora de 21% das ações do grupo, entrou com processo no Judiciário baiano para impedir a venda de sua participação acionária, uma exigência da família Odebrecht, detentora de 63% das ações do grupo.

A discordância é em relação ao acordo de acionistas assinado em 2001 por Victor Gradin, um executivo de confiança da família Odebrecht que ficou cuidando da gestão financeira do grupo a partir da década de 1970 até meados dos anos 1990. Os filhos dele, Bernardo e Miguel, que ocupavam cargos executivos nas empresas do grupo até o fim de 2010, querem garantir o controle sobre as ações até 2021, quando vence o acordo.

Foto: AE Ampliar

Marcelo Odebrecht, executivo e acionista: briga com os sócios

A família Odebrecht, liderada desde 2009 por Marcelo Odebrecht, herdeiro da terceira geração, já deixou claro o interesse de tomar as ações de forma a distribuí-las aos novos acionistas.

A expectativa é que a juíza encarregada do caso marque uma audiência de conciliação entre as partes nas próximas semanas, depois de uma série de medidas judiciais por parte dos Odebrecht tentando suspender os efeitos do processo.

Uma possível cisão parcial dos negócios ou de empresas do grupo não é descartada a depender do resultado de acordos extrajudicial, como arbitragem, disseram pessoas que acompanham o processo na Justiça.

O resultado da disputa é aguardado com grande expectativa uma vez que o grupo Odebrecht apresentou um crescimento expressivo ao longo da década passada, principalmente nos oito anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em 1989, quando perdeu a sua primeira eleição presidencial, Lula recebeu o apoio do empresário Emílio Odebrecht, filho do fundador e atual presidente do conselho de administração da Odebrecht.

O quadro é bem diferente do fim da década passada. Em 1999, a Odebrecht fez um forte ajuste em seus negócios de forma a reduzir seu endividamento, atuando apenas nas áreas de construção pesada e petroquímica. A partir de 2006, voltou a diversificou os negócios, ampliando o escopo para as atividades de açúcar e álcool, óleo e gás, engenharia ambiental, empreendimentos imobiliários, entre outros.

Ajuda do governo

Mas o grande salto recente da Odebrecht se deu entre os anos de 2009 e 2010. Empresas ligadas ao grupo, com sede em Salvador, na Bahia, fecharam acordos estratégicos com empresas e fundos ligados ao governo. O maior deles foi com o Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS), um fundo administrado pela Caixa Econômica Federal, que injetou quase R$ 3 bilhões em projetos liderados pelo grupo Odebrecht. As informações constam no balanço do grupo de 2010.

A primeira operação do FGTS consistiu em um aporte R$ 650 milhões para ficar com 26,5% da Foz do Brasil, empresa voltada à área de saneamento ambiental. Depois, o fundo de investimento colocou R$ 450 milhões na Embraport, empresa controlada pelo grupo e a Dubai Ports World, que irá construir um dos maiores terminais privados, no Porto de Santos.

Mais adiante, em setembro de 2010, o FI-FGTS fez a maior operação. Depois de uma série de mudanças societárias, o fundo subscreveu totalmente o aumento de capital de R$ 1,89 bilhão da OTTP, a Odebrecht TransPort Participações, criada para consolidar os negócios de concessões de rodovias, transportes sobre trilhos e portos do grupo.

Em 2010, a Braskem, a petroquímica do grupo, fechou acordo para aquisição conjuntamente com a Petrobras da empresa petroquímica rival Quattor e da empresa Sunoco Chemicals.

Foi também o ano de aquisição das usinas de açúcar e álcool da Brenco pela ETH, empresa do grupo Odebrecht. O negócio consistiu na conclusão dos investimentos nas usinas que tinham recebido R$ 1 bilhão em empréstimos do BNDES.

Em abril de 2010, os contratos com o banco tiveram seus prazos de carência para pagamento dos juros e do principal esticados em mais três anos. Houve ainda a liberação de um empréstimo adicional do BNDES da ordem de R$ 600 milhões. Portal IG

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