O advogado da iraniana condenada à morte por apedrejamento por adultério afirmou a um jornal britânico que sua cliente foi agredida e torturada para que aceitasse admitir a culpa na televisão iraniana.

Em uma entrevista exibida na noite de quarta-feira no Irã, em um programa político que denunciou a “propaganda dos meios de comunicação ocidentais”, uma mulher apresentada como Sakineh Mohamadi Ashtiani, 43 anos, afirmou que um homem com o qual tinha uma relação propôs a morte de seu marido, e que ela permitiu que ele cometesse o crime na sua presença.

A mulher, que falava em azeri (dialeto turco) e que teve as palavras traduzidas ao persa, estava coberta por um xador negro que permitia ver apenas o nariz e um dos olhos.

“Ela foi agredida violentamente e torturada até aceitar aparecer diante das câmeras”, afirmou Hutan Kian, advogado da mulher, em uma entrevista publicada no site do jornal britânico The Guardian.

Itamaraty confirma pedido de asilo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu a possibilidade de recebê-la como refugiada no Brasil. O Itamaraty disse à “Folha. com” que não mandou carta ao Irã, mas considera a “gestão” uma oferta formal de asilo à viúva Sakineh Ashtiani, 43. Para a diplomacia, “gestão” é quando o ministro das Relações Exteriores ou mesmo o presidente de um país manda o embaixador procurar a chancelaria da capital onde atua para estabelecer relações formais entre os países.

Assista à “confissão” de Ashtiani

Foi o que o Brasil fez, segundo o Itamaraty. O presidente Lula e, na sequência, o ministro Celso Amorim ordenaram que o embaixador brasileiro em Teerã, Antonio Salgado, se encontrasse com a chancelaria iraniana oferecendo asilo à Sakineh.

Mais cedo nesta quinta-feira (12), o embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, negou em entrevista à Agência Brasil que tenha recebido oferta formal por escrito do governo brasileiro a Teerã de asilo ou refúgio político para a mulher.

Sakineh Mohamadi Ashtiani foi condenada em 2006 por ter mantido “relações ilegais” com dois homens depois da morte do marido. A sentença de apedrejamento provocou uma onda de indignação em todo o mundo e foi suspensa temporariamente pelo ministro da Justiça, Sadeq Larijani.

O advogado da iraniana manifestou o temor de que o governo iraniano execute a cliente, que teve a pena transformada em morte por enforcamento no mês passado.

Raio-x do Irã:

  • Nome oficial: República Islâmica do Irã
    Capital: Teerã
    Tipo de governo: República Teocrática
    População: 66.429,284
    Idiomas: Persa e dialetos persas 58%, turcomano e dialetos turcos 26%, curdo 9%, luri 2%, balochi 1%, árabe 1%, turco 1%, outros 2%
    Grupos étnicos: Persas 51%, azeris 24%, e gilakis mazandaranis 8%, curdos 7%, árabes 3%, lurs 2%, balochis 2%, turcomenos 2%, outros 1%
    Religiões: Muçulmanos 98% (xiitas 89% e sunitas 9%), outras (que inclui zoroastras, judeus, cristãos, e bahais) 2%
    Fonte: CIA Factbook

Na semana passada, um alto funcionário judicial iraniano, Mossadegh Kahnemui, afirmou que Sakineh, “além de duplo adultério, também foi considerada culpada de complô para matar o marido”.

Execuções

De acordo com a Anistia Internacional, o Irã é o segundo país que mais executa condenados no mundo, atrás apenas da China. Segundo o último levantamento do órgão, o país governado por Mahmoud Ahmadinejad matou 388 pessoas em 2009 e é o líder em execuções no Oriente Médio.

Assassinato, adultério, roubo armado, apostasia e tráfico de drogas são crimes puníveis com a pena de morte pela lei islâmica do Irã, implementada desde a Revolução de 1979.

A morte por apedrejamento foi sentenciada muitas vezes depois de 1979, mas só foi oficializada no Código Penal do país em 1983. Até 1997, pelo menos dez pessoas foram mortas nessa modalidade por ano, segundo dados da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch.

O ex-presidente moderado Mohammad Khatami conseguiu reduzir a aplicação da punição, mas a sentença voltou a ser usada mais frequentemente depois que Ahmadinejad chegou ao poder.

Nas condenações por apedrejamento no Irã, as mulheres são enterradas até o busto e homens atiram pedras pequenas o bastante para não matar rapidamente. No caso dos homens, eles são enterrados até a cintura, com os braços livres para que possam se defender.

* Com as agências internacionais e a Folha.com

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