O calvário vivido pelas mães de Luziânia continua após 64 dias do sumiço do primeiro de seis jovens desaparecidos no Parque Estrela Dalva. Mais uma vez, ontem, elas uniram forças para cobrar respostas dos investigadores sobre esse mistério. Em audiência pública com representantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Desaparecimento de Crianças e Adolescentes, na Assembleia Legislativa de Goiás, em Goiânia — distante 255km de Luziânia —, cinco das seis mães pediram agilidade ao secretário de Segurança Pública de Goiás, Ernesto Roller, e ao titular do Departamento Judiciário de Goiás, Josuemar Vaz de Oliveira. O encontro contou também com denúncias de pais sobre a ação de grupos de extermínio em outras cidades goianas. Segundo o delegado, os inquéritos de investigação serão abertos e, caso confirmada a atuação de assassinatos por policiais militares, a punição vai acontecer. “Doa em quem doer”, garantiu Roller.

As mães de cinco dos seis jovens desaparecidos foram à audiência da CPI - (Iris Roberto/Esp.CB/D.A Press )  
As mães de cinco dos seis jovens desaparecidos foram à audiência da CPI

Passados mais de dois meses desde o primeiro sumiço no bairro carente de Luziânia, as mães agora lutam não só para encontrar seus garotos, mas também para não deixar o caso cair no esquecimento. O medo de voltarem a ser abandonadas pelas autoridades antes da solução do mistério começa a assombrá-las. “Nas reuniões aparecem mães que estão há anos sem ver os filhos”, destaca Lúcia Maria Sousa Lopes, 54, mãe de Márcio Luiz Sousa Lopes, 19, desaparecido desde 18 de janeiro. A percepção de um alto número de desaparecidos é comprovada pela chefe da Delegacia de Proteção da Criança e do Adolescente (DPCA), Adriana Accorsi. Ela alerta sobre o aumento no número de sumiços na capital goiana. “Desaparecimento é método dos mais covardes de ocultar os crimes. Em Goiânia, o número tem aumentado e registramos de 120 a 150 casos de sumiços por ano. A maioria está ligada ao uso de entorpecentes, seguida de abuso sexual dentro de casa, envolvimento com atos ilícitos e relacionamentos amorosos”, definiu.

A fim de justificar os crimes ocorridos no Entorno do Distrito Federal, o secretário de Segurança Pública explicou que há um deficit no orçamento para atender toda a demanda que se alojou ao redor da capital federal. “Não há como competirmos com o Distrito Federal. O DF tem metade da população que temos em Goiás, mas conta com um orçamento da União duas vezes maior para investir em segurança pública”, calculou Roller. Indagado sobre o envolvimento de policiais militares nos desaparecimentos de Luziânia, o secretário foi categórico. “Todas as linhas são investigadas e, se for confirmada a denúncia, os responsáveis serão punidos porque a lei vale para todos”, avisou.

Alvorada do Norte
A dor de não ter mais os filhos por perto é vivida por pais de Alvorada do Norte — município goiano distante 252km de Brasília e 300km de Luziânia. Desesperados, eles foram à reunião da CPI do Desaparecimento de Crianças e Adolescentes e suplicaram por socorro mesmo sabendo que os filhos são adultos e estão fora do perfil da comissão. Rosalino Xavier de Brito, 55, morador de Alvorada do Norte, está desesperado. “Meu sobrinho desapareceu, mas foi encontrado dias depois morto com 28 tiros. No sepultamento dele, meu primo foi pego e está desaparecido. Testemunhas o viram sendo colocado em uma viatura policial. A poucos dias, outro primo desapareceu. Há suspeita de uma lista com nove nomes para o extermínio”, contou Brito, relacionando as mortes a fazendeiros da região que teriam mandado assassinar ladrões.
O delegado Josuemar Vaz de Oliveira confirma a possibilidade de grupos de extermínio em Alvorada do Norte e garante que, se houver, eles serão detidos. “O extermínio será investigado porque os desaparecidos têm o perfil dessas ações”.

Compartilhe