do Diário Conquistense
A comunidade discutiu estratégias de mobilização

Moradores dos bairros Ibirapuera, Bruno Bacelar, Nenzinha Santos, Alvorada e Nossa Senhora Aparecida se reuniram na tarde deste domingo (12) no salão da Igreja São João Batista, no Bruno Bacelar, para discutir estratégias de mobilização contra a medida do governador Rui Costa e do secretário de Educação Walter Pinheiro, que decidiram pelo fechamento do colégio estadual Nilton Gonçalves, que há 17 anos atende à comunidades desses bairros.

A notícia do fechamento repercutiu negativamente e a comunidade escolar – professores e alunos – reclama principalmente da natureza antidemocrática da medida adotada pelo núcleo regional de educação, que não realizou nenhum diálogo antes de entregar o presente de aniversário da cidade. Durante a reunião, foi perceptível o sentimento unânime de revolta das dezenas de mães e pais de alunos, que consideram “inexplicável” a decisão do governo e estão se articulando para uma grande mobilização contra o fechamento.

Na reunião – à qual estiveram presentes professores e os vereadores Jorge Bezerra e Lúcia Rocha – foi aprovada a redação de uma Carta Aberta à comunidade na qual se afirma nada haver de estranho neste comportamento do governador Rui Costa, que estaria mantendo “o mesmo tratamento dado historicamente às populações menos favorecidas pelo Estado: não precisa dialogar, não precisa respeitar e ouvir suas demandas. Esta sempre foi a regra. A exceção é o contrário, são momentos raros”.

Abaixo, a íntegra da Carta Aberta:

A comunidade escolar do colégio Nilton Gonçalves, as comunidades dos bairros Ibirapuera, Bruno Bacelar, Nenzinha Santos, Alvorada, Nossa Senhora Aparecida e a Associação de Moradores do Bruno Bacelar declaram publicamente, com pesar e muita tristeza, o lamentável fato do fechamento de uma escola que serve a estas comunidades há mais de 17 anos.

Reconhecemos que não há nada de estranho na forma como o governador Rui Costa, por meio de sua Secretaria Estadual de Educação – SEC, está conduzindo o fechamento do colégio Nilton Gonçalves. Este mantém o mesmo tratamento dado historicamente às populações menos favorecidas pelo Estado. Não precisa dialogar, não precisa respeitar e ouvir suas demandas. Esta sempre foi a regra. A exceção é o contrário, são momentos raros.

Trata-se de escola de periferia, devem estar pensando. Os alunos e pais se viram para conseguirem acesso a outras escolas. Aliás, o discurso em nota afirmando que está garantido o acesso dos estudantes a outros estabelecimentos de ensino é vago, frio e protocolar. É a mesma lógica de quem fecha uma escola numa cidade pequena do interior e diz que está assegurado o acesso a outra no município vizinho a quilômetros de distância.

Não importa como chegarão, com que esforços, com que sacrifícios. Mas o direito está garantido. Não importa se a escola atende a uma comunidade de mais de 15 mil pessoas. Não importa se quase 800 alunos estão matriculados e perderão os laços de pertencimento com o lugar que estudam. Não importa se os alunos do turno noturno terão que vencer o medo da violência e o cansaço do dia de trabalho para retornarem para suas casas numa distância ainda maior. Não importa que nossa educação brasileira seja frágil, marcada por números de evasão enormes e que, criar mais dificuldades, só eleva estes números.

Não importa se entre essas comunidades estão famílias que precisam de ensino mais acessível porque as condições socioeconômicas são frágeis. Se entre essas comunidades existem parcelas significativas de sua juventude convivendo com a vulnerabilidade criada pela presença do tráfico de drogas ou com a violência urbana que, lamentavelmente, separa jovens de bairros que se enxergam em oposição e conflito. Nada disso importa. Importa mesmo a lógica fria onde só os números fazem sentido. As pessoas são meros detalhes.

Vitória da Conquista, novembro de 2017, Bahia.

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