De 1935 até 2016 Vitória da Conquista teve nove vereadoras e uma vice-prefeita

Durante todo mês de março, com o tema “Sejamos fortes e corajosas”, o Governo Municipal homenageou as mulheres conquistenses por meio de uma programação que provocou uma reflexão sobre o papel da mulher na sociedade, principalmente em 2017, ano em que Vitória da Conquista tem, pela primeira vez na história, uma mulher eleita e empossada no cargo de vice-prefeita, Irma Lemos. Um fato importante que ressalta o papel da mulher na política conquistense, processo histórico iniciado em 1935, com a eleição da primeira vereadora de Conquista, Dona Zaza.

“Não somos hoje as reclusas do lar, sem outras obrigações que não a do zelo da casa, indiferentes e alheias aos negócios da República. Somos parcelas vivas do engrandecimento nacional. Podemos, também, competir nos pleitos, pugnados pelo direito cívico, contribuindo para a nossa hegemonia defendendo com ardor a causa magna do Brasil…” assim afirmava no panfleto de sua campanha eleitoral, Jeny de Oliveira Rosa, conhecida como Dona Zaza em 1935. Seu mandato ocorreu após a conquista do direito do voto feminino em 1932, lei que foi regulamentada em 1934, tornando as mulheres brasileiras aptas a votarem e serem votadas.

Fotografia do Memorial da Câmara de Vereadores

Apesar da conquista do direito ao voto já passar dos 80 anos, a presença feminina na política conquistense sempre foi tímida e aquém da representatividade eleitoral, mesmo agora, que as mulheres representam mais de50% do eleitorado conquistenses. De lá para cá, apenas 9 mulheres ocuparam uma cadeira de vereadora e o máximo que o município conseguiu eleger foram quatro vereadoras, no ano de 2004: Lúcia Rocha, Irma Lemos, Lygia Matos e Josete Menezes, sendo que apenas três tomaram posse neste ano. Atualmente, a Câmara conquistense conta com três representantes femininas: Lúcia Rocha, Márcia Viviane Sampaio e Nildima Ribeiro.

Se no legislativo a representatividade é pequena, no executivo a primeira candidatura de uma mulher só ocorreu em 1982 com Margarida Oliveira, que na época obteve 14 mil votos, o que foi considerado um feito para época e lhe deu força para se candidatar à deputada estadual, sendo eleita para o mandato de 1991-1995. A  primeira deputada eleita de Vitória da Conquista, foi também eleita, em 1992, como a primeira vice-prefeita de Conquista junto com Pedral Sampaio, mas preferiu não assumir, optando pela conclusão de seu mandato como deputada. Encerrou sua trajetória política no ano 2000, após se candidatar a vereadora e não ser eleita.

Para Margarida, o machismo sempre foi o seu maior obstáculo na vida política, e lembra da eleição de 1982, “foi uma eleição muito difícil, eu me lembro que sofri muito, porque mulher quando se mete nas coisas, né? Agora nós estamos conseguindo um desenvolvimento muito grande em ser mulher e querer o melhor, em ser mulher e achar que também deve participar, mas antigamente não era assim”, avaliou.

Margarida Oliveira, ex-deputada estadual e primeira vice-prefeita eleita

Apesar do machismo, Margarida continuou na política e em Vitória da Conquista passou a representar o então governador do Estado, Antônio Carlos Magalhães, e se orgulha de várias obras executadas por ACM no município, como o Hospital Geral, Colégio Estadual Luís Eduardo Magalhães e a  de que tem mais orgulho: a Avenida Luís Eduardo Magalhães. “ A pavimentação desta avenida, foi a última coisa que pedi por Conquista e de lá pra cá, não quis mais me meter em política,  hoje estou curtindo minha família” e acrescenta, “não me arrependo de nada, seria política novamente”, declarou Margarida Oliveira, hoje com 74 anos, se dedicando a sua família.

Mas foi a partir de primeiro de janeiro de 2017, que a representatividade feminina na política conquistense ganhou força com a posse da primeira vice-prefeita de Vitória da Conquista, feito conquistado com eleição do prefeito Herzem Gusmão, que escolheu para vice-prefeita uma mulher forte e com uma história de vida admirável. A trajetória política de Irma Lemos começou  aos 17 anos como cabo eleitoral, “comecei ajudando os amigos como Nei Ferreira, José Wiliam, Margarida Oliveira, que foi um marco na política, que incentivou as mulheres na políticas, porque antes a mulher votava no candidato que o marido escolhesse. Nesta época tivemos muita empolgação, com todas mulheres envolvidas, na cidade e na zona rural”, conta Irma.

Só em 2000, colocou seu nome na disputa por uma vaga na Câmara de Vereadores, isso com o incentivo e orientação do então deputado federal Ivonilton Gonçalves (Vonca), candidato a prefeito na época. D. Irma foi eleita para o mandato de 2001-2005 e  reeleita para o mandato de 2005-2009,  perdendo a eleição de 2008, porém permanecendo na política. Justamente em 2008, fundou o “Movimento das Donas de Casa- MDC”, que hoje oferece 200 vagas de cursos profissionalizantes para mulheres. Na eleição de 2011, foi eleita e voltou à Câmara de Vereadores.

“Gente, estou chegando aqui para aprender, agora eu não chego analfabeta não, porque eu tive grandes escolas. Eu trabalhei na feira por muitos anos como feirante, foi um aprendizado muito grande, eu trabalhei em salão de beleza, eu tive a honra de trabalhar no primeiro instituto de beleza de Conquista, e trabalhei no comércio. O comércio é uma grande escola, quem passa pelo comércio pode dizer que passou por tudo na vida, fiquei 28 anos no comércio e agora eu estou aqui nesta faculdade, pretendo sair daqui diplomada” lembra Irma do seu primeiro discurso na Câmara no ano 2000, época que considera difícil, principalmente por conta da maioria esmagadora de vereadores homens.

“Em 2004 fui reeleita, ampliei minha votação, fui pra mesa diretora, eu acredito que fiz um bom trabalho como segunda secretária, depois fui primeira secretária. Foi um período muito bom da Câmara, acredito que foi melhor momento do legislativo”, acrescentou Irma.

Irma Lemos primeira vice-prefeita a exercer o mandato

Em 2016, Irma decidiu que não seria mais candidata, pois acreditava ter contribuído o bastante para Conquista como vereadora e agora iria se dedicar mais ao MDC, mas decidiu, juntamente com a sua família,  aceitar o convite para ser candidata a vice-prefeita com Herzem, “primeiramente consultei a Deus, depois a minha família, que me apoiou neste novo desafio. Costumo me definir como uma mulher quieta e inquieta, gosto de assumir desafios”.

Irma lembra que a campanha foi muito bonita e contou com ampla participação feminina. “No dia da vitória que cheguei na praça e vi as pessoas gritarem meu nome, eu pensei: meus Deus eu cheguei, ganhei meu diploma. Naquele momento lembrei de 1965, ano que sai da zona rural e vim para Conquista estudar, porque a preocupação de meu pai era que os filhos estudassem, naquela época meu sonho era ser professora, mas Deus me deu outra vertente e hoje estou muito satisfeita com o que sou”, finalizou Irma.

Atualmente, Irma ocupa a cadeira de vice-prefeita e secretária de Desenvolvimento Social. SECOM/PMVC

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