Alex Ricciardi/Último Segundo
Uma delas celebrou 2015 como o melhor ano de sua história — algo que, por sinal, lhe acontece pelo
segundo ano consecutivo. A outra somou uma receita líquida de 590 milhões de reais até setembro último. Ambas são empresas com negócios no mesmo segmento: o solapado mercado imobiliário brasileiro. E não parecem mirar 2016 com esperança menor.
BRASIL: 31 maiores bilionários brasileiros
MRV e Eztec driblaram números de um mercado em crise. O desempenho do conjunto da construção civil em 2015 foi catastrófico. O setor cortou 483 mil vagas no período (14,56% do efetivo no ano anterior), o que fez a quantidade total de trabalhadores dessa indústria recuar ao nível de maio de 2010 segundo o SindusCon (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo). Lançamentos e vendas amargaram os menores patamares em mais de uma década. E nos últimos dois anos surgiu um novo problema: os distratos. Indivíduos que compraram imóveis ainda na planta, ao perceberem que, quando ficarem prontos, estes valerão menos do que custaram, estão indo à Justiça e exigindo que a operação seja desfeita. De cada 100 unidades vendidas na planta em 2015, 41 foram devolvidas. Ao longo do período registrou-se uma queda de mais de 8% no preço real de casas e apartamentos.
“Os lançamentos de novos imóveis caíram de 43 bilhões de reais em 2012 para 20,7 bilhões de reais em 2014”, afirma o vice-presidente executivo da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), Renato Ventura. Os números de 2015 ainda não foram apurados, mas devem ser ainda piores. A Abecip (Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) apontou retração de 33% no volume de crédito imobiliário com recursos da poupança no ano passado.
RANKING GERAL: 70 maiores bilionários do mundo em 2016
Estas duas empresas, no entanto, guardam três segredos que as mantêm bem em tempos nos quais quase todos vão mal. Manter-se distante de escândalos (a Operação Lava Jato afetou duramente a maior parte dos gigantes da construção civil nacional no último ano e meio) e gerir de forma austera o próprio caixa, sem recorrer a dívidas, são dois deles. O terceiro pode ser resumido em uma palavra: foco. Embora semelhantes em resultados e no modo de operação, essas empresas são radicalmente diferentes em relação ao seu público-alvo: a MRV faz imóveis para pessoas de baixa renda; a Eztec também ergue imóveis — mas para indivíduos de alta ou altíssima renda. “Veja, 2015 foi o melhor ano para nossa empresa; 2014, o segundo melhor”, afirma o chairman do grupo MRV, Rubens Menin. “E queremos que [2016] supere 2015.”
As contas dão razão para tal entusiasmo. A MRV teve vendas contratadas no quarto trimestre do ano passado 5,2% maiores do que no trimestre anterior. Em 2015, a companhia vendeu 35.800 unidades. A geração de caixa, que se mantém positiva nos últimos 14 trimestres, atingiu um recorde (258 milhões de reais) no terceiro trimestre do ano. “A MRV há 36 anos faz prédios populares. Neste momento, por exemplo, estamos erguendo 6.000 apartamentos em Piracicaba e Americana, cidades paulistas. Quando estiverem todos prontos, servirão de lar para cerca de 3% da população somada desses municípios.”
A Eztec, liderada por Ernesto Zarzur, até setembro de 2015 somou receita líquida de 590 milhões de reais, lucro bruto de 311 milhões de reais e líquido de 340 milhões de reais — superior por contar com o rendimento financeiro da empresa. Isso em um ano no qual muitas concorrentes amargaram ganhos mínimos, ou mesmo prejuízos. São da incorporadora as EZ Towers, duas gigantescas e sofisticadas torres localizadas em um dos bairros mais caros da cidade de São Paulo, o Morumbi. “Os rendimentos de 2015 gerarão dividendos para nossos acionistas. Temos caixa para tanto. Nossa gestão financeira é sólida e garante que isso se dará”, afirma Zarzur.