Foto: André Dusek / Estadão

Nelson Barbosa e Joaquim Levy

O processo de ‘despedalada’ ilumina uma diferença quase filosófica entre o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy e seu sucessor, Nelson Barbosa. Se ainda estivesse no cargo e tivesse o poder de decisão sobre o tema, Levy com certeza não teria – como de fato ocorreu – quitado de uma só vez os R$ 55,8 bilhões das pedaladas usando basicamente dinheiro da conta única do Tesouro Nacional, como explicam fontes próximas ao ex-ministro. Segundo elas, Levy acha inapropriado usar recursos da conta do Tesouro, que são um colchão de liquidez do País, para aquele fim sobretudo num momento de crise econômica com grande potencial de trazer novas ondas de turbulência macroeconômica. Já a equipe de Barbosa alega que a redução do colchão é pequena e que este permanece mais do que adequado aos parâmetros recomendáveis. Mas o ponto central da discordância tem a ver com a visão liberal de mundo do ex-ministro da Fazenda. Levy acredita profundamente que, para garantir a austeridade fiscal no curto, médio e longo prazo, o governo deve amarrar as próprias mãos, e fazer o máximo para condicionar que todo aumento de gasto público transpareça no Orçamento. Dessa forma, o ex-ministro não via com bons olhos a transferência de uma vez só, por causa da escolha feita para a “despedalada”, de grandes volumes de recursos para bancos federais e fundos públicos como o FGTS. Somando-se o que já tinha sido “despedalado” antes dos R$ 55,8 bilhões, foram transferidos R$ 30 bilhões para o BNDES, R$ 22,6 bilhões para o FGTS e R$ 18,2 bilhões para o Banco do Brasil. O problema de dar essa grande injeção de fôlego financeiro a esses bancos e fundo, para Levy, é que eles são justamente os canais pelos quais o governo consegue contornar os embaraços do Orçamento com sua meta de primário, e aumentar o gasto público de forma mais discreta e discricionária. Fonte: Estadão

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