A Tarde

banco-do-brasil-rio-de-contas1Último dia 22 a agência da Caixa Econômica Federal do bairro de Pirajá, em Salvador, foi explodida durante a madrugada.  Foi a 148º ataque a bancos e caixas eletrônicos este ano na Bahia. Somente em julho, até esta sexta-feira, já são 21 ocorrências, das quais seis em Salvador. Como em outras ocasiões, os ladrões usaram bananas de dinamite e explosivos plásticos para explodir os caixas eletrônicos.

A situação acendeu a luz vermelha na cúpula da Secretaria da Segurança Pública na Bahia, que  vem apertando o cerco a0s quadrilhas que agem tanto na capital como no interior do Estado, já tendo prendido 45 pessoas tidas como líderes de quadrilhas, e tem em mãos uma lista com dezenas de outras que estão com mandados de prisão  expedidos pela Justiça para serem executados.

A Bahia é o segundo no Brasil em número de ataques a bancos este ano, perdendo apenas para São Paulo “É uma situação bastante preocupante, mas não estamos acuados e estamos indo pra cima, bem armados e estruturados para mudar essa situação”, disse o coordenador do Departamento de Repressão a Roubos a Instituições Financeiras, Maurício Moradillo. O departamento foi criado em março unicamente com a finalidade de cuidar dos assaltos a bancos e integra o Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco).

O departamento conta com cinco delegados nas cidades de Vitória da Conquista, ilhéus e em Salvador, e 80 policiais e agentes especialmente treinados. “Se os ladrões estão bem armados –  referindo-se ao armamento pesado usado pelas quadrilhas – nós também estamos, além de termos treinamentos especiais e um serviço de inteligência que nos permite hoje identificar vários líderes que estão e serão presos”, afirmou.

Ousados – No último dia 02 de junho uma quadrilha com mais de 15 pessoas atacou a cidade de Conde, no Litoral Norte do Estado. Depois de explodirem a agência do banco do Brasil da cidade, a quadrilha ainda fez cinco pessoas reféns, uma delas colocada amarrada sobre o capô de um dos veículos usados na fuga. Em Ilhéus, no Sul da Bahia, em 09 de junho, outra quadrilha explodiu outra agência do banco do Brasil e ainda obrigou os funcionários do banco a carregarem o cofre que foi levado pelos bandidos.

Na avaliação do delegado Maurício Moradillo, as quadrilhas além de ousadas, estão a desafiar a Polícia, constrangendo os policiais e agentes que, em menor número nas pequenas e médias cidades do interior, não têm como fazer frente à ação dos bandidos. “Eles usam armamentos pesados, restritos das Forças Armadas, como fuzis, metralhadoras, granadas e coletes balísticos”, disse.

O delegado Moradillo disse a situação começa a mudar no interior do estado, havendo um certo equilíbrio entre as ações de repressão da polícia e os ataques das quadrilhas, “mas em Salvador tem havido um aumento dessas ações criminosas. É uma situação bastante preocupante, mas apertando o cerco  contra as quadrilhas vamos mudar esse quadro até o final do ano”, desafiou.

Falta controle na venda de explosivos

Um dos maiores desafios da polícia está na forma como vai impedir o uso de explosivos pelas quadrilhas nos assaltos a bancos e caixas eletrônicos. Através da Portaria nº 3 do Comando de Logística do Exército Brasileiro, datada de 04 de junho de 2012,  o uso, a comercialização e o transporte de explosivos é regulamentado em todo o País.

Contudo essa situação vem sendo desrespeitada  com freqüência, como esclareceu o delegado do Departamento de Repressão a Roubos a Instituições Financeiras, Maurício Moradillo. “Compra-se um explosivo com espoleta pronta para detonação por até R$ 300.E até mesmo pescadores estão nesse tipo de  comércio, repassando para as quadrilhas explosivos que antes usavam na pesca de bomba”, disse.

O secretário da Segurança Pública,  Maurício Barbosa  cobrou uma maior participação dos bancos e do próprio Exército no combate às quadrilhas organizadas que realizam ataques às instituições financeiras. Ao inaugurar a Distrito Integrado de Segurança Pública (Disep), no município de Capim Grosso, ele disse que  os bancos, o Exército e o Ministério da Justiça devem participar efetivamente do combate às explosões de caixas eletrônicos na Bahia.

Para o secretário, “não tem cabimento, hoje, com a possibilidade de instalação de itens como entintamento de cédula ou destruição de cédula, os bancos não fazerem esse aporte tecnológico para evitar o aumento da prática delitiva. Isso tem que ser uma preocupação conjunta”. O Exército, na avaliação de Maurício Barbosa, também precisa entrar nessa campanha.  “Não dá para admitir que toneladas de explosivos sejam transportadas pelas nossas rodovias sem a mínima atenção”, disse.

O que diz a Lei
O Artigo 3º da Portaria do Exército diz que “os explosivos e seus acessórios são produtos de interesse militar cujas atividades de fabricação, utilização, armazenamento, importação, exportação, desembaraço alfandegário, tráfego e comércio estão sujeitas ao controle do Exército”. E na mesma portaria, no Artigo 4º é definida a comercialização do produto, mediante a obrigatoriedade da obtenção de registro e apresentação de um plano de segurança e a indicação do responsável pela segurança na gestão dos explosivos.

No Artigo,a Portaria do exército diz  que “os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de explosivos e/ou seus acessórios somente podem vender o produto para pessoas físicas ou jurídicas com registro ativo no Exército e de acordo com as condições estipuladas nos registros”. Contudo, como disse Moradillo, não há um rastreamento eficaz do uso desses dispositivos, “ uma vez que há claramente um desvio dessas mercadorias controladas, que caem em mãos das quadrilhas”, afirmou.

Média é de 21 casos por mês

Em sete meses (até o dia 22 de julho) foram 148 ataques a bancos e caixas eletrônicos na Bahia, o que dá uma média mensal de 21 registros. Somente em 22 dias de julho, contudo, já foram registrados 21 ataques, o último delas na madrugada desta quinta-feira, no bairro de Pirajá, em Salvador.

Segundo os dados fornecidos péla Secretaria da Segurança Pública, de março, quando foi criado o Departamento de Repressão a Roubos a Instituições Financeiras , até agora, houve uma redução de 13,4% em abril, 20,83% em maio e 24% em junho. Em março havia um crescimento de 85% no número de ataques a bancos.

Ataques em julho
02 de julho – Salvador (São Caetano, Pituaçu), Brejolândia.
03 de julho – Santa Brígida, Filadelfia (duas agências)
04 de julho – Mansidão e Conceição do Almeida
06 de julho – Sátiro Dias
09 de julho – Candeias
14 de julho – Salvador (Campinas de Pirajá), Lauro de Freitas, Terra Nova
15 de julho –  Adustina, Salvador (Fazenda Grade do Retiro)
18 de julho – São Francisco do Conde, Muritiba (duas agências)
21 de julho – Salvador (IAPI), Lauro de Freitas    22 de julho – Cansanção e Salvador (Pirajá).

Instituições investem em segurança

No mês passado, em comunicado, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que chega a investir mais de R$ 9 bilhões em mecanismos de segurança nos bancos em todo o país. Essas medidas incluem a proteção das agências em horários de funcionamento, e aos serviços de auto atendimento, onde ficam os caixas eletrônicos.

Segundo a nota da Febraban, as medidas de segurança incluem cofres com dispositivo de tempo, circuitos fechados de televisão, sistemas de detecção e de monitoramento, alarme etc. Os bancos também reduziram o volume de dinheiro disponível nas agências e incentivam a população a usar os canais eletrônicos para realizar operações bancárias. .

Em 2014, segundo a Febraban, houve 395 assaltos a bancos em todo o país, ante 449 de 2013. Em 2000, foram 1.903 assaltos e tentativas de assaltos.  Em 2014, as despesas e investimentos em tecnologia pelos bancos foram de R$ 21,5 bilhões — o que também é considerado segurança. As instituições contam também com 68 mil vigilantes profissionais distribuídos em 23 mil agências bancárias – uma média de três profissionais por agência bancária.

Bancários
Para o diretor do Sindicato Dos Bancários na Bahia, Adelmo Andrade, clientes, moradores e comerciantes que estão próximos às agências bancárias e caixas eletrônicos, principalmente em cidades do interior do estado correm riscos permanentes. “Hoje convivemos com uma realidade em que várias comunidades não querem postos ou agências bancárias próximas às suas casas ou estabelecimentos comerciais por causa dos riscos com os assaltos”, disse.

Adelmo cobra dos bancos a instalação de câmeras no entorno das agências sou em locais onde estejam instalados os caixas eletrônicos, assim como vidro blindado na área que separa o interior das agências das salas de auto-atendimento. “Os caixas eletrônicos são cofres e quando há filmagens da ação das quadrilhas, as imagens não são do banco, mas de outros estabelecimentos, porque os bancos não instalam as câmeras também do lado de fora e no entorno das agências”, disse.

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