Na casa de um dos chefes da organização criminosa, polícia encontrou comprovantes bancários de US$ 5 milhões depositados na Suíça. Grupo cobrava até 7.500 reais por aborto
Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
O Major da PM do Rio é preso durante a operação Herodes, que desarticula uma quadrilha especializada em abortos na capital cariocaO Major da PM do Rio é preso durante a operação Herodes, que desarticula uma quadrilha especializada em abortos na capital carioca (Osvaldo Prado/Agência o Dia/Estadão Conteúdo)

Na maior operação contra a realização de abortos clandestinos na região metropolitana do Rio de Janeiro, a Polícia Civil detectou indícios de que uma quadrilha escondeu no exterior o dinheiro obtido com a interrupção ilegal da gravidez. A organização criminosa foi investigada na Operação Herodes. Nesta terça-feira, policiais cumpriram 75 mandados de prisão preventiva e 118 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Espírito Santo. Até as 18 horas, 57 suspeitos foram presos.

Na casa de um dos chefes do grupo, Aloísio Soares Guimarães, de 88 anos, foram apreendidos comprovantes bancários que apontam que o médico tem 5 milhões de dólares na Suíça. A polícia vai rastrear a movimentação financeira dos criminosos. “Tudo leva a crer que ele tinha 5 milhões de dólares (no exterior), mas isso ainda vai ser confirmado. Se for produto de crime, há possibilidade de abrir inquérito para investigar lavagem de dinheiro e recuperar os valores”, afirmou a delegada Adriana Pereira Mendes ao site de VEJA. 

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Preso em um apartamento no Leblon, Zona Sul do Rio, Guimarães inicialmente negou a posse de dinheiro no exterior. Na residência dele, foram apreendidos 532.000 reais em espécie. Segundo as investigações, ele era o responsável por uma clínica em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. Somente nessa unidade, a quadrilha faturava 300.000 reais por mês, de acordo com a delegada Adriana Pereira Mendes. Havia clínicas também nos bairros de Campo Grande, Botafogo, Bonsucesso, Rocha, Tijuca e Guadalupe.

Também foi preso o médico Bruno Gomes da Silva, de 80 anos, conhecido como “Doutor Aborto”. A quadrilha começou a ser investigada em 2012. Nas acusações contra 75 suspeitos, foram apontados os crimes de aborto, associação criminosa armada, corrupção passiva, corrupção ativa e associação para o tráfico de drogas. No inquérito, a polícia reuniu provas da prática de 37 abortos. A quadrilha cobrava de 1.000 a 7.500 reais por cada interrupção de gravidez. Quanto mais avançado era o tempo de gestação, mais elevada era a cobrança de pagamento.

Os criminosos contavam com a colaboração de policiais de alta patente para atuar impunemente. Entre os acusados, estão oito policiais civis e quatro policiais militares. Um dos presos foi o major Paulo Roberto Nigri, ex-sub-comandante do batalhão de Copacabana, na Zona Sul da capital fluminense. Além dos policiais, havia uma rede de colaboradores para garantir o funcionamento das clínicas e intermediar contatos com potenciais clientes. Os criminosos utilizavam transporte próprio para transportar gestantes para o local onde seria realizado o aborto.

“O monitoramento telefônico efetuado demonstrou que os denunciados passaram a evitar indicar os locais onde efetuavam os abortos e, para tanto, marcavam com a gestante, encontros em locais próximos às ‘clínicas’. No dia e hora combinado, integrantes do grupo abordavam a gestante no local antes indicado e, utilizando transporte próprio da quadrilha, levavam a gestante para a clínica”, diz a denúncia do promotor Homero Neves Filho. Fonte: Veja

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