Derrota no maior colégio eleitoral do país acirrou os ânimos na legenda e deu origem a um jogo de culpa, apontando para um prejuízo ainda maior para a campanha de Dilma

A derrota do ex-ministro Alexandre Padilha em São Paulo acirrou os ânimos dentro do PT e reacendeu uma disputa interna que custou para ser mantida sob controle nos últimos anos. Desta vez, o embate envolve não só os quadros que comandaram historicamente a legenda no maior colégio eleitoral do país, mas também integrantes dos grupos que emergiram da estratégia de renovação liderada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ana Flavia Oliveira/iG

Padilha, que concorria ao governo de SP pelo PT, faz pose para fotos após votação (5/10)

Na disputa, formou-se um jogo de culpa sobre as dificuldades enfrentadas no estado, que aponta ainda para o risco de um prejuízo ainda maior à campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. São Paulo é tido como peça-chave na estratégia para garantir ao PT mais quatro anos no Palácio do Planalto e o mau desempenho nas urnas no estado superou de longe as expectativas do comando partidário. A “surra”, como descrevem alguns dirigentes, atingiu todas as esferas.

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Dentro da equipe de Padilha, grande parte da responsabilidade pelo desempenho do ex-ministro é jogada sobre o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. As sucessivas declarações nesse sentido feitas nos bastidores por integrantes da campanha irritaram o prefeito, que já se manifestou mais de uma vez aos colegas sobre o assunto. Nas conversas que mantém sobre o tema, Haddad costuma repetir que falta à campanha de Padilha assumir a responsabilidade pelos erros que cometeu. E lembra que, quando ele próprio custava a decolar nas pesquisas, não jogava a culpa em ninguém.

Mas muitas das queixas de aliados do ex-ministro da Saúde versam também sobre a falta de um engajamento do próprio PT na campanha, principalmente de quadros que poderiam ter contribuído para transferir votos conquistados em eleições passadas. A tese é um recado direto ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que disputou as duas últimas eleições no estado e chegou a ter 35% dos votos nas urnas em 2010.

Mercadante tem divergências antigas com Padilha e, de acordo com integrantes da campanha paulista, mostrou-se muito pouco disposto a colaborar. O atual ministro disputou internamente a indicação no PT para concorrer ao governo paulista neste ano. Perdeu o páreo, não pela falta de apoio do partido, mas pela interferência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pressionou para que Padilha fosse o escolhido para a corrida.

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Em geral, o argumento usado pelo grupo de Mercadante para justificar sua distância da campanha paulista é o fato de ele estar envolvido na campanha de Dilma – ontem, a presidente anunciou que ele irá se licenciar para cuidar exclusivamente de eleição neste segundo turno. Ainda assim, petistas relatam que o ministro encontrou tempo na agenda para se oferecer para pedir votos aos fins de semana para mais de um aliado, nas disputas por vagas na Câmara dos Deputados e assembleias legislativas. O envolvimento de Mercadante, reclamou um petista próximo a Padilha, foi “quase nulo”.

A lista inclui ainda a ex-prefeita Marta Suplicy. A ministra da Cultura chegou a participar ativamente da campanha em alguns momentos. O problema, segundo interlocutores, é que ela abandonou o barco na reta final, justamente quando o reforço se fazia mais necessário. O motivo seria o incômodo de Marta com o tratamento que recebeu em uma agenda de campanha das quais participou. Marta teria ficado irritada com o fato de ser vetada da lista de petistas que acompanharam a presidente Dilma Rousseff em um carro aberto durante uma atividade da campanha.

Erros

Mas a ala mais “tradicional” do PT tem um discurso bem diferente. Quem é próximo a nomes como Marta e Mercadante diz entender que Padilha cometeu uma erros graves desde o início da campanha, que levaram a um desempenho nas urnas aquém do patamar histórico do PT no estado. Historicamente, o partido costuma alcançar ao menos algo em torno de 30% dos votos. Até agora, esses eleitores eram descritos como aqueles que “votavam no PT de qualquer jeito, independentemente do candidato”.

Na avaliação de um integrante da cúpula petista, um dos maiores erros de Padilha teria sido apresentar-se com um “discurso de classe média”. O ex-ministro, afirma o dirigente, foi orientado mais de uma vez a “duelar” com o governador Geraldo Alckmin e endurecer o tom sobre os problemas da administração tucana. E resistiu. As mudanças, argumenta, só vieram na reta final da campanha, quando já era tarde demais para uma virada sobre o peemedebista Paulo Skaf.

Paulo Pinto/Analitica

Padilha é carregado por Eduardo Suplicy durante caminhada em Carapicuíba (30/7)

Outro problema apontado como motivo da fragilidade de Padilha é o enfraquecimento da Alckmin na Assembleia Legislativa. Nesse caso, parte da conta vai para a campanha da presidente Dilma Rousseff, que trouxe para sua coordenação o presidente nacional do PT, Rui Falcão. Deputado estadual, Falcão já foi líder da bancada petista na assembleia e era tido como um dos mais atuantes na oposição a Alckmin na Casa.

Passada a eleição, Padilha também virou alvo de críticas pelo tom da campanha na TV, cujo desenho foi supervisionado pelo marqueteiro João Santana. Na visão dos colegas do ex-ministro da Saúde, a campanha falhou ao apresenta-lo como “um bom moço”, num momento em que se desenhava a necessidade de um nome capaz de fazer o enfrentamento duro com o PSDB no estado.

Acirramento

Coordenador da campanha de Padilha, o presidente do PT paulista, Emidio de Souza, evita alimentar a disputa interna. Ele diz ter proibido que a direção partidária faça qualquer balanço da campanha neste momento, até para não prejudicar a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. “Este não é o momento para fazer diagnósticos. Temos uma eleição para ganhar. Agora, nós queremos fazer campanha para Dilma. Só isso”, afirmou.

Pensando mais adiante, petistas avaliam que a disputa interna tende a se acirrar no futuro próximo. Isso porque a movimentação dos grupos que compõem o partido deve começar em breve a ser pautada pelos preparativos das próximas corridas eleitorais. Mercadante e até mesmo Marta podem pleitear a candidatura ao governo do estado, embora esta última possa optar por renovar seu mandato de senadora.

Há no PT uma ala que defende que o partido continue investindo no nome de Padilha, apesar da derrota. Por isso, Padilha poderia voltar a integrar o governo, caso Dilma consiga se eleger. Além de ter passado pelo Ministério da Saúde, ele já comandou também a pasta de Relações Institucionais durante o governo Lula.

Fonte: IG

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