A tarde/Patricia França
Foto: Mila Cordeiro | Ag. A TARDE
Joaci Góes, pré-candidato a vice-governador pelo PSDB na chapa da oposição ao governo da Bahia
Empresário, ex-deputado federal constituinte e imortal da Academia de Letras da Bahia,Joaci Góes está de volta à cena política baiana. Inimigo político do ex-governador Antonio Carlos Magalhães, decidiu disputar a eleição deste ano para assegurar a unidade das oposições na Bahia, liderada pelo DEM. Como ele mesmo explica, “a vida é dialética, temos que olhar para a frente”.
Apesar do vasto currículo na política, o senhor estava afastado da vida partidária já há algum tempo. Como seu nome foi lembrado?
Eu não estou ausente da política. Estive ausente, nos últimos 20 anos, da política partidária-eleitoral. Como todos sabem, a disputa pelo cabeça de chapa entre o Geddel e Paulo Souto consumiu quatro meses de muita tensão. E no instante em que se cristalizou o nome de Souto (ao governo) e Geddel se preparava para sair para alguma candidatura solo, houve uma preocupação de grandes segmentos da oposição, porque isso representaria o enfraquecimento do grupo. Fui, então, solicitado para tentar ajudar na pacificação dos ânimos. O coordenador da campanha, o prefeito ACM Neto (DEM), chamou Geddel e disse que ele poderia escolher o candidato ao Senado, a vice-governador, o que quisesse, porque o queria na aliança. Para minha surpresa, Geddel virou-se para mim e perguntou se ele devia fazer esta concessão. Eu disse que sim. E me indagou: ‘Você estaria disposto a fazer algum sacrifício?’. Respondi: ‘Claro, quem não está?’. E ele disse: ‘Então aceitarei participar da chapa como senador se você aceitar ser o vice. Você é do PSDB e tem um discurso sobre a educação que conheço e acompanho e acho que isso é um elemento diferencial’. Então me colocou nas mãos esta responsabilidade enorme (de garantir a unidade das oposições). Disse sim e estou absolutamente disposto a colaborar para o sucesso de uma alternativa ao desenvolvimento da Bahia no plano social, político e econômico.
Como o senhor imagina que pode contribuir eleitoralmente, com votos, para a campanha de Paulo Souto?
O que pude verificar é que nesta chapa eu sou a pessoa que representa aqueles segmentos que na história recente da Bahia marcharam ao lado do PT e dos chamados partidos de esquerda (PCdoB, PSB, PPS). Então, pela reação de muitos companheiros de luta do passado, que sempre perfilaram do lado do anticarlismo, a minha participação (na chapa) foi recebida com muito entusiamo. Então, acho que poderei, sim, contribuir com o discurso e com a prática que tenho tido na militância jornalística, escrevendo e comentando fatos de interesse da sociedade. Tanto que a união, que foi o fator principal, criou um clima predominante, hoje, de vitória nas oposições.
Como o senhor disse, sempre fez oposição ao carlismo na Bahia. O convite para integrar a chapa liderada logo pelo DEM não causou constrangimento?
Não, por uma razão muito simples. Eu sempre mantive as mais cordiais relações com os irmãos de Antonio Carlos Magalhães, com os filhos dele. Foi um conflito, uma briga, que ocorreu entre mim e o ex-governador, que são águas passadas. A vida é dialética, temos que olhar para a frente. Está aí o jovem ACM Neto como prefeito da capital e, segundo informações, um dos mais bem avaliados do Brasil.
Quando deputado constituinte, em 1987, numa audiência na Câmara dos Deputados com a presença de ACM, então ministro da Comunicações, o senhor chegou a dizer que, pelos crimes que ele teria cometido, não deveria estar no ministério, mas na cadeia. Como foi esse episódio?
Havia um clima de muito confronto. Pelo fato de eu dirigir A Tribuna da Bahia, me pautando por critérios de independência (de opinião), e aquilo não agradava a ele. Nossas relações foram se deteriorando e azedaram completamente na campanha de 1982, quando Clériston Andrade (apoiado por ACM) era candidato ao governo. E daí em diante as coisas foram recrudescendo com força e depois houve esse episódio na Constituinte. Na ocasião, bati duramente nele, porque queria demonstrar que eu não sou absolutamente mais valente do que ninguém, nunca provoquei ninguém na minha vida, mas também nunca enjeitei nenhuma parada.
Na audiência, o senhor acusou o ministro de ter oferecido um canal de TV a um deputado para conseguir impedir a criação do conselho nacional de comunicação e, assim, atender o empresário Roberto Marinho (presidente das Organizações Globo), que era contrário à medida, não foi?
Roberto Marinho não deixou veicular a matéria na televisão aqui na Bahia, que àquela altura já era do domínio dele (ACM). Mas eu soube, Roberto Marinho me contou, que gostava de ver a gravação (da troca de acusações entre Joaci e ACM) que foi feita. Eu tenho a impressão de que Roberto Marinho tinha medo de Antonio Carlos Magalhães, porque ele era uma personalidade contumeliosa (que injuria, insulta). Era um tigre, não se detinha por nada. Então ele gostava de ver a gravação.
Em recente relato à rádio Metrópole, o senhor também disse que saiu armado, numa ocasião, decidido a matar ACM. O que o fez recuar?
Nunca pensei em chegar a matá-lo. Mas havia uma expectativa em algumas pessoas de que ele, cercado de guarda-costas, poderia me imobilizar e, com isso, causar algum dano físico. E nesta perspectiva eu me preparei para matar e para morrer. Passei a andar armado só por legítima defesa, para não ser desmoralizado, agredido. Mas uma das coisas que eu agradeço a Deus é não ter ocorrido o ensejo, porque a vida passa.
E a sua relação com o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), principal liderança da oposição na Bahia?
Quando estas coisas aconteceram ele estava de fraldas. Mas desde que ele despontou (na política) me chamou a atenção por ser de fato um jovem com um discurso muito afirmativo. Eu acredito que ele seja, dos Magalhães, o mais estudioso. É de trato ameno, e a Bahia está acompanhando e admirando o trabalho
dele.
O senhor é autor de um livro cujo título é A inveja nossa de cada dia. Nessa briga com o velho ACM, onde foi que entrou a inveja?
A inveja que eu trato no livro é do ponto de vista de ser um sentimento inapartável do ser humano. E é um sentimento negado por todas as pessoas. Há quem confesse qualquer um dos outros pecados capitais, mas nunca ninguém confessa que tem inveja. Inveja é o sentimento de tristeza pela felicidade do outro. Portanto, na minha briga com Antonio Carlos Magalhães isso não entrou na ordem de consideração.
O presidente da Assembleia, deputado Marcelo Nilo (PDT), costumava dizer que não queria ser vice-governador porque não teria o poder da caneta. O senhor vai ter voz no governo Souto?
Vou ser o vice-governador mais comportado. Quem aceita ser vice de uma chapa tem que ter o compromisso de ser o substituto eventual do titular. E não ficar fazendo sombra ao titular ou querendo competir. Ser um coadjuvante. E na medida em que o governador se disponha a me ouvir, poderei contribuir com minha experiência, com o conhecimento que tenho dos problemas da Bahia e do Brasil.
Em seus artigos e comentários, o senhor tem sido um defensor intransigente da educação. Não pensa em ser o secretário da educação?
Não está nos meus planos ser o secretário da educação, porque secretário não muda a realidade da educação se o governador não estiver absolutamente afinado com isso. Como a educação no plano nacional não muda se o presidente da República não compreender o significado da educação.
E como pretende ajudar nesse tema?
Tenho algumas ideias. Temos que mudar inteiramente desde de cima. Temos que manter contato com as escolas que formam os professores. As escolas estão formando mal os professores. Temos que desenvolver, e eu me disponho a fazer isso, um relacionamento de extrema solidariedade e camaradagem com o magistério, valorizando o professor na sua dimensão humana, criando critérios. Temos que adotar, sim, critérios meritocráticos. Além do salário que o professor recebe, ele tem que ter um diferencial em função da evolução que ele apresentar no desenvolvimento de sua turma, de semestre para semestre, de ano para ano. Vou lutar por isso.
Qual sua avaliação da educação nos governos petistas?
Cristovam (senador do PDT-DF que foi ministro da Educação no primeiro governo Lula), que é um grande pensador da educação, ficou completamente desprezado durante o período em que tentou fazer alguma coisa. Aliás, ele foi demitido por telefone. Uma desconsideração, mostra o desapreço que o PT tem pela educação. E nestes 12 anos do PT, a educação no Brasil vai de mal a pior. O país, que é a sétima potência econômica do mundo, deve estar no 80º lugar. É um dos piores índices educacionais da América Latina. E a Bahia está num dos últimos lugares do Brasil. Portanto, se no longo prazo não se resolverem os problemas educacionais do Brasil, e da Bahia em particular, os índices sociais, sobretudo de violência, só tendem a aumentar.
Em 2006, o PSDB ajudou o PT de Jaques Wagner a derrotar o então governador Paulo Souto. Em 2010, seu partido foi para a oposição, Wagner derrotou Souto novamente. O senhor acredita que a oposição, agora, pode vencer o candidato petista?
Acho que sim. A experiência da democracia americana revela como a população é sábia. A cada oito anos muda quem está no poder. Nos últimos 240 anos de democracia americana raramente essa regra foi quebrada. Portanto o PT, no Brasil, completando 12 anos no poder já passou da conta. Exatamente por ter passado da conta, que o PT incorreu naquela máxima de Lord Acton (pensador liberal inglês) que diz ‘o poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente’. E aqui na Bahia, o PT está há oito anos. Está de bom tamanho, na hora de mudar.
O candidato do governo, o deputado federal Rui Costa (PT), diz que tem números para provar que este governo investiu mais na educação, saúde e segurança. A oposição tem dados para contra-argumentar?
Você disse bem, investiu mais e tinha que investir mais, porque a Bahia cresceu com o Brasil. Agora, o problema foi gestão. Apesar de ter investido mais em educação, a educação piorou, e de ter investido mais em segurança pública, a segurança desmoronou na Bahia. Então, O PT quando não peca por corrupção, peca por má gestão, o caso da Bahia.
A greve da PM, a segunda no atual governo, favorece a oposição?
Nós estamos muito atentos ao quanto é muito indesejável uma greve da polícia, porque o estado já está experimentando índices alarmantes e verifique que, no dia da eclosão da greve, o filho do nosso candidato ao governo, o Vitor, foi assaltado com revólveres na sua cabeça, e a esposa do candidado ao Senado, Alessandra, que estava com o filhinho em uma farmácia, também foi abordada com vários revólveres na cabeça dela, no mesmo dia. Em um único dia, em Feira de Santana, tivemos 21 mortes e o saldo na região metropolitana de 104 mortos. Salvador é 13ª capital mais violenta do mundo, e a Bahia, que representa apenas 7% da população brasileira, tem dez das 30 mais violentas cidades do Brasil.
E as denúncias de corrupção na Petrobras na época em que era presidente José Sérgio Gabrielli, atual secretário do Planejamento governo Wagner?
Todos esses escândalos envolvendo o PT naturalmente são prejudiciais aos candidatos do partido. Esse episódio específico da refinaria de Pasadena, que envolve prejuízo de mais de US$ 1 bilhão, é apenas a ponta do iceberg. Os desmandos que foram praticados são enormes, basta ver quanto valia a Petrobras na Bolsa de Valores e quanto vale hoje. É preciso alguém para fechar a torneira do desperdício, e ela, gradativamente, ir se recompondo do tremendo assalto que vem sofrendo.
O senhor, sendo um empresário do setor imobiliário e da área de comunicação, onde há muitas denúncias de falta de pagamento de direitos trabalhistas, também não teme que fatos como estes atrapalhem sua eleição?
Em primeiro lugar, quando no Brasil concorrência deixou de existir, eu saí do ramo de obras públicas, onde não mais estou há muito tempo. Eu estou no ramo de atividade privado, de mercado. Se eu não fizer um bom produto, o cliente não compra. É diferente de quem faz obra para o governo, que, hoje, virou, uma bandidagem geral. O povo está indo a rua porque os gastos da Copa não sairão por menos do dobro do que oficialmente foi anunciado. E não tenho pendências com a imprensa. Quando saí da Tribuna da Bahia, fizemos um acordo com os jornalistas e demos como crédito para pagar 100% a todo mundo, um crédito que tínhamos com a prefeitura de Ilhéus. A história é a seguinte: eu doei o jornal aos jornalistas. Doei. E fiz questão de indenizar todo o tempo do pessoal. Como isso era caro e não tinham dinheiro para começar do zero, eles elegeram uma liderança e essa liderança (não lembrou o nome) examinou créditos e escolheram um crédito de Ilhéus. Esse crédito foi repassado a eles. Então não há queixa trabalhista contra nós, se há pendências é com a prefeitura de Ilhéus.