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O Estado de São Paulo estampou em sua edição impressa desta quinta-feira (09) a imagem do ilustre menestrel da Casa dos Carneiros, Elomar Figueira, indicado no caderno 2, de agenda cultural, matéria do jornalista Júlio Maria sobre a passagem do bode velho pelos concretos da cidade São Paulo, onde apresenta no sábado e domingo parte das 49 canções que estão organizadas no livro Elomar Cancioneiro, uma espécie de songbook com a reprodução de detalhes melódicos e harmônicos sobre uma das linguagens mais originais desenvolvidas na canção brasileira, informa a reportagem.

O violeiro faz shows na Caixa Cultural, às 19h30, com 15 músicas arranjadas para voz e violões, respeitando uma variação de formatos que vai do solo, com apenas o trovador e seu instrumento no palco, ao coletivo, com até cinco acompanhantes. Entre eles, estarão os violonistas Maurício Ribeiro, Hudson Lacerda, Avelar Júnior e Kristoff Silva, além da cantora Letícia Bertelli.

A matéria segue falando da obra do trovador medieval, afirmando que suas canções são o que os estudiosos chamam de modais, criadas sobre modos em vez de tons e que se surgissem em uma escada, apareceriam no meio, subindo ou descendo sem respeitar necessariamente a ordem dos degraus, como faz a tonal. “A modal está mais inserida em uma manifestação antropológica do que em um pensamento racional”, diz João Omar, filho de Elomar. Arriscando outras palavras, seria o mesmo que dizer que mais do que refletir genialidades harmônicas, como faz a música popular brasileira como herança da bossa nova, o cancioneiro de Elomar traduz uma era que só está aqui quando ele canta.

Segundo Júlio Maria as trovas e as cantigas que desenvolve sobre esta estrutura trazem uma carga genética ibérica, por sua vez carregadas historicamente de sonoridades árabes, que chegaram ao Brasil nos alaúdes portugueses da colonização. “O braço de seu violão tem as cordas presas na terceira ou na quinta casa por um capo traste, uma pestana artificial, que lhe garante trabalhar com liberdade nas regiões mais agudas. E a terminologia que usa nas letras para cantar suas cantigas de amor e de amigo é outro objeto de estudo que já rendeu teses de mestrado”.

O sertão de Elomar, segue a matéria, não é o sertão padronizado pelo conjunto de signos da música sertaneja popular. Aos 76 anos, mais de 300 músicas gravadas em 15 discos que poderiam ser bem mais, suas raízes descem em direção ao bandeirante fundador de Vitória da Conquista em 1783, o sertanista João Gonçalves da Costa. Seu filho João confirma se tratar do mesmo homem que daria origem à família de dois primos distantes, o também músico Xangai e o cineasta Glauber Rocha. Blog do Fábio Sena

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