“Podem me levar tudo, exceto meus sonhos”. Assim o morador de rua Patrick, de 47 anos – três deles na rua – se define em sua conta no Twitter. Sim, Patrick está na rede social, assim como outros quatro mendigos franceses que ganharam smartphones para tuitar sobre seu dia a dia. A ação, em parceria com a Rádio França Internacional, faz parte do “Tweet2Rue”, projeto para acabar com o preconceito da sociedade em relação aos moradores – e combater a solidão daqueles que vivem nas ruas.

Os participantes – Nicolas (@nickopompons), Sébastien (@DjamaikaPtiseb), Patrick (@kanter57640), Ryan (@usher226) e Manu (@115toimeme) – têm idades entre 24 e 47 anos e receberam o aparelho no dia 17 de outubro. Desde então, têm atraído milhares de seguidores ao compartilhar histórias cotidianas de suas vidas em 140 caracteres ou menos.

Em entrevista ao jornal “Le Figaro”, Patrick disse que decidiu participar do projeto “mais para rir do que qualquer outra coisa”, sem perceber o seu alcance. Mas as reações têm sido positivas. Em um dos tweets, o morador contou que tem problemas na visão. E acabou procurado por um oftalmologista que o convidou para ir à sua loja receber um par de óculos.

Patrick é ex-caminhoneiro e está há três anos nas rua

Patrick é um dos participantes do projeto. Ele é ex-caminhoneiro e está há três anos nas ruas

Patrick é caminhoneiro, tem dois filhos – uma na faculdade e outro que “é a causa de seus problemas”. Chegou às ruas por desemprego e falta de um teto. Além de desavenças com a família e com alguns “amigos”.

Já Ryan, de 24 anos, é da República Democrática do Congo. Na página do projeto, ele explica que nunca imaginou viver nas ruas. Sua história é mais complexa que a de Patrick: seu pai apoiou um adversário político do governo.

“A França, para mim, era apenas um país de turismo. Com minha mãe e irmãs, viajei pela China, África do Sul, Camarões, Senegal, Itália, Espanha e Alemanha. Meu pai era um comerciante e vivemos muito bem na RDC (República Democrática do Congo). Até que um dia, na véspera de uma viagem, homens armados invadiram minha casa e levaram meu pai. Fiquei 15 dias em uma prisão, onde eu fui estuprado pelos guardas, interrogado, chicoteado e amarrado no teto. Eu estava perdido, não entendia o que estava acontecendo. Foi muito difícil”.

Após conseguir fugir, com a ajuda de guardas, Ryan acabou em um avião para Paris com documentos que não eram dele. E, por fim, nas ruas.

Emmanuel Letourneux, que teve a ideia do projeto, espera que a iniciativa atraia mais participantes em escala nacional. “Espero ser capaz de integrar rapidamente novos participantes e assim oferecer uma solução eficaz em todo o país para lutar contra a exclusão”, conta ao “Le Figaro”.

Fonte: O Globo

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