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As ruas de Belo Horizonte ainda guardam as marcas da grande manifestação na cidade no último sábado, quando 60 mil pessoas fizeram uma passeata pela capital mineira com uma ampla pauta de reivindicações.

Na Avenida Antônio Carlos, que liga o centro ao estádio do Mineirão, é quase impossível ver uma vidraça inteira em alguma das várias agências bancárias ou concessionárias de veículos instaladas no local.

Antes mesmo de recuperar o que foi quebrado durante o protesto de sábado, muitos pontos comerciais da avenida já tratam de tentar se proteger, com tapumes e placas metálicas, contra as consequências de uma nova grande manifestação, programada para a tarde desta quarta-feira.

É nesse cenário que a seleção brasileira entra em campo para enfrentar o Uruguai pela semifinal da Copa das Confederações, no Mineirão. Se a previsão dos organizadores dos protestos e das próprias autoridades mineiras se confirmar, essa manifestação será maior do que as três já realizadas nas cidades onde o Brasil jogou na Copa das Confederações – Brasília, Fortaleza e Salvador.

Expectativa

O protesto desta quarta está sendo convocado pelo Comitê dos Atingidos pela Copa de Belo Horizonte (Copac), que questiona os gastos públicos para a realização do torneio e o impacto social das obras para sua organização. Outros grupos, com demandas diversas, também anunciaram adesão ao protesto.

Apesar das expectativas dos organizadores, a página criada no Facebook para convocação ao ato mostrava no início da noite desta terça mais de 190 mil pessoas convidadas pela rede social, mas menos de 13 mil respostas positivas.

Ainda assim, o governo do Estado anunciou um superesquema de segurança para esta quarta-feira, com 5.567 homens da Polícia Militar (aumento de mais de 50% em relação ao efetivo que protegeu as ruas no sábado, em que também houve protesto) e outros 1.500 soldados do Exército para proteger a cidade de possíveis atos de violência e vandalismo.

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Antes do início das manifestações, a prefeitura de Belo Horizonte havia decretado feriado nos dias de jogos no Mineirão, para facilitar o tráfego na cidade. Na atual situação, porém, o feriado pode ter o efeito de facilitar a ida das pessoas ao protesto.

Os organizadores da manifestação dizem pretender a realização de um ato pacífico, mas admitem que é difícil controlar a ação de pequenos grupos mais violentos infiltrados na multidão.

No sábado, enquanto Japão e México se enfrentavam no Mineirão, ao menos 15 pessoas ficaram feridas nos confrontos entre manifestantes e policiais que tentavam impedir a multidão de se aproximar do estádio.

Assim como em outras manifestações ocorridas em várias cidades do país nas últimas duas semanas, a polícia usou bombas de gás lacrimogêneo e tiros com balas de borracha para tentar dispersar a multidão.

Armados com pedras, grupos de manifestantes revidaram a ação da polícia e quebraram vidraças no caminho. Segundo a polícia, 32 pessoas foram presas na manifestação daquele dia.

Confronto ‘inevitável’

O comandante-geral da PM de Minas, Márcio Sant’Anna, afirmou no domingo que um novo enfrentamento entre manifestantes e policiais nesta quarta-feira será ‘inevitável’ e acusou ‘vândalos’ infiltrados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul de promoverem o quebra-quebra.

A própria seleção brasileira, que até agora tem sido poupada dos protestos violentos, receberá proteção especial, com o aumento do efetivo de segurança no hotel onde a equipe está hospedada, a poucos quilômetros do Mineirão.

O ônibus da equipe deverá ser escoltado até o estádio pela Polícia Federal. Há também um plano B, de transportar os jogadores por helicóptero, caso a polícia não consiga impedir que os manifestantes bloqueiem a passagem do ônibus.

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Apesar dos esforços da comissão técnica da seleção brasileira para separar a equipe dos protestos, jogadores e o técnico Luis Felipe Scolari voltaram a ser questionados sobre o tema nesta quarta-feira.

Pela manhã, o atacante Fred, que começou sua carreira no América Mineiro, de Belo Horizonte, disse apoiar a causa das manifestações, mas afirmou estar preocupado com a dimensão do protesto programado para a capital mineira nesta quarta-feira.

‘Isso me deixa preocupado. Mas acredito que a torcida que vai ao estádio irá nos apoiar como foi em Porto Alegre (na vitória de 3 a 0 contra a França, último amistoso antes do torneio), Brasília, Fortaleza, Salvador. Todos estavam unidos com a seleção. Esperamos que possamos alegrar esses torcedores nos 90 minutos’, afirmou.

No início da tarde, pouco antes do último treino da seleção antes da partida contra o Uruguai, o técnico Luis Felipe Scolari fez uma menção indireta aos protestos, afirmando esperar que ‘cada um faça seu trabalho e busque uma alternativa melhor, juntos’.

‘Juntos, não brigando entre as partes, para que no futuro, daqui a 5, 10, 20 anos, tenhamos um país como queremos realmente. Um país melhor. Que é o que todo mundo solicita em todas as áreas’, disse.

Apoio da torcida

Felipão voltou a convocar os torcedores brasileiros para que apoiem o time, como ocorreu nos jogos anteriores da seleção na Copa das Confederações.

‘Esperamos que amanhã a torcida de Minas faça diferença como as de outros Estados fizeram’, disse. Segundo ele, os adversários ‘sentem a pressão’ de jogar contra o Brasil em um estádio com até 70 mil pessoas apoiando a seleção.

A ‘campanha’ do técnico faz sentido. O Mineirão foi palco da última grande vaia recebida pela seleção brasileira, no empate em 2 a 2 com o Chile, em abril.

Desde então, porém, a equipe vem reconquistando o apoio dos torcedores brasileiros, graças a apresentações melhores e bons resultados – na primeira fase da Copa das Confederações, foram três vitórias em três jogos.

O vencedor do confronto entre Brasil e Uruguai deverá disputar o título da Copa das Confederações contra o vencedor da partida entre Espanha e Itália, que acontece na quinta-feira em Fortaleza. A final será disputada no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, no domingo.

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