do IG

 

O fenômeno foi mensurado pela pesquisa “De Volta ao País do Futuro”, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas: proporcionalmente, até 2014 as classes A e B somadas irão crescer quase três vezes mais que o ritmo de expansão da classe C. Nos próximos dois anos, nada menos do que 6,5 milhões de brasileiros, uma população equivalente a do Paraguai, alcançarão as faixas mais altas da pirâmide social.

Isso significa que eles terão renda familiar acima de R$ 6.220, carro para passear e vários eletrônicos e eletrodomésticos (tevê, geladeira, máquina de lavar, computador) equipando a casa. A maioria será formada em universidades, terá um plano de saúde para usar médicos e hospitais particulares e deverá viajar de férias uma vez por ano. Quase todos terão televisão por assinatura e banda larga doméstica. A Nova Classe Rica, portanto, deverá entrar para a história do governo Dilma Rousseff assim como a Nova Classe Média, a incorporação de 35 milhões de pessoas ao mercado consumidor, esteve para o governo Lula.

Do ponto de vista econômico, trata-se de uma equação já desenhada: mantido o atual ritmo de crescimento do PIB e de aumento da renda média, o Brasil assistirá, em algum momento dos próximos 18 meses, a um evento inédito. Pela primeira vez na sua história, haverá mais gente no cume da pirâmide social do que na base – até a eleição presidencial de outubro de 2014, deveremos contar cerca de 30 milhões de brasileiros ricos contra 20 milhões de brasileiros miseráveis.

Do ponto de vista político, a antiga mentalidade verá na expansão da Nova Classe Rica quase a contradição de um governo que fez do “Brasil sem Miséria” sua bandeira social. Muitos brasileiros ainda se indignam mais com a riqueza do que com a pobreza, mas nesse caso a leitura social é exatamente a oposta. O estudo da FGV mostra que o Brasil sepultou definitivamente o ciclo de concentração de renda das décadas de 1970 e 1980. E o objetivo final do programa de Dilma Rousseff nunca foi o de manter uma massa de excluídos, mas de justamente extingui-la. Aos poucos, um pedaço crescente do Brasil perde a vergonha de celebrar a a adição de seis novos bilionários na lista da revista Forbes (agora são 36) ou a assunção de quase duas dezenas de novos milionários por dia (agora são quase 150 mil brasileiros com mais de um milhão de dólares em investimentos de liquidez imediata).

 

Getty ImageEike Batista: o sétimo mais rico do mundo tem US$ 30 bilhões

A grande questão que a Nova Classe Rica suscita, para ela e para o futuro do país, está ligada ao retrato que fará de si mesma. Se herdar o comportamento individualista, patrimonialista e autoritário da velha elite, o Brasil será uma caricatura de país desenvolvido. Mas se essa nova força estiver baseada em igualdade de direitos e oportunidades, em progresso pelo esforço de cada um, no cuidado com os espaços coletivos, no aprimoramento intelectual e no refinamento do gosto, essa Nova Classe Rica mudará o patamar do Brasil uma segunda vez.

Autor: Luciano SuassunaTags: 

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