O Globo

BRASÍLIA e MAPUTO (Moçambique) – Sem conseguir conter a crise política que envolve o ministro do Esporte, Orlando Silva, e seu partido, o Palácio do Planalto já emitiu sinais de que seria melhor o PCdoB entregar logo o cargo e conduzir o processo de saída do ministro. Segundo interlocutores da presidente Dilma Rousseff, quanto mais demorar essa solução, mais o PCdoB e o governo ficarão fragilizados. Dilma chega nesta quinta-feira à noite da viagem à África e pode se encontrar ainda nesta quinta-feira com Orlando e com o presidente do PCdoB, Renato Rabelo. Dirigentes do partido já admitiam reservadamente que podem ficar sem o Ministério do Esporte, tamanho o desgaste político.

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O desgaste atinge não só o ministro, que está no foco de denúncias de irregularidades, mas todo o partido, uma vez que o PCdoB comanda a pasta há quase nove anos, desde o primeiro ano do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E desgasta a imagem do governo da presidente Dilma, que manteve o partido à frente do Esporte mesmo ciente dos desvios no programa Segundo Tempo nos últimos anos – a Controladoria Geral da União (CGU) apontou
irregularidades em 67 convênios e o governo cobra mais de R$ 49 milhões em recursos desviados por ONGs, prefeituras e governos estaduais desde 2006.

Enquanto estava em Moçambique, nesta quarta-feira, a presidente Dilma foi
informada por auxiliares do Palácio do Planalto que o tiroteio contra Orlando se
intensificou, apesar das explicações do ministro e da avaliação política de que
ele teve bom desempenho nos depoimentos na Câmara e no Senado. Já é reconhecido
no núcleo do governo de que o ministro do Esporte está extremamente fragilizado,
e que, se ficar no cargo, será uma espécie de “fantasma” até sua substituição
definitiva na reforma ministerial que deve ocorrer em janeiro.

Integrantes do PCdoB receberam o recado do Planalto. Procurado pelo GLOBO, o
presidente do partido, Renato Rabelo, reagiu à possibilidade de conduzir a saída
de Orlando. Disse que conversaria com a presidente Dilma para avaliar a
situação, mas adiantou que não aceita fazer acordo para a substituição do
ministro.

– Pela boa relação que temos, vou conversar com a presidente Dilma e ouvir a
opinião dela. Quando Dilma chegar, vou deixar claro que o ministro é dela. Ela é
que decide. Neste caso, a dinâmica (para desgastar os ministros) se repete. Mas
o PCdoB reage diferente. Há uma tentativa de desidratar o ministro e dizer que
ele é politicamente inviável – disse Rabelo. – Foi criada a seguinte situação:
“Como vou manter um ministro que está com desgaste?”. Mas o PCdoB não vai piscar
primeiro, não fazemos acordo assim. Vou falar para a presidente: “O ministro é
seu”.

Nas conversas de bastidores, setores do PCdoB apostavam na conversa com a
presidente para tentar reverter o quadro, embora já admitindo que, se não
receberem uma manifestação clara de apoio político de Dilma, a permanência no
governo ficará inviável.

– Na luta política, não adianta só o que é justo. Depende muito da capacidade
de reunir forças. E sem o governo do nosso lado, não teremos forças – reconheceu
um líder do PCdoB.

Uma outra preocupação, essa mais pragmática, rondava nesta quarta-feira o
PCdoB: os ataques ao ministro Orlando começam a atingir outros membros da
legenda, com potenciais prejuízos eleitorais nas eleições municipais do ano que
vem. Poderão respingar, principalmente, em nomes do partido que vão disputar
eleições majoritárias em 2012. É o caso das deputadas Manuela D’Ávila
(PCdoB-RS), para a prefeitura de Porto Alegre; Perpétua Almeida (PCdoB-AC), de
Rio Branco; o presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB-MA), para a prefeitura
de São Luís; e o prefeito de Olinda Renildo Calheiros, que deve disputar a
reeleição.

Os comunistas também constatavam que, se fosse na gestão do ex-presidente
Lula, o ministro Orlando Silva já estaria blindado – o ministro até já recebeu
um telefonema de solidariedade do ex-presidente, no fim de semana. De forma mais
discreta, Lula tem defendido a permanência de Orlando, segundo relato de
petistas.

Do outro lado, no governo, avalia-se que, apesar de Orlando Silva ter reagido
rapidamente às acusações, o ministro e o PCdoB erraram na condução da crise ao
partir para o ataque contra o governador Agnelo Queiroz (PT-DF). O PCdoB
responsabilizou Agnelo pela proximidade com o soldado João Dias, pivô do
escândalo envolvendo denúncias contra o programa Segundo Tempo.

– Não é inteligente colher inimigos entre os aliados, comentou um palaciano.

Diante disso, o PCdoB decidiu mandar emissários para tentar fazer uma
reconciliação com o governador petista e, com isso, evitar o fogo cruzado com o
aliado histórico. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, foi lacônico ao ser
questionado se o ministro tinha o apoio dos partidos da base aliada:

– Do PT, até o momento, sim – afirmou Rui Falcão sobre Orlando.

Entre os aliados, mesmo depois do depoimento de Orlando no Senado, o clima é
de espera por fatos novos para definir se sustentam ou não sua permanência no
cargo.

– A condição política do ministro não é boa, embora seja inquestionável que
ele está sendo firme, partindo para cima de seu delator. Mas não ajuda o fato de
ele aparecer todo dia nas páginas em denúncias de corrupção, e não para falar da
Copa ou das Olimpíadas. Ele terá o apoio até que tudo seja esclarecido. Mas se
acontecer um fato novo, ninguém segura – disse um cacique peemedebista.

Dilma monitora passos de Orlando

Da África, onde está desde a manhã de segunda-feira, a presidente Dilma está
monitorando todos os passos de Orlando Silva e a repercussão política da crise,
tendo avaliado nesta quarta-feira que os esclarecimentos feitos por ele no
Congresso foram adequados, porém não suficientes para afastar a pressão política
pela sua saída. Nem serviram para eliminar de vez as suspeitas que recaem sobre
ele. Quando voltar a Brasília, ela deverá tratar pessoalmente do assunto. Nesta
quarta-feira, Dilma chegou a Maputo, onde se encontrou com empresários
brasileiros do setor de mineração e da construção civil e depois teve reunião
com o presidente Armando Guebuza.

Para tentar minimizar o clima de apreensão na comitiva presidencial na
África, o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco
Aurélio Garcia, repetia nesta quarta-feira o discurso inicial da presidente
Dilma, de que o governo continua se valendo da presunção de inocência. E
criticou as denúncias sem provas do soldado da PM do Distrito Federal João Dias
Ferreira, ex-filiado do PCdoB:

– Ele (João Dias) não tem currículo, ele tem prontuário. Quero ver como ele
vai sair dessa.

Além dos depoimentos do ministro e de outras denúncias sobre irregularidades
em convênios do Ministério do Esporte, Dilma acompanha atentamente, da viagem,
as providências e apurações da Controladoria Geral da União (CGU). O comando do
órgão tem mantido a presidente informada sobre a existência ou não de
comprometimento do ministro em desvios já constatados.

Leia mais
sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/10/19/planalto-avisa-ao-pcdob-que-partido-deve-entregar-logo-esporte-ministro-cargo-925618503.asp#ixzz1bJSRDWN7

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