O soldado israelense Gilad Shalit, que passou cinco anos em cativeiro na Faixa de Gaza, foi libertado na madrugada desta terça-feira, no Egito, após o acordo entre Israel e o grupo islâmico Hamas que prevê a libertação de centenas de prisioneiros palestinos.

Em entrevista à TV egípcia, Shalit disse esperar que o acordo possa levar a um acordo de paz entre os dois povos. “Tenho esperança de que a cooperação entre os dois lados seja consolidada”, afirmou.

Shalit foi levado de Gaza para o Egito e, em seguida, entregue a autoridades no lado israelense da fronteira, onde era aguardado por seus familiares. Israel afirmou que seu estado de saúde é bom.

Na entrevista para a TV egípcia, o soldado de 25 anos descreveu seu período de cativeiro em Gaza como “anos de solidão”, mas disse que sempre acreditou que seria “libertado algum dia”. Ele disse que soube que seria libertado “há uma semana”.

 

Shalit disse sentir “falta de encontrar pessoas normais”, conversar e contar
sobre sua experiência. “Tenho muito o que fazer quando estiver livre”, afirmou.
“Obviamente sinto muita falta de minha família e de meus amigos.”

Ao mesmo tempo em que Shalit era libertado e entregue a autoridades
israelenses, uma primeira leva de 477 prisioneiros deixava prisões israelenses a
caminho do Egito. De lá, eles atravessaram a fronteira para a Faixa de Gaza, em
Rafah, onde foram recebidos por uma multidão de palestinos.

Mais tarde, os ex-prisioneiros palestinos devem participar de uma grande
festa de recepção preparada pelo Hamas na Cidade de Gaza. A movimentação chegou
a sofrer atrasos depois que duas prisioneiras palestinas se recusaram a ser
deportadas para Gaza, mas o problema já teria sido resolvido.

Ao todo, Shalit será trocado por mais de mil prisioneiros palestinos, dos
quais 477 estão sendo soltos nesta terça-feira. Dentre esses, 280 haviam sido
condenados à prisão perpétua pela morte de civis israelenses.

Israel terá agora de cumprir a segunda parte do acordo. Nos próximos dois
meses, 550 outros prisioneiros devem ser libertados. Os nomes desses presos
ainda não foram definidos.

Captura

Shalit foi capturado em 25 de junho de 2006, quando tinha 19 anos, por
militantes palestinos ligados ao Hamas. Ele servia em um posto do Exército
israelense na fronteira com a Faixa de Gaza. Meses depois, o Hamas assumiu a
tutela de Shalit.

Desde então, foram feitas várias negociações para a troca do soldado por
prisioneiros palestinos. As conversas nunca progrediram. Um ano após o
sequestro, o Hamas divulgou um áudio no qual Shalit dava provas de que estava
vivo. Em outubro de 2009, o soldado apareceu em um vídeo.

Os pais de Shalit, Noam e Aviva, passaram a liderar um movimento para a
libertação do filho, que ganhou a adesão de israelenses, que se juntaram em
grandes manifestações. Nos últimos meses, ativistas montaram um acampamento em
frente à residência do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, para
pressionar o governo a assumir um acordo.

Conexões brasileiras

Um dos liberados em troca de Shalit é Tawfic Abdallah, preso com a mulher, a
brasileira Lamia Maruf, em 1986, dois anos após o assassinato do soldado
israelense David Manos. A pista que levou as forças de segurança israelenses a
prenderem o casal foi o fato de que o carro utilizado para o sequestro do
soldado foi alugado com o passaporte brasileiro de Lamia.

Embora tenha afirmado não ter envolvimento no assassinato, Lamia também foi
condenada à prisão perpétua, da qual cumpriu 11 anos, até ser libertada em
fevereiro de 1997, após um acordo similar ao atual.

Quem também foi incluído na primeira lista é Husan Badran, condenado por
planejar o atentado à pizzaria Sbarro, em Jerusalém, que provocou a morte de 15
pessoas, em 2001. Entre os mortos estava o brasileiro Giora Balazs, de 68 anos.
A esposa de Balazs, Flora, e sua filha, Deborah, ficaram feridas pelos
estilhaços da explosão.

Fortalecimento do Hamas

O acordo firmado deverá fortalecer o grupo islâmico Hamas e
enfraquecer seus rivais laicos do Fatah e a Autoridade Palestina, opinam
analistas. No dia posterior ao acordo, o analista militar do jornal Haaretz,
Amos Harel, disse que haveria um “fortalecimento dramático” da posição do
Hamas.

“Os pontos que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, ganhou
com o pedido de reconhecimento (do Estado palestino) na ONU, enfrentando o
governo americano, são insignificantes comparados com o lucro político que o
Hamas obterá desse acordo”, afirma o analista.

O assessor de Segurança Nacional de Netanyahu, Yaacov Amidror, também opina
que o acordo dará força ao Hamas, considerado por Israel um grupo terrorista. “O
Hamas ganha pontos e se fortalece às custas do Fatah”, disse Amidror à radio
estatal israelense, Kol Israel. No entanto, Amidror afirmou que o acordo firmado
entre Israel e o Hamas para libertar Shalit é o “melhor possível nas
circunstâncias atuais”.

Ele mencionou as mudanças nos regimes do Oriente Médio, decorrentes da
chamada Primavera Árabe, como um fator catalisador para o acordo, agregando que
a instabilidade que vigora na região levou o governo israelense a se apressar em
concluir o plano porque “ninguém sabe o que acontecerá no futuro”.

Com BBC

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