“O Brasil passa pelo seu melhor momento dos últimos 500 anos”. Com essa declaração, que provocou risos na platéia, o banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, abriu sua palestra realizada nesta quinta-feira durante o 1º Congresso Nacional de Hospitais Privados, em São Paulo.

Em 2010, o BTG Pactual associou-se à Rede D´Or, maior rede hospitalar independente do Brasil.

Falando para uma audiência “atípica” da que costuma ver em suas apresentações, segundo ele mesmo reconheceu, o investidor defendeu o fim da restrição ao capital estrangeiro no setor de hospitais e comparou o Brasil de hoje aos Estados Unidos dos anos 50.

“Por que estrangeiros não podem ser sócios de hospitais no Brasil? O governo tem medo que o investidor estrangeiro vá embora e leve o hospital debaixo do braço para a França?”, ironizou o empresário. A restrição ao capital estrangeiro, segundo ele, é uma “bobagem” e a crítica vale para todos os setores.

Brasil não é a China, nem a Índia, nem a
Coreia

Na visão de Esteves, o Brasil de hoje equivale aos Estados Unidos da década
de 50, apesar de ser sempre comparado com os demais países emergentes –
conhecidos por Bric. “Mas o Brasil é muito diferente da Coreia do Sul, da China
e da índia. O País não tem nada a ver com esses países. Os EUA de 50 anos, 60
anos atrás são a melhor comparação com o Brasil de hoje”, avaliou o
investidor.

Segundo ele, assim como os EUA, a população brasileiral é formada por
descendentes de pessoas vindas da Europa, África e Japão. E, assim como ocorreu
nos EUA, o Brasil está passando por um processo de transformação para um país de
classe média.

Diferentemente dos países asiáticos, a poupança no Brasil é baixa e
dificilmente isso será diferente. “Nem fazendo uma plástica e puxando os olhos
de todos os brasileiros, nós não vamos ter a mesma poupança dos asiáticos. Essa
é uma questão cultural”, disse Esteves.

Inflação, câmbio e o peso do estado

Sobre os fundamentos econômicos do País, Esteves afirmou que nem a inflação,
nem o endividamento, nem mesmos os gargalos no setor de infraestrutura são tão
preocupantes como parecem. “Há pressão inflacionária no Brasil, mas a inflação
não é igual à inflação de 20 anos atrás”.

Sobre a questão do endividamento, “o Brasil não tem nenhum problema quanto a
isso”, disse o banqueiro. Diferentemente da situação de Portugal, Espanha,
França e Itália, a dívida brasileira equivale a apenas 40% do PIB. “Essa
fotografia já seria ótima, mas o filme é ainda melhor. A dívida está caindo. Em
2012, será ainda menor”.

“E a questão da infraestrutura é a que menos me preocupa. Os problemas de
infraestrutura são oportunidades”, disse Esteves. “Os estádios estarão prontos
para a Copa. Pode ser que no dia do jogo ainda tenha um sujeito pintando as
cadeiras, mas o estádio estará lá”, brincou o banqueiro.

Na sua avaliação, o problema tributário é mais sério que câmbio. O câmbio,
segundo ele, só mostrou ser “flutuante de verdade”. “O câmbio, porém, é um
problema de todos os países. Mas o sistema tributário não, esse é um problema só
nosso”, disse Esteves.

O excesso de tributação atrapalha a competitividade do País. “Sem resolver
esse problema, vamos mediocrizar o potencial de crescimento do País”.

Europa está pior que os EUA

 

Foto: Reuters Ampliar

Europeus terão de baixar padrão de vida

Segundo Esteves, é o mundo ocidental que está em crise. “Teremos que andar
com o cinto de segurança apertado, porque o carro vai sacudir”.

“Mas o mercado é um termômetro do que está acontecendo. Colocar a culpa no
mercado é o mesmo que quebrar o termômetro para acabar com a febre”,
afirmou.

Na sua avaliação, a crise na Europa é pior que a dos Estados Unidos. “O
desafio dos EUA é como crescer. Mas a taxa de desemprego do país é de apenas 9%.
No passado, se o Brasil tivesse esta taxa, estaríamos comemorando.”

Mas, no caso do bloco europeu, o mundo nunca viveu uma crise dessa proporção.
“Os europeus terão de trabalhar mais para manter um padrão de vida mais baixo.
Se você quiser se aposentar com 52 anos, essa é uma opção, mas você não pode ter
o mesmo padrão de vida. Essas mudanças serão traumáticas, vão trazer angústia e
volatilidade”.

Investimento no setor de saúde

Esteves acredita que o modelo brasileiro no setor de saúde é mais flexível,
com a convivência de investimentos públicos e privados, e isso é positivo.
“Quanto mais flexível melhor e o País deveria seguir nessa linha”.

O empresário, porém, criticou as Parcerias Público Privado (PPPs). “Não sou
otimista. Nem no setor de saúde como em nenhum outro setor”, disse Esteves.

Ao ser questionado sobre o investimento na Rede D’or, Esteves respondeu que
não tem a preocupação de ser seguido por outros investidores. “A gente faz
muitas coisas que os outros não fazem”, brincou.

“Quando investimos em uma empresa, é uma companhia que gostaríamos ter para
sempre. Eventualmente, vamos até vendê-la. Mas não temos esse horizonte. Se
ficarmos 20 anos, tudo bem. Tecnicamente, não podemos abrir o capital (da Rede
D’or), mas tudo bem”, respondeu.

Como os estrangeiros não podem ser acionistas de hospitais no Brasil, as
empresas do setor também não podem ter ações negociadas na Bolsa de Valores

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