Osvaldo Lyra – EDITOR DE POLÍTICA/ Tribuna

O prefeito de Feira de Santana, Tarcízio Pimenta, deixou o DEM e se filia na próxima sexta ao PDT. Mesmo passando a integrar a base aliada do governo, ele diz não alimentar expectativas sobre o apoio do governador Jaques Wagner em 2012, que deverá ter o petista Zé Neto como candidato em Feira. Nesta entrevista, o prefeito da maior cidade do interior baiano fala sobre as
dificuldades enfrentadas no município, da falta de ajuda do governo e, nas entrelinhas, faz críticas ao seu antecessor José Ronaldo, a quem diz ter deixado o caminho livre para se candidatar pelo antigo partido. “O DEM não pode apresentar dois candidatos e não é prática do DEM fazer prévias”. Tarcízio Pimenta aproveita ainda para minimizar a crise gerada com a exclusão do senador João Durval do comando da sigla em Feira.

Tribuna – Qual expectativa com a entrada no PDT?
Tarcízio Pimenta
A questão do PDT a gente vem tratando há algum tempo. Desde o momento que me desfiliei do DEM (Democratas) procurei observar a questão das legendas e procurei ver a questão jurídica e partidária. Por influência de alguns amigos, a gente teve um caminho que nos levou até o Carlos Lupi (ministro do Trabalho), presidente nacional do partido (PDT). Logo no primeiro contato ele me fez o convite para ingressar no partido, isso há mais de 60 dias. Conversei também com
o (Alexandre) Brust, o presidente estadual do partido, quando falamos sobre as cidades que têm gestão do PDT. Foi aí que Brust me disse que Feira de Santana poderia ser um polo para puxar mais lideranças para o PDT, agregar mais e fazer o partido crescer regionalmente. O PDT é um partido que tem facilidade para a gente falar. Tem a história do brizolismo, tem a história do trabalhador, tem a história das lutas pelos trabalhadores.

Tribuna – Os tensionamentos já eram previsíveis?
Pimenta –
Eu disse desde o início que não entraria no partido para criar nenhuma
dificuldade, não gostaria também de ter arestas. Gostaria de entrar no partido
de uma forma muito transparente, sem agressões, sem discussões.  Desde o início
eu disse que Feira tinha uma figura exponencial no partido, o senador João
Durval. Disse que ele teria que ter conhecimento da filiação e saber de todas as
informações. Tanto que estive em Brasília e conversei com o senador. Ele não
colocou nenhum empecilho, não colocou nenhuma dificuldade e disse que eu era
muito bem-vindo ao PDT. As conversas foram por aí. Conversei com ele por
telefone outras duas ou três vezes e ele disse que não tinha problema. Conversei
também com o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo (PDT). Uma das
pessoas que mais me incentivaram não posso deixar de fazer referência, foi o
deputado João Bonfim (PDT), foi com ele que eu estive em Brasília no gabinete do
presidente do partido.

Tribuna – O que levou o senhor a deixar o DEM e aderir ao governo?

Pimenta – Eu não colidi com os democratas e não fiz nenhuma ação
para tentar prejudicar o partido. Eu só tenho a agradecer pelo período que
estive no DEM. Pelo DEM eu me elegi, a composição política do momento era
favorável, mas agora o cenário do partido, principalmente aqui em Feira, é
desfavorável, já que tem o ex-prefeito José Ronaldo. Como candidato à reeleição
ficava difícil discutir a questão de legenda dentro do DEM. Reconheço que a vida
política do ex-prefeito José Ronaldo no DEM é muito maior do que a minha. Seria
uma incoerência da minha parte e até uma ingratidão tentar disputar com ele a
legenda em Feira. Então, o que foi que eu fiz? Deixei o partido à vontade e
deixei ele com o caminho livre para ser candidato. Daí eu tive que procurar uma
alternativa, procurar novos caminhos. Não tenho nada a criticar, é uma questão
apenas de sobrevivência política. O DEM não pode apresentar dois candidatos e
não é prática do DEM fazer prévias.

Tribuna – Será que não houve precipitação de sua parte?
Pimenta
Precipitação seria eu ficar na legenda e depois não ter legenda para
me candidatar, não ter tempo hábil para preparar os partidos, para ter
candidatos a vereadores e, diante desse cenário todo, eu estaria completamente
imobilizado no DEM.

Tribuna – O senhor teme a candidatura de José Ronaldo em
2012?
Pimenta –
Não é questão de temer. A candidatura dele é uma
candidatura que só pode nascer e só nasceria dentro do DEM. Como eu iria
disputar uma candidatura no partido sabendo que eu já entraria com desvantagem?
O ex-prefeito José Ronaldo é muito mais DEM do que eu. Ele tem uma vida
político-partidária ligada a esse grupo muito mais do que eu. Até por uma
questão de gratidão, por uma questão de coerência do partido, ele seria o
candidato de qualquer jeito. Isso é um fato que em qualquer bar, qualquer
esquina, em qualquer boteco em Feira de Santana todo mundo sabe disso. Como é
que eu entro numa disputa desleal dessa?

Tribuna – Voltando à questão do senador João Durval, causou mal-estar
a exclusão dele da executiva do partido em Feira?
Pimenta –
Veja
bem. Eu não tenho nenhuma participação nisso. A meu ver não houve exclusão
nenhuma nem haveria. O que eu sei é que a ideia era que o senador assumisse o
partido em Feira. Acho que João Durval é a figura mais importante do partido, é
a figura que encarna o PDT como liderança maior, como senador, e ele poderia
muito bem ser o condutor do partido. Se ele assumisse o partido, daria
tranquilidade a todos, aos que já são do partido e aos que possam vir para o
PDT. Eu defendo sempre isso. Não terei nenhuma restrição com o senador João
Durval. Muito pelo contrário. Ele é uma figura que tem respeitabilidade, tem
todas as qualificações políticas e se ele viesse a conduzir o PDT regional em
Feira para a gente seria uma tranquilidade muito grande.

Tribuna – O detalhe é que ele rejeitou fazer parte do diretório de
Feira…
Pimenta –
Olha, é como eu estou lhe dizendo. Essa questão
de diretório não sou eu quem decide. Essa é uma questão que tem que ser vista
com Alexandre Brust, que é o presidente estadual do partido, e com Carlos Lupi,
que é o presidente nacional. Se eu nem entrei no PDT ainda como é que eu vou
estar mandando em diretório? Eu estou aqui como segurador de bandeira do
partido. Mais adiante, quando eu começar a fazer meu trabalho, fazer
aglutinações políticas, começar também a contribuir com o PDT, aí eu posso
começar a ter algum prestígio no partido. Por enquanto eu sou um soldado.

Tribuna – Existem críticas e comparações entre sua gestão e a do
período de José Ronaldo. Sua administração está fragilizada?
Pimenta –
O governo de Feira de Santana, eu diria que é o governo do diálogo, da
negociação. É um governo onde a gente respeita os trabalhadores da prefeitura,
os funcionários públicos, é um governo onde, graças a Deus, a gente tem mantido
as contas da prefeitura em dia, regularizamos tudo. As dificuldades enfrentadas
todas foram solucionadas, hoje não tem cobrador na porta da prefeitura. Hoje, a
prefeitura de Feira, para você ter uma ideia, ela supre deficiências de repasses
financeiros do governo federal. A gente paga nossos funcionários no dia 25, até
hoje (22) o governo federal não repassou a verba para a saúde, no entanto, a
gente já mandou a folha (de pagamento) hoje (sexta-feira, 22) para os
trabalhadores recebem seus salários na próxima segunda (hoje). Feira de Santana,
para você ter uma ideia, é a cidade que mais assinou com o programa Minha Casa,
Minha Vida e isso é fruto da administração municipal ter criado instrumentos
como redução do ISS para construção civil, bons projetos na área de habitação
popular. Feira é a cidade que tem o melhor sistema de saúde pública implantado
no Brasil. Quando eu cheguei à prefeitura, dificilmente se ouvia falar em
computador, tudo era na mão. Agora o pagamento da prefeitura é todo on line. O
desgaste que você tem é o desgaste de um governo que vive praticamente com os
próprios recursos. Os acordos que você consegue ter entre governos estaduais e
municipais são muito poucos.

Tribuna – Então não tem receio de comparações com seu
antecessor?
Pimenta –
É inevitável que haja comparação. Isso vai
acontecer. Agora, querer comparar dois anos com oito anos é meio desleal. Isso é
que é desleal. Se for querer comparar uma administração bancada pelo governo do
estado com uma administração que não teve apoio, pelo menos até o momento, com
ações mais decisivas, é muito difícil. Hoje, manter a cidade de Feira
funcionando é quase um ato heroico. Os serviços da cidade não ficam paralisados.
Hoje você tem uma saúde funcionando plenamente, você tem uma educação melhorando
de forma bastante substancial. Portanto, são coisas com investimentos na área
social que mostram a diferença.

Tribuna – Como está a questão da sua base aliada?
Pimenta
A base política está sendo feita com todos os partidos que me davam
apoio, devem e vão continuar me apoiando. Não creio em dificuldades maiores,
não. Na Câmara tem os 17 vereadores que sempre estiveram com o governo. Agora,
você administrar com apoio e com participação às vezes se torna mais fácil. O
ex-prefeito José Ronaldo, por exemplo, teve seu mandato praticamente ligado ao
governo do estado, isso facilitava muito. Muitas vezes o governo do estado fazia
obra aqui e a obra era creditada como da prefeitura. Assim é mais fácil, mas nem
por isso a gente está deixando de tocar bem a prefeitura. Para você ter uma
ideia, a prefeitura hoje é uma grande parceira do governo do estado, em várias
áreas. Segurança pública, por exemplo, que nunca deram atenção no município,
hoje temos viaturas rodando na zona rural que foram compradas pela prefeitura
para a polícia trabalhar. Temos um sistema de câmeras na cidade instalado pela
prefeitura. Essas parcerias são feitas para que a cidade possa funcionar.

Tribuna – A candidatura de Zé Neto (PT) é uma ameaça a seu plano de
reeleição?
Pimenta –
Em hipótese alguma. Veja bem, eu ingressando no
PDT, não significa dizer que eu serei o candidato apoiado pelo governador. Eu
acho que o deputado Zé Neto é o candidato oficial do PT, é o candidato que está
lá efetivamente na berlinda. Seria talvez até uma deslealdade querer vê-lo de
forma contrária e acho que se o governador Jaques Wagner (PT) decide que vai
apoiá-lo, decide por manter a candidatura dele, é uma coisa muito lúcida, muito
clara. De forma nenhuma isso deve ser visto como ameaça, pelo contrário, acho
que é uma disputa. Acho justo que ele seja o candidato do PT.

Tribuna – O senhor espera apoio ou que o governador haja com
neutralidade no primeiro turno em Feira?
Pimenta –
Eu quero dizer a
você o seguinte: nunca tratei de nenhum assunto político com o governador. As
audiências que tive com ele foram todas administrativas. Nunca sentei com ele
para discutir sucessão nenhuma, nunca sentei com o governador para conversar
sobre questões que poderão surgir de uma entrada no PDT. Não tivemos essa
oportunidade ainda, mas com certeza vamos ter. No momento que isso for possível,
nós vamos conversar e afinar toda essa discussão.

Tribuna – Mas o senhor gostaria que ele se posicionasse de forma
neutra na primeira fase do pleito, já que o senhor e Zé Neto seriam candidatos
da base?
Pimenta –
É como eu estou lhe dizendo, isso é uma questão
que eu não sei a estratégia que vai ser utilizada. A estratégia que eu vou
utilizar vai ser ganhar a eleição. Agora, quanto às estratégias outras que serão
utilizadas eu não sei o que está sendo discutido. Não discuti sobre isso. O que
eu sei é que tudo isso são caminhos que podem ser percorridos na sequência.

Tribuna – A deputada Graça Pimenta fez críticas ao governo nos
últimos dias, uma delas sobre o abandono das obras do Centro de Convenções de
Feira. Isso pode ter causado algum mal-estar na base que o senhor está
ingressando agora?
Pimenta –
De jeito nenhum. A deputada está
fazendo o trabalho dela. Ela está no Partido da República (PR), deve continuar
no PR, isso não vai afetar em nada a vida política dela. O que ela tem levantado
são questões relativas ao bem-estar da cidade. Seria até incorreto da parte da
deputada se ela não fizesse as críticas. Como política e representante do
município, ela tem que cobrar, como os outros deputados também.  Tem que fazer
as cobranças porque é daí que vem a solução. Isso é natural, tem que cobrar
mesmo. Isso de forma nenhuma é demérito ou seria agressividade. Ela falou o que
todo mundo fala aqui na cidade, que a obra está paralisada.

Tribuna – A criação da Região Metropolitana de Feira de Santana
levará benefícios específicos e claros à cidade ou foi mais uma estratégica
política do deputado Marcelo Nilo (PDT)?
Pimenta –
Trará benefícios
sim a Feira e às cidades que integram a RMFS. É preciso ter em mente uma
situação muito importante: o Estado tem que ter a sensibilidade, tem que ter a
percepção de que a criação dessa região metropolitana necessita de um núcleo de
organização de projetos para que a Região Metropolitana se plante. Porque se for
ficar dependendo de projetos de municípios menores que estão na região, que não
têm sequer uma secretaria de planejamento, vai ficar muito difícil as coisas
acontecerem. Porque a região metropolitana permite a possibilidade de se ter um
hospital metropolitano, um batalhão policial metropolitano. É uma série de
questões que a gente pode concentrar numa região metropolitana, mas temos que
ter uma gestão pública, uma gestão de técnicos que possam desenvolver esses
projetos e esses projetos chegarem a nível federal e até a nível estadual, caso
contrário, fica só no papel. É importante que os deputados e o governo do estado
entendam isso e façam as ações para isso se tornar viável.

Colaborou: Romulo Faro

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