Osvaldo Lyra -EDITOR DE POLÍTICA/Tribuna

Apesar de considerar ainda cedo para um perspectivo anúncio de nomes para as eleições municipais de 2012, o deputado federal Rui Costa (PT) defende o correligionário deputado federal Nelson Pelegrino como pré-candidato do PT para a sucessão ao Palácio Thomé de Souza, em Salvador. Confiante de que o bom senso prevaleça na briga pela prefeitura, o deputado aposta no afunilamento em torno de um só nome dentro da base que compõe o governo Wagner. O petista mais votado em 33 municípios baianos descarta seu ingresso na disputa de Lauro de Freitas, mas enfatiza o objetivo da sigla de conquistar pelo menos 100 prefeituras. Ele aproveita para alfinetar os oposicionistas. “Não acho que a maioria da cidade se alinhará à candidatura de quem se confronta com a presidenta Dilma e o
governador Jaques Wagner”.

TB – O senhor é o homem forte da articulação do governo. Tem algum
objetivo especial para 2012?
RC –
Não. Meu objetivo é partidário. É um objetivo de, junto com os outros deputados federais, deputados estaduais e a direção do PT, conseguir em 2012 eleger o maior número de prefeitos possíveis e o maior número de vereadores, seja do PT ou seja, daqueles que o PT se coligue
nos municípios. O PT tem hoje 67 prefeitos, e acho que o partido pode ir a pelo
menos 100 prefeitos, o que é algo bastante factível e podemos também, em aliança
com outros partidos, chegarmos a 300 prefeitos.

TB – Como o
senhor analisa a disputa para as eleições municipais de 2012 na capital baiana?

RC – Ainda é muito cedo para falar sobre a disputa em Salvador,
aliás, não só em Salvador, como em outros municípios. Nós estamos ainda a um ano
e três meses das eleições. Evidente que os bastidores começam antes, mas o povo
só pensa em eleição mesmo entre maio e junho, eu diria que todos pensam, mesmo,
após o São João. No entanto, é claro que o jogo partidário e as conversas
começam desde já. Acho que o PT entra com força e eu tenho confiança de que nós
conseguiremos eleger o candidato do Partido dos Trabalhadores nas eleições de
2012 aqui em Salvador.

TB – A base demonstra estar dividida em
Salvador com todos os aliados querendo ter candidatura. Qual a estratégia do
governo?
RC –
Eu não diria que está dividida não porque é muito
cedo ainda. É natural que qualquer um queira fazer o seu partido crescer, e
ninguém faz um partido crescer anunciando que não vai ter candidato. É evidente
que essa não é a melhor tática de crescimento de partido. Portanto, todos os
partidos, obviamente, a um ano das eleições, têm que ter no horizonte essa
perspectiva de ter candidato em todas as cidades. Mas eu diria que o jogo mesmo
da sucessão vai acontecer nos primeiros meses do ano que vem. É a partir dos
mêses de janeiro e fevereiro que nós entraremos na reta final do processo e a
partir daí que os partidos devem reavaliar se os candidatos deles cresceram ou
não na opinião pública. E isso vale para todos os partidos. Tem municípios onde
o PT tem dito que vai ter candidato, mas pode ser que, quando chegar março, o
partido perceba que o candidato não decolou, com isso verá que será melhor
compor com outro partido que está em melhor situação. Não é só legítimo, como é
fundamental para estratégia de crescimento dos partidos, pois isso faz com que
atraia para a prateleira dos partidos vereadores fortes, é estratégia de
fortalecimento. A um ano e três meses antes das eleições, não considero que a
base do governo esteja rachada, pois essa realidade de a base ter mais de um
candidato poderá se materializar ou não. Acho que o bom senso vai prevalecer e
deve haver um processo de afunilamento com a candidatura daquele que está em
melhor situação. Aqueles que não se convencerem, que acharem que mesmo não
estando pontuando bem podem avançar no processo eleitoral, nós ainda temos a
chance do segundo turno.

TB – O deputado federal Nelson
Pelegrino tem sido colocado como o nome do PT, mas, nos bastidores do próprio
partido, fala-se que sua pré-candidatura demora pra ganhar força.
RC
Eu não considero isso não. Eu já vi sondagens feitas por outros
partidos e outras pessoas que tive acesso e Nelson está muito bem colocado nas
pesquisas. No PT, o processo formal de decisão ainda não aconteceu. Ele reúne
hoje um amplo apoio dentro do partido para ser o candidato. Agora também acho
muito prematuro esse fechamento de questão porque repito: está muito longe. É
preciso que as coisas ganhem um ar de naturalidade. Eu considero sempre que a
política deve ser dominada pela naturalidade dos fatos. Toda vez que você tenta
alterar e forçar a naturalidade dos fatos não funciona bem. Então, acho natural
que o processo se dê dentro do partido ou fora do partido e nós temos tempo
suficiente. Em setembro vamos ter um congresso do PT que vai, inclusive,
rediscutir os casos de disputa dentro do partido. Hoje, pelo estatuto, quando há
duas pessoas querendo ser candidato se faz uma prévia. Existem teses que vão ser
debatidas, que propõem que não sejam feitas mais prévias, por desgastar os
candidatos que participam. Nenhum método de definição de candidatura ainda teve
martelo batido no PT.

TB – Na hipótese de o nome de Pelegrino
não ganhar fôlego, a carta na manga do PT seria o senador Walter Pinheiro?
RC
Eu não trabalho com essa hipótese. Em política você não pode
trabalhar com hipóteses porque isso não ajuda a construir a estratégia. Política
é aposta, é você acreditar. Política é também uma ação de fé. Você faz uma
aposta e constrói um caminho para aquela aposta. Como outras coisas na vida,
política é uma ação de fé. Você não pode dizer: ‘Eu tenho três estradas e vou
tentar pavimentar as três’. Quem escolhe três não consegue pavimentar nenhuma.
Você escolhe uma e vai pavimentar aquela estrada e fazer com que aquele caminho
tenha êxito. A partir de setembro, quando a regra do jogo tiver definida em
nível nacional, nós vamos definir uma data para escolher o candidato interno e a
partir dessa definição aí sim nós começaremos a afunilar esse debate. Eu acho
que o nome de Nelson é um nome que vai reunir apoio de outros partidos. Evidente
que se tivermos cenários diferentes a esse, o partido, seja em Salvador ou em
outros municípios, vai ter que sentar e analisar.
TB – Uma suposta chapa formada pelos deputados federais ACM Neto
(DEM) e Antonio Imbassahy (PSDB) seria uma ameaça ao sonho do PT de assumir o
Palácio Thomé de Souza?
RC –
Eu não acredito nisso, primeiro porque
o nome de Imbassahy (Antonio) já provou na eleição passada que não reúne esse
amplo apoio popular que ele acreditava ter. Mesmo porque ele já teve dois
mandatos de prefeito, o que nos traz aquela velha máxima: quem não fez quando
pôde não vai fazer quando puder. Isso eu acho que vale para o caso dele. No caso
de ACM Neto, eu não aposto. Evidente que tem um público e um eleitorado
conservador, ou que representa os valores conservadores ou até mesmo que
contestem eventualmente o governo federal e do estado que se alinharão ao
projeto dele. Mas, eu não acho que a maioria da cidade se alinhará à candidatura
dele, que faz frontal polarização aos governos do estado e federal. A
Presidência da República e o governo do estado – os dois fazem uma gestão
republicana e que buscam atender independente do partido político – mas mesmo
assim Salvador já foi maltratada demais nos últimos anos e precisa de alguém que
consiga pensar a médio e longo e prazo e que aponte soluções urgentes para os
seus problemas. Está impossível viver nessa cidade do ponto de vista da
mobilidade urbana e do tráfego. As pessoas são maltratadas e a cidade tem um
transporte publico de péssima qualidade. O município ainda é muito carente,
principalmente em seus grandes aglomerados urbanos, a exemplo do Nordeste de
Amaralina, do miolo da Chapada e do Bairro da Paz, que precisam, sobretudo, de
projetos de requalificação, além das áreas mais tradicionais e do Subúrbio. É
preciso haver um prefeito que não meça esforços, não meça nenhum tipo de
dificuldade ou constrangimento pessoal para fazer parcerias necessárias com o
governo estadual e federal para materializar aquilo que Salvador precisa. Eu não
acredito, sinceramente, que Salvador apostará numa candidatura que tenha
confronto, principalmente no estilo que o (ACM) Neto faz com a presidenta Dilma
e o governador Jaques Wagner. Eu não acredito que a maioria da cidade aposte
nisso. Ele talvez possa sair na frente nas pesquisas em função de ele ter um
público cativo, que votou nele nas eleições de 2008, mas 70% disse que não
queria ele como candidato. Ele até pode sair na frente com 20%, enquanto não
tiver candidatura definida na base do governo, mas à medida que se afunile isso,
acredito que o candidato da base será o vencedor da eleição e eu aposto que esse
candidato seja o do PT.  Vamos ter vários investimentos na cidade, a exemplo do
estádio (Arena Fonte Nova), a ponte (Salvador-Itaparica) e o sistema viário.
Espero que consigamos materializar os projetos de mobilidade para melhorarmos a
viabilidade urbana. Isso tudo terá reflexo na eleição.
TB – Sobre a sucessão à prefeita Moema Gramacho em Lauro de Freitas,
tem lhe empolgado uma possível candidatura?
RC –
Não é que não me
empolgue, mas eu acho que nós temos que ter metas e nós assumimos compromissos
com a população. Eu sou muito de honrar os compromissos que assumo. Essa
hipótese nunca foi colocada, Moema nunca colocou essa hipótese, mas eu fico
orgulhoso, confesso, em ter meu nome lembrado para prefeitura de Lauro de
Freitas. Mas fiz um compromisso no ano passado, rodei muitos municípios e fui o
mais votado em 33 municípios, o segundo mais votado em 18 cidades, o terceiro
mais votado em 17 cidades, tendo 212 mil votos. Quando percorri esses lugares,
eu disse para a população desses municípios que queria representá-los no
Congresso Nacional e junto ao governo do estado, portanto eles confiaram em mim.
Por mais que me encha de orgulho ao ser lembrado para a disputa, ingressar nela
significa dizer que estou traindo o que eu combinei com essas pessoas.
TB – O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Marcelo Nilo,
admitiu que pode  trabalhar para suceder Wagner. Como observa essa
possibilidade?
RC –
Acho um direito de todos tentarem se viabilizar
para as eleições de 2014, mas acho também muito precipitado qualquer anúncio de
nome para 2014. O governador nem completou ainda o seu sexto mês de governo e
nós ainda temos as eleições de 2012. Se para 2012 acho cedo afunilar os nomes,
quanto mais 2014.  Nós temos que começar a partir do segundo semestre a
preparação para as eleições de 2012, começar a mapear os municípios e articular
os nomes, conversar com os partidos e parlamentares porque isso leva tempo. Acho
que a base do governo deve sair o máximo possível unida nos 417 municípios,
reduzindo ao mínimo eventuais disputas. Temos aí sete a nove meses para fazer um
processo intenso de discussão sobre 2012. Pensar em 2014 é absolutamente
prematuro, mas cada um utiliza a estratégia que achar mais adequada. Não é bom
para o governador Jaques Wagner antecipar o fim de seu governo. Só se discute
sucessão de forma antecipada quando se tem um governo fraco. Quando se tem um
governo forte, evidente que se discute sucessão no tempo adequado. O governador
foi eleito com mais de 62% dos votos, portanto é um governo forte, continua
forte e, com fé em Deus, vai encerrar o segundo mandato ainda mais forte, com
bastante popularidade e com uma força grande. Além do mais ele será o grande
condutor no tempo em que ele achar necessário
TB – E quanto à divisão de cargos no segundo e terceiro escalões?
Apagaram os incêndios?
RC –
Hoje eu não tenho essa responsabilidade,
o que significa que eu tirei um grande peso das costas porque essa área de
articulação política de governo é muito árida pelo fato de todos quererem
contribuir com o governo, todos querem ajudar e todos têm bons nomes para
diversas áreas. Às vezes você tem bons dez nomes indicado por dez partidos
diferentes, por dez parlamentares diferentes para uma função só, então você vai
ter que escolher entre os dez, e ao escolher um, você deixa nove insatisfeitos.
É sempre natural que haja insatisfeitos.

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