Catiane Magalhães/Tribuna
Os frequentes reajustes têm preocupado a população e o governo, pois os últimos registros mostram que a pressão inflacionária já ultrapassou o teto da meta que é 6,5%. E o pior: atinge principalmente os alimentos básicos, como feijão, frutas, verduras e legumes, desmistificando a ideia de que apenas os itens considerados nobres, a exemplo das carnes e dos laticínios, registraram alta.
“Está tudo muito caro, e somos obrigados a acreditar nas desculpas que eles arranjam para justificar o aumento. A cada dia é um culpado diferente: a chuva, a seca, o frete. Tudo influencia, mas só o consumidor é quem paga a conta”, reclamou a aposentada Alicia Medrado, diante das gôndolas de um supermercado. “Antes, carne era comida de rico. Agora, se aproxima o tempo em que feijão será artigo de luxo, cada vez mais distante da mesa dos pobres”, completou, apontando para a etiqueta que marca R$ 3,49, o quilo.
O que poucas pessoas sabem é que a alta nos preços pode está diretamente ligada à mudança no hábito dos brasileiros: o de gastar mais. Um estudo divulgado recentemente pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) em parceria com as empresas de pesquisa Nielsen e Kantar Worldpanel, revelou que, pela primeira vez desde 2005, os brasileiros estão gastando mais do que recebem.
De acordo com o levantamento, no ano passado, o rendimento médio das famílias foi de R$ 2.146 ao mês, mas a média de gasto mensal chegou a R$ 2.171. De 2009 para 2010, a renda do brasileiro cresceu 13%, enquanto o consumo subiu 16%. Essa mudança de comportamento influenciou no disparo dos preços, já que o consumo desenfreado fez aumentar a procura em diversos setores.
A facilidade de crédito explica os números, mas preocupa os especialistas. Para não agravar ainda mais a situação, o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Júnior, enviou ontem uma carta aos 800 mil associados da instituição em todo o país recomendando moderação na oferta de crédito. Essa é a primeira vez que o órgão toma uma atitude deste tipo, a fim de prevenir um calote generalizado no comércio.
“Indicaremos aos associados um aperto de parafuso da concessão de crédito. Esse aconselhamento é importante principalmente para o pequeno lojista, que não tem essa análise e não toma medidas preventivas”, pontuou.
O consumidor, por sua vez, já sentiu as consequências dos novos hábitos pesarem no bolso. “Comida a gente compra porque não tem jeito, mas estou evitando desperdícios e, principalmente, impulsos com roupas, sapatos, enfim, o que se pode deixar para depois”, afirmou a dona de casa Margareth Souza.
Dicas para economizar
Para driblar a escalada de preços e economizar dinheiro diante das máquinas registradoras dos supermercados, o Movimento das Donas de Casa e Consumidores de Salvador dá dicas infalíveis. “Se o produto está caro, o jeito é trocar a marca, ou seja, levar um similar com o mesmo princípio ativo ou valor nutricional que esteja mais em conta, ou, ainda, fazer um boicote àquele determinado item: não comprá-lo por um período até que o preço volte a baixar”, sugere a presidente da Associação, Selma Magnavita, explicando que a técnica funciona de acordo com a lei da procura e oferta.
Segundo ela, é possível se privar de alguns alimentos, preservando saúde e sabor. “É só fazer a substituição. Troca a batata inglesa por batata doce; a carne por peixe; usa-se menos feijão e complementa o prato com mais salada, macarrão, além de transformar as sobras do almoço na sopa da noite. Enfim, o que não pode é perder dinheiro”, argumenta.
Outra dica importante é sempre que for ao supermercado, feira ou sacolão levar a lista de compras para evitar gastos com supérfluos. Pesquisar o estabelecimento também faz toda a diferença quando o assunto é proteger o orçamento. “Não vale a pena pagar mais caro por comprar mais perto nem pagar mais barato por um produto de qualidade inferior. Assim, poupa na comida e gasta na farmácia”, observa a presidente do Movimento das Donas de Casa.
Magnavita disse ainda que os consumidores devem desenvolver o hábito de proteger o orçamento doméstico. “Nosso conselho é que as pessoas façam reservas com o seu salário, sempre poupar um pouco”, ressalta, observando que a instituição fornece à população orientação jurídica, nutricional, de consumo ou comercial.
