Da Tribuna

Eleito novo presidente estadual do Democratas, o ex-deputado federal José Carlos Aleluia chega com o desafio de renovar o partido que dominou durante décadas o poder no estado. Com o objetivo de conter os possíveis estragos com a saída de aliados para o novo partido PSD, Aleluia aposta no contato com a juventude e com os políticos novos. Nesta entrevista, o democrata acusa o PSD de “não ter propostas e de praticar a infidelidade partidária sem punição”. Além disso, ele dispara contra os que aderem ao governo. “Na Bahia se criou o petismo, que é um aglomerado de partidos que gostam do poder. O PT, o PSB e o PCdoB ganharam de forma legítima, os outros não. Os outros são petismo. São esses que quando nós vencermos a eleição vão bater às nossas portas”, cutuca.

Tribuna – Na função de atual presidente estadual do DEM, de que forma o senhor pretende conter a possível debandada no estado, já que se especula uma perda de 10 integrantes para o novo partido, o PSD?
Aleluia –
A minha preocupação maior é com o partido que está renascendo, com o novo, com o jovem, com a renovação. Aqueles que quiserem ficar no partido é porque acreditam na força das ideias do partido, acreditam que o estado da Bahia pode voltar a crescer, gerar empregos, que a segurança pública pode melhorar, que a preparação dos jovens e a educação pode melhorar, que a saúde pública pode melhorar. Vale lembrar que quem não tem plano de saúde – e isso representa 85% dos baianos – quando fica doente não sabe a quem recorrer. Quem acredita que o governo do estado tem que servir as pessoas e não ser o queridinho dos políticos continua conosco; agora, quem quiser encher a cartola de políticos, o caminho é mesmo o governo Wagner. Ele está abrindo as portas para os políticos, e nós queremos renovar, nosso caminho é o da renovação, e nós vamos ter candidatos em todos os lugares.  
 
Tribuna – O partido vai punir os “infiéis”? Como?
Aleluia –
Vamos aplicar a lei. Não temos intenção de conceder liberdade a ninguém porque o eleitor foi quem definiu que o mandato pertence ao político. Esse partido que está sendo criado é uma tentativa de praticar a infidelidade sem a punição. Eu digo tentativa porque o futuro é que vai dizer. Ainda tem muitas pedras no caminho. Esse partido só tem florescido em São Paulo porque tem o prefeito de São Paulo. E aqui na Bahia o governador tem usado esse partido pra enfraquecer os outros aliados. Essa sigla foi criada para enfraquecer o PP, que começou a ficar muito forte, então o governador resolveu criar outra alternativa ao petismo. Esse partido já nasce velho, já nasce com cartola, pronto para entrar no poder.   
 
Tribuna – De que forma avalia a movimentação do vice-governador Otto Alencar para viabilizar o PSD?
Aleluia –
O vice-governador Otto é muito bom em agradar políticos, é um bom organizador de forças políticas, eu não posso deixar de reconhecer essa qualidade. Ele ajudou muito o governador (Jaques Wagner) nisso. Mas o partido não é só organização e atração, um partido tem que ter mensagem e história. Em entrevista à revista Veja, o prefeito de São Paulo (Gilberto Kassab) disse que o partido era de esquerda e logo em seguida ele disse que não era de esquerda nem direita, que não era nada. Como é que não é de esquerda, se ele foi criado para se fundir com o PSB? O PSB não vai sair da esquerda, é um partido que tem história, é o partido de Miguel Arraes. Então não tem cabimento alguém dizer que vai para um partido que não tem proposta. Nosso partido é um partido que propõe a sociedade no poder e não partidos no poder, sigla que propõe o estado em primeiro lugar e não o partido em primeiro lugar. Propõe o resultado, um estado mais eficiente, que melhore os serviços e que não arrote tantos impostos, que não tenha que promover os desmandos que foram promovidos pela Embasa durante quatros anos e que hoje enfia na goela dos baianos 14% de aumento. O Democratas é um partido que tem ideias e não esse que está sendo criado, que é apenas uma aglomeração de políticos que buscam um seguro não para o povo, mas para eles.           
 
Tribuna – Qual a diferença entre o Democratas de antes e o Democratas que o sr. pretende construir?
Aleluia –
Nós temos que mostrar que somos diferentes dos que estão no governo. Nós não estamos propondo que se troque o governador Wagner por outro governador, mudando apenas o nome, mas queremos mudar a forma de governar e mostrar que o estado tem que ser eficiente para assegurar a tranquilidade das pessoas. Ou seja, o estado não pode ser um estado que deixe as pessoas todas acordarem nas cidades do interior e em Salvador se perguntando: – Será que hoje a minha cidade foi assaltada? ; Será que o banco da minha cidade foi assaltado; Será que a minha família vai ser assaltada? Esse não é o estado que nos queremos, mas queremos um estado que possa nos dar a segurança devida, e tratar com dureza os que cometem crimes. Hoje eu vi uma cena de um jovem que estava sendo preso na delegacia cantando rap, brincando com a sociedade. O governo não tem dado um tratamento duro que deveria ser dado à delinquência, por isso que a delinquência vem agindo tanto na Bahia.        
 
Tribuna – A hegemonia do PT na Bahia incomoda?
Aleluia –
Não é o PT, mas sim o petismo. Na Bahia se criou o petismo, que é um aglomerado de partidos que gostam do poder. E o PT é o comandante, ele está legitimamente no poder. O PT, o PSB e o PCdoB ganharam de forma legítima, os outros não. Os outros são petismo. São esses que quando nós vencermos a eleição vão bater às nossas portas. Na Bahia está se criando um tipo de político que é governo em qualquer circunstância. 
 
Tribuna – A oposição está fragilizada e míngua dia após dia. O que fazer para reconquistar o espaço perdido?
Aleluia –
Os poucos que querem fazer oposição têm que se juntar com os que querem fazer política séria, que não são políticos. Temos que ser os representantes da sociedade. Nós não vamos agradar os políticos, porque o Wagner é insuperável no carinho aos políticos. Ele é capaz de nomear qualquer pessoa para qualquer cargo, independente das condições de a pessoa exercer o cargo. Os exemplos são muitos e eu que não quero polemizar. Mas ele não se preocupa com os resultados que a sociedade vai receber. Ele não está preocupado se a escola funciona, se o diretor da escola tem autoridade para exigir que o professor trabalhe e que os funcionários estejam presentes, se a escola tem disciplina. É só política. É o partido onde a política predomina.   

Tribuna – Qual o maior erro e maior acerto da gestão Wagner?
Aleluia –
Eu vou pensar primeiro a parte mais difícil, que são os acertos. A coisa que mais me agradou no governo Wagner foi, no seu primeiro momento, a atuação da ex-secretária de Justiça, Marília Muricy, uma grande professora de Direito. Mas o governador não foi capaz de manter em seus quadros uma funcionária, uma jurista daquela qualidade. Não a conheço, mas foi o memento que mais me agradou no governo, foi quando ela começou a dar o tom necessário na gestão da Justiça e dos direitos humanos.  O maior erro do governo foi a segurança pública. Nessa área, ele desmontou a inteligência, traiu a Polícia Militar, enganou a Polícia Civil, colocou no comando delegados federais que ganhavam R$20 mil e R$25 mil ao lado de delegados da civil que ganham menos de R$10 mil. Desorganizou a polícia na capital e no interior, não investiu, mas sobretudo não liberou. Tem coisas na administração pública que precisam de dinheiro. Construir uma estrada precisa de dinheiro, organizar a estrutura da polícia precisa de dinheiro. Ele não fez isso. As pessoas se queixam muito e realmente a saúde também vai muito mal. Eu tenho encontrado pessoas que não têm planos de saúde, e quando se veem doentes não sabem o que fazer. A regulação é uma forma que não tem dado acesso às pessoas. Brincaram de saúde. Agora eu sinto que o secretário começa a se preocupar ao ver a agonia das pessoas.

Tribuna- Em âmbito municipal, o senhor acredita que o prefeito João Henrique vai terminar bem sua gestão ou a cidade vai continuar sendo penalizada pela crise?
Aleluia –
João Henrique não cumpre nada que ele assume de compromissos em termos de gestão. João Henrique é um malabarista no poder, mais perto de um trapezista que faz de tudo para se manter no poder do que um administrador. Salvador precisa de um administrador. João Henrique não administra nada. Eu nunca vi uma coisa tão caótica. As finanças ele não se preocupou. Tem o metrô e a saúde que estão um caos.

Tribuna – O Democratas faz parte dessa administração. Até quando continuarão aliados?
Aleluia –
Nós não fazemos parte do poder. Nós fizemos acordos com ele, mas ele não cumpriu nada. Não vamos abandonar a cidade, que precisa continuar funcionando.

Tribuna – Mas o partido ainda tem cargos no poder municipal.
Aleluia –
Tem, mas espero que não demore muito. O partido não está, nem pode estar aliado. Os cargos é uma questão de ele encontrar a saída dele lá. Alguns até já se licenciaram. Mas nós não estamos nesse governo e não queremos esse governo. Não é essa administração que o Democratas prega. Cada dia ele muda de partido, cada dia inventa uma história e uma mentira nova. O João Henrique não usa a nossa filosofia e experiência de governo. Ele adota a filosofia que aprendeu no circo e não na escola de administração.  

Tribuna – O DEM terá candidato próprio em Salvador para 2012? O sr. ou o deputado ACM Neto?
Aleluia –
O deputado federal ACM Neto é um bom quadro, que tem se revelado preparado para os embates que aparecem. Fez uma campanha dura há três anos – uma campanha onde as oposições entraram divididas – e o embate entre ele e Imbassahy terminou por deixar os dois fora do segundo turno, o que nos levou ao desastre e deixou a população sem opções. Eu acho que devemos trabalhar para unir as oposições. ACM Neto é um bom candidato e eu também posso ser candidato, pois gosto da cidade e vejo que a cidade precisa de administração. Quem já me viu administrando sabe que eu administro com firmeza, liderança e resultado. Foi assim na Coelba e foi assim na Chesf.       
  
Tribuna – O sr. acredita na construção dessa aliança DEM, PSDB, PR e PMDB, com intuito de derrotar o PT?
Aleluia –
É o nosso sonho, é o nosso desejo, só o tempo irá dizer se faremos isso. Mas acho que seria muito bom para a cidade e nós temos quadros muito bons nesses partidos que podem arrumar muito bem a cidade. O prefeito que for eleito precisa de quadros para não fazer o mesmo de João Henrique, que não deve nem saber os nomes dos secretários porque todo dia muda de partido. Quando estava no PDT, os secretários eram do PDT, no PMDB, os secretários eram do PMDB e agora no PP, a mesma situação.  Salvador não aguenta mais, as pessoas no ônibus – tenho andado de ônibus para sentir a população – não aguentam mais. Há uma rejeição muito grande.

Tribuna – Qual seria o critério para a oposição afunilar um nome?
Aleluia –
Primeiro é ninguém chegar impondo um nome, mas buscar um nome que possa representar um projeto. Qual o projeto? Administrar Salvador com eficiência.  Salvador é uma cidade que tem todas as condições para se ter uma administração saudável. Agora não pode ser com João Henrique, que não tem    sequência e não sabe para onde vai.  

Tribuna – Quem seria o candidato em Feira? O prefeito Tarcízio Pimenta ou o ex-prefeito Zé Ronaldo?
Aleluia –
Zé Ronaldo é o grande líder de Feira de Santana, ele vai comandar o processo, vai conversar com as pessoas, dialogando com o prefeito, e não tenho dúvida de que ele fará maioria em quaisquer circunstâncias. Zé Ronaldo é um grande líder do partido.

Tribuna – Esse entendimento em torno de Zé Ronaldo levaria Tarcísio Pimenta para os braços do PSD?
Aleluia –
Não sei. Cabe a Tarcísio. Nosso grande líder lá é Zé Ronaldo, que foi quem inclusive o indicou. Tem que se conversar com Zé Ronaldo. 

Tribuna – Qual a expectativa que o sr. traça para os baianos com relação a esse novo momento do Democratas?
Aleluia –
Buscar a comunidade. Estaremos presentes nas cidades, não como políticos cartolas, não como políticos habituados aos vícios. Mas vamos procurar os jovens, as mulheres e os estudantes nas universidades. Agora, por exemplo, recebi um email de um movimento em Santo Antônio de Jesus contra um decreto do governador Wagner que paralisou as universidades estaduais. Nós temos que estar ao lado desses jovens e buscar novos políticos. Vamos nos renovar com a juventude, os políticos jovens. Claro que aqueles antigos que resistiram aos encantos e aos carinhos do queridinho poderão ficar conosco. Para isso nós vamos oferecer as ideias. O partido é a força das ideias. Se alguém admite que não respeita a propriedade privada não vem para o nosso partido. Se não for defensor dos cumprimentos da lei e da exigência de se cumprir a lei não vem para o partido. Se alguém achar que a sociedade pode ser mais explorada, já paga 40% em impostos, não vem para o partido. Se alguém acha que administrar é só colocar políticos nos cargos não vem para o partido. Mas eu tenho certeza que os jovens e as pessoas que querem escolas bem administradas, com professores bons, boas estruturas e boas lideranças, esses virão para o nosso lado. 
Colaborou: Fernanda Chagas e Lílian Machado     

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