Resíduos agrícolas, como bagaço de cana, casca de arroz e até estrume das vacas, são alternativas para a crise

Dos resíduos das fazendas brasileiras poderá sair parte da solução para a crise energética em que se encontra o país atualmente.
A ameaça de apagões, por conta do déficit no fornecimento de energia, tem colocado em destaque os projetos de co-geração de energia a partir do bagaço da cana-de-açúcar executados atualmente pelas usinas paulistas.
Este ano, essas usinas deverão gerar apenas 80 megawatts (MW), aproximadamente. O potencial de produção de energia das cerca de 30 usinas da região de Ribeirão Preto, principal área sucroalcooleira do Estado, é de cerca de 1700 megawatts, segundo Iso Brasil, da IR Consultoria, de Ribeirão Preto (SP).
Essa quantidade, afirma ele, seria suficiente para suprir cerca de 10% da energia consumida no Estado de São Paulo. A Coopersucar, que possui o principal centro brasileiro de pesquisa da cana, diz já haver disponível no exterior tecnologia para dobrar esse potencial. “O Brasil tem de partir para a diversificação”, diz Suani Teixeira, professora da USP e coordenadora do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio).

Ela diz que outros materiais podem gerar energia, como a casca de arroz e os resíduos de madeiras e de indústrias de papel e celulose, além dos óleos vegetais. “O lixo urbano e até mesmo o esterco podem ser aproveitados por biodigestores para gerar eletricidade”, afirma o físico José Goldemberg, professor da USP.
Em um país agrícola como o Brasil, diz ele, a energia proveniente de materiais orgânicos pode ter uma ampla utilização. “Mas precisamos aprimorar essas tecnologias, que foram desprezadas por muito tempo”.

Investimentos:

Tecnologia que começou a ser adotada há quase 20 anos, a energia gerada a partir da queima do bagaço da cana é hoje vendida por 12 das cerca de 80 usinas do Estado a empresas do setor elétrico.
Antes de sua utilização para a co-geração de energia, o bagaço era apenas um resíduo da produção sucroalcooleira, sendo utilizado, no máximo, na formulação de algumas rações para o gado.
“Até recentemente, o interesse das usinas na geração de energia elétrica a partir do bagaço era pequeno”, diz Cícero Junqueira Franco, vice-presidente da Companhia Açucareira Vale do Rosário, em Morro Agudo (SP).
Ela é hoje a principal usina fornecedora de energia para a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), com quem mantém um contrato de longo prazo.
A Vale do Rosário produziu no ano passado 17 megawatts a partir do bagaço da cana. A empresa pretende este ano aumentar a produção para 30 megawatts.
“Os investimentos tendem a aumentar a partir de agora”, diz o consultor Mircea Manolescu.
Outras usinas paulistas também estão ampliando sua capacidade. Na Moema, em Orindiúva, a produção irá saltar de 1,7 megawatts para 10 megawatts este ano.
Já a Santo Antonio, em Sertãozinho, está investindo R$ 17 milhões para aumentar sua capacidade de co-geração de 10 megawatts para 26 megawatts em 2002.
“Uma das grandes vantagens é que as usinas geram durante a safra, que vaia de maio a setembro. É justamente nesse período que os reservatórios das hidroelétricas estão vazios”, diz Cícero Junqueira Franco, da Vale do Rosário.

Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do Estado de S. Paulo,
Jornal Nacional, Jornal da Tarde,
Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo

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