A convenção nacional do DEM encerra nesta terça-feira, dia 15 de março, uma longa novela que teve como protagonista o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Até chegar à montagem política e jurídica de sua nova sigla, que futuramente poderá se fundir ao PSB, Kassab enfrentou semanas típicas de um inferno astral, sob influência de inimigos ocultos e aflições. Para o prefeito, que completa 51 anos somente em 12 de agosto, a fase turulenta que antecedeu a convenção marca seu rompimento com o DEM e o nascimento do PDB.

Em meio às negociações, a aprovação do prefeito, que de acordo com a última avaliação chegou a 55%, vem caindo. Na metade de seu segundo mandato, Kassab amarga uma gestão sem grandes bandeiras. A única marca de sua gestão é a Lei Cidade Limpa, em vigor desde 2007.

 

A esse quadro, se somaram semanas turbulentas de protestos na capital paulista. Embora a administração tenha avisado previamente sobre o aumento da tarifa do ônibus, que subiu para R$ 3, o prefeito vem enfrentando diversas manifestações de estudantes. No último protesto, manifestantes foram até o apartamento onde o prefeito mora e, ali, tacaram fogo em um boneco que vestia uma máscara simulando o rosto de Kassab.

Ainda na seara administrativa, os primeiros meses do ano foram marcados pelas fortes chuvas, com sucessivos problemas em semáforos e enchentes. Um prato cheio para a oposição. “Kassab tem um problema de gestão muito grave. Ele está deixando escapar a oportunidade de melhorar essa cidade, que tem R$ 35 bilhões no Orçamento de 2011”, diz o vereador José Américo, líder da bancada do PT na Câmara da capital paulista.

Na lista de críticas petistas estão, além do aumento da tarifa do ônibus, as promessas que até agora não foram cumpridas. “Seis corredores de ônibus, sete piscinões, três hospitais, creches não saem do papel. A prefeitura não limpa 30% dos 3 mil quilômetros de galerias pluviais. A manutenção da cidade está muito ruim”, completa.

A aproximação de Kassab com a base aliada de Dilma causou também estranheza no PT. Para alguns petistas, a migração teria por trás a atuação do tucano José Serra, padrinho político do prefeito e candidato derrotado ao Palácio do Planalto.

Fogo amigo

Porém, Kassab não é alvo apenas dos tradicionais adversários. Em meio a protestos, ao declínio na aprovação e às críticas da oposição sobre sua administração, Kassab resolveu articular a composição do PDB. O primeiro e maior obstáculo aos planos do prefeito paulista foi o próprio DEM, comandado por seus desafetos políticos Rodrigo Maia (RJ) e ACM Neto (BA). O partido corre atrás de dissidentes para convencê-los a ficar. Conta, inclusive, com a ajuda de tucanos contra a manobra de Kassab para evitar uma debandada que poderia culminar no enfraquecimento da sigla. Como resultado, vieram as críticas de membros do seu próprio partido.

O deputado Pauderney Avelino (AM), escolhido vice do senador José Agripino Maia (RN) na presidência do DEM, acredita que a saída de Kassab irá fortalecer a legenda. “O partido sai de uma crise interna fortalecido. Foi uma luta. Não é fácil passar por uma situação dessas estando na oposição. A situação do Kassab ficou insustentável (…) Acredito que a saída dele pode gerar uma paz interna duradoura”, afirma o deputado. Para Avelino, não haverá uma debandada. “Eles não se sentirão confortáveis se pairar alguma dúvida sobre a situação deles. Não é simples burlar a lei de fidelidade partidária”.

A movimentação de Kassab para fora da órbita tucana e em direção ao governo Dilma desagradou não só ao DEM como ao PSDB. O presidente tucano, Sérgio Guerra (PE), lamentou a migração do prefeito e afirmou que isso representaria um enfraquecimento da oposição. Portal IG

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