Do G1, com informações da Efe, France Presse e Reuters

O Conselho de Segurança da ONU aprovou neste sábado (26) por unanimidade uma resolução que impõe sanções contra o regime de Muammar Kadhafi e seu entorno, como o bloqueio de todos seus bens no exterior e o embargo de armas.

A resolução adotada pelos 15 membros do máximo organismo da ONU autoriza também que o Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, abra uma investigação sobre as violações de direitos humanos nas quais incorreu o regime líbio.

“Obrigado pela adoção desta resolução. Representa apoio moral para o povo líbio”, disse o embaixador da Líbia, Abdurrahman Shalgam, que a considerou um “sinal para pôr fim” ao regime de Kadhafi.

O principal órgão de decisões da ONU adotou esta resolução em reunião que se prolongou durante quase nove horas e que se desenrolou a portas fechadas sob a Presidência rotativa da embaixadora do Brasil, Maria Luisa Ribeiro Viotti.

A resolução pede ao TPI que averigue a possível comissão de crimes de guerra e contra a humanidade durante a brutal repressão dos protestos, impõe um embargo total sobre as armas, proíbe viajar ao exterior e congela os bens de Kadhafi e de 21 pessoas de seu entorno, incluindo vários familiares e os altos cargos de seu governo.

Estados Unidos quer renúncia
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse em uma ligação com a chanceler alemã Angela Merkel, neste sábado (26), que o líder líbio Muammar Kadhafi deve deixar o cargo imediatamente.

“O presidente declarou que, quando um líder, para permanecer no poder, usa a violência em massa contra seu próprio povo, ele perdeu a legitimidade para governar e precisa fazer o que é certo para o seu país, deixando-o agora”, disse a Casa Branca em um comunicado sobre a ligação.

Obama e Merkel reafirmaram o apoio ao povo líbio pela universalização dos direitos e concordaram que o governo de Khadafi “deve ser responsabilizado.”

O presidente Obama e Merkel “conversaram sobre as maneiras apropriadas e eficientes com as quais a comunidade internacional pode responder” à crise líbia.

“O presidente saudou os esforços em curso por parte de nossos aliados e sócios, da ONU e da União Europeia para desenvolver e aplicar medidas contundentes”, revela o comunicado da Casa Branca.

Além da declaração de Obama, a Secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, anunciou neste sábado que revogou os vistos de entrada no país de funcionários do governo líbio e de seus familiares “para limitar as opções de viagem” para os membros do regime.

A medida, assinada por Hillary, nesta sexta-feira à noite, é a segunda etapa realizada pelo governo dos EUA para punir o regime de Muammar Kadhafi depois de o presidente Barack Obama promulgar um decreto para congelar os ativos do líder líbio e de sua família.

Entenda a crise na Líbia

A França suspendeu neste sábado toda a atividade em sua embaixada em Trípoli, retirando seu pessoal diplomático da Líbia por via aérea, informou a chancelaria em Paris. “Em aplicação da Convenção de Viena sobre as relações diplomáticas e com o aval do governo russo, a defesa dos interesses franceses foi entregue à embaixada da Federação Russa na Líbia”, diz o comunicado. No total, a França evacuou da Líbia 654 pessoas, sendo 498 franceses e 156 estrangeiros, incluindo 45 europeus.

A Grã-Bretanha tembém anunciou neste sábado que fechou temporariamente sua embaixada na capital da Líbia por motivos de segurança. O governo disse ainda que dois aviões do transporte militar britânico retiraram mais de 150 civis do deserto líbio. Centenas de britânicos que trabalham na Líbia em empresas de petróleo estavam presos em acampamentos na Líbia, no meio da revolta contra o regime de Muammar Kadhafi.

Outra embaixada com as operações suspensas a patir deste sábado foi a do Canadá.

Guerra civil
O filho de Muammar Kadhafi, Saif al-Islam Kadhaf, alertou neste sábado para os riscos da escalada dos conflitos entre manifestantes e forças do governo da Líbia. O aumento da violência pode levar o país a uma guerra civil ou à intervenção internacional na região, disse, em entrevista a uma rede de TV.

“O que a nação líbia está passando abriu as portas para todas as opções, e agora os sinais de guerra civil e interferência estrangeira começaram a aparecer”, disse.

Ele voltou a defender a busca por um diálogo com a oposição para que sejam interrompidos os protestos. “Um acordo precisa ser alcançado, porque o povo não tem futuro a não ser que ele se junte e concorde em um novo programa.”

Saif al-Islam Kadhaf negou que mercenários africanos tenham sido recrutados para derrubar os protestos. “Mostrem os mercenários, mostrem as mulheres e crianças que estão sendo mortas”, disse.

Ataques
Manifestantes que participavam do enterro de vítimas de combates em Musratha, a terceira cidade do país, foram alvo neste sábado (26) de disparos de mercenários, que teriam sido contratados pelo governo do ditador Muammar Kadhafi e lutam contra opositores do regime.

Segundo testemunhas ouvidas pela agência de notícias AFP e pela Reuters, os mercenários chegaram ao município, distante 150 quilômetros a leste da capital, Trípoli, a bordo de dois helicópteros do governo. Uma das testemunhas falava ao telefone com a reportagem da AFP, que conseguiu ouvir os sons dos disparos.

Nesta sexta-feira (25), um morador afirmou que partidários de Kadhafi tinham deixado a cidade, mas que os confrontos continuavam em uma base aérea próxima. Os conflitos teriam deixado “cerca de 30 mortos” entre os combatentes, segundo o morador.

“Os jovens do movimento ‘Revolucionários de 17 de fevereiro’ colocaram sacos de areia para proteger a cidade”, disse o morador, contrário ao regime de Kadhafi. Segundo várias testemunhas, combates entre partidários e adversários “apoiados por mercenários africanos” ocorreram em Musratha.

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