Tribuna/Osvaldo Lyra

 O vice-governador Otto Alencar conhece como poucos a realidade da Bahia. Liderança forte, sobretudo no interior do estado, Otto começa a construir uma relação de cumplicidade com o governador Jaques Wagner. “Uma parceria de lealdade, de conversa franca, de verdade, olho no olho”. Questionado sobre uma possível mudança do PP para o PDT, o vice nega. No entanto, ele admite ter tido o nome vetado pelo comando do PP para assumir a pasta da Infraestrutura. Entrou na cota pessoal do governador. Nesta entrevista à Tribuna, Otto diz que não ficou mágoa, mas que chegará a hora de discutir o assunto dentro do partido. Ainda mais pelo fato de ser filiado ao PP e nunca ter sido chamado para participar de uma reunião da sigla.

 Tribuna – Quais os maiores desafios a serem superados neste segundo mandato do governador Jaques Wagner na infraestrutura do Estado?
Otto Alencar – Acredito que são os mesmos desafios do primeiro quadriênio do governador. A questão das estradas, nós temos um estado muito grande em extensão territorial. O governador, nos primeiros quatro anos, construiu muitas estradas, recuperou outras e tem outras tantas para serem recuperadas. Além disso, as obras estruturantes que o governador conseguiu fazer na Bahia, a Ferrovia Oeste-Leste, o Porto Sul de Ilhéus, que é um grande desafio, embora seja uma obra do governo federal, mas tem interface com a Secretaria de Infraestrutura também. Continuar o programa Luz para Todos, que já levou energia a mais de 450 mil famílias do estado. O governador Wagner é um entusiasta da ponte Salvador-Itaparica, que será a solução para esta outra saída pelo Oeste. Salvador só tem a saída pela BR 324, este outro eixo Oeste vai melhorar muito o trânsito aqui nessa área congestionada da saída de Salvador, que vai pelo Iguatemi, pela Rodoviária até pegar a BR 324.

 

Tribuna – A ponte é uma prioridade?
Otto – A ponte Salvador-Itaparica talvez seja a obra que vai marcar a passagem do governador Wagner pelo governo do estado. Ele idealizou isso e existem outras secretaria envolvidas, inclusive a Seinfra, para que esse projeto possa se tornar realidade. Além das obras de infraestrutura aqui em Salvador, previstas para preparar a cidade para a Copa, sobretudo na mobilidade urbana. Existe também a possibilidade de construir uma via expressa para desafogar o trânsito de Lauro de Freitas e região metropolitana.

Tribuna – O excesso de burocracia da área ambiental atrasa o desenvolvimento da Bahia?
Otto – Nós temos uma Secretaria de Meio Ambiente muito bem dirigida pelo doutor Eugênio (Spengler), além do Ima. Esses órgãos trabalham intensamente com seus profissionais, eles se esforçam muito dentro da legislação para autorizar obras de infraestrutura porque todas têm que ter liberação ambiental através do Ima e algumas outras pelo Ibama e a legislação faz com que essas autorizações demorem um pouco, não pela falta de compromisso dos servidores, pois todos têm compromisso, mas realmente é uma legislação que tem que observar vários parâmetros e isso, às vezes, retarda um pouco os processos.

Tribuna – O PDT alega que existe um acordo para que o senhor migre para a legenda. Há alguma negociação em curso?
Otto – Não. Não existe nenhuma negociação em curso. Eu ouvi isso pela imprensa, tenho boa relação com todos os membros do PDT, os deputados estaduais e federais são meus amigos, mas me filiei para ser candidato a vice-governador pelo Partido Progressista e fui eleito. O que aconteceu, na verdade, foi que eu vim aqui para a Secretaria de Infraestrutura pela cota do governador, não pela cota do PP. O que houve foi que o comando do PP vetou meu nome para eu vir para aqui para a Seinfra, mas o governador me indicou para a secretaria pela cota dele, e isso não implica que venha tomar qualquer atitude que não seja a de fazer – quero ressaltar bem isso – o programa de governo do governador Jaques Wagner, que é para atender a população da Bahia. Irei atender bem todos os partidos da base, seja PCdoB, PT, PDT, PSB e o próprio PP, que, não sei por que, teve a ideia de vetar meu nome, mas isso é coisa que não fica nenhum ressentimento, nenhuma mágoa, e eu não costumo discutir essas coisas de partido pela imprensa. Chegará o momento que, dentro do PP, vai ser discutido isso. Eu lamento é que várias reuniões do PP, da executiva, já foram feitas nesse período todo que estou no partido e eu nunca fui convidado para participar de nenhuma. Eu achava que eu, como membro do PP, não por ser vice-governador, porque eu tenho humildade suficiente para não colocar isso aqui, mas eu nunca fui convidado para participar de absolutamente nenhuma reunião.

Tribuna – O PP não lhe identifica como quadro do partido?
Otto – Eu me identifico como quadro do partido. Eu acho que a cúpula do PP assim não procede.

Tribuna – O PP já sinalizou que o liberaria para o PDT?
Otto – Não porque eu não tomei essa iniciativa de migrar. Primeiro porque existe uma legislação que não permite a mudança de partido. Todos nós conhecemos e eu conheço profundamente a legislação.

Tribuna – Só se não houver a liberação…
Otto – Mesmo havendo liberação, é um risco e eu não tomei essa iniciativa de fazer a migração, eu não tenho essa ansiedade, eu não sou candidato a nenhum cargo em 2012 e também não me preocupo com o que vai acontecer em 2014. Portanto, eu não tenho pressa de tomar essa decisão. Antes eu vou refletir e vou pedir opinião do governador Wagner porque minha posição de vice-governador é uma posição que tem que estar permanentemente alinhada com o que pensa o governador, para que nós possamos ter um exemplo de unidade nesse período de quatro anos. Das coisas da minha vida, o que mais me chamou atenção em termo de política foi o comportamento agora do vice-presidente José Alencar, que nunca teve nenhum problema com o ex-presidente Lula, foi um amigo, foi um parceiro e a minha parceria com o governador, e eu também sou Alencar, vai ser mais ou menos essa, de parceria, de lealdade, de conversa franca, de verdade, olho no olho, e isso tem acontecido da minha parte com o governador e do governador para mim.

Tribuna – Como o senhor vê o espaço destinado ao PP no governo do estado?
Otto – Vejo de forma adequada, agora, não me compete avaliar, até porque eu não participei disso. Eu não participei da escolha de nenhum nome, isso quem resolve é o governador e ele botou Cezar Lisboa, que é o secretário das Relações Institucionais, que, ao meu ver, é uma pessoa muito preparada. Quero ressaltar, o Cezar Lisboa é uma pessoa muito equilibrada e adequada para resolver essas coisas com o governador.

Tribuna – Existe hoje um impasse sobre a acomodação do PDT. Os pedetistas têm apetite excessivo ou o governo os desprestigiou?
Otto – Acredito que não. Acho que o governador tem prestigiado todos os aliados e tem estabelecido de uma forma muito justa, de acordo com o peso de cada legenda, de cada agremiação. Está em andamento ainda, eu acredito que se chegue a uma conclusão. Agora mesmo, o PT fez um acordo para apoiar a reeleição do Marcelo Nilo e tem outros órgãos que serão destinados ao PDT. O PDT tem bons quadros e eu acho que vai se chegar a uma solução logo, logo.

Tribuna – O senhor foi um dos maiores articuladores da vitória de Caetano na UPB. Teve muito trabalho para atingir o objetivo?
Otto – Não porque o Caetano é um político muito hábil e ele fez uma coisa correta. Ele visitou várias regiões, fazendo reuniões com vários prefeitos. Eu participei de duas e na terceira eu não fui porque ele já era candidato único e não havia mais necessidade. A UPB é um órgão de prefeitos, não é um órgão partidário, e eu sei que ele vai fazer uma boa gestão. Eu dei minha colaboração, mas ele tem todos os méritos e tem condição de ser um bom presidente da UPB. Ele tem que defender uma marcha ao Congresso, discutir com o Senado e com a Câmara algumas modificações na legislação para defender o princípio da autonomia dos municípios.

Tribuna – O que o senhor chama de autonomia dos municípios?
Otto – Autonomia financeira, política e administrativa dos municípios, que está completamente comprometida pelo que se aprova em Brasília. Parece que o Congresso perdeu a sensibilidade para com o princípio federativo e hoje as Câmaras de Vereadores e Assembleias praticamente não têm capacidade de legislar, de discutir em função da queda do princípio federativo.

Tribuna – Como vê a hegemonia de Marcelo Nilo, que está indo para o terceiro mandato na Assembleia?
Otto – Ele vai passar pelo crivo do voto. Quem vai julgar Marcelo Nilo são os deputados. Eu fui presidente da Assembleia, candidato em 1995. De 63 deputados eu tive 59 votos. Isso quem decide é a maioria. Os deputados têm toda liberdade de escolher ou não escolher o presidente. Se Marcelo Nilo vai ser presidente agora é porque ele é aquele que é da preferência dos deputados e voto vem de devoto. Devotamente confiar em quem você gosta. Então, se os deputados estão confiando nele, o que eles têm de fazer é votar.

Tribuna – Como avalia a crise na prefeitura de Salvador?
Otto – Eu acho que a crise é uma crise que pode ser resolvida ainda. Todo órgão público que tem receita tem também solução, basta que ele compatibilize a receita com a despesa. Se houve excesso de gasto, agora é conter os gastos. Uma coisa eu posso dizer, não se pode nem se deve, de maneira nenhuma, deixar de estender a mão ao prefeito João Henrique para ajudá-lo a sair da crise, claro que dentro da legislação, dentro da lei porque tem coisas que só ele mesmo pode resolver, mas têm outras necessidades que podem ser resolvidas com o apoio do governo federal e do governo estadual. Infraestrutura mesmo, mobilidade urbana, projetos da Copa, o sistema viário da Via Expressa – que o governador fez, recuperação de vias – que o governador está fazendo. O que o governador Wagner não pode fazer é pagar a folha de João Henrique, é pagar o custeio operacional dele, é pagar débitos que foram contraídos em exercícios anteriores, resolver problemas de responsabilidade dele (do prefeito), que são definidos por lei. Responsabilidade do governador é uma, está definido por lei o que é que ele vai fazer. A do prefeito é outra e ele tem de procurar resolver as coisas que são de sua responsabilidade, mas eu acho que todos devem ajudar. Se ele está com dificuldade, o dever de cada soteropolitano, de cada baiano, é de procurar ajudar e não incendiar e querer que as coisas aconteçam para querer prejudicar a população.

Tribuna – A Seinfra pode ter uma atuação muito importante em Salvador. O senhor acredita que isso pode ser intensificado a partir de agora?
Otto – Pode, de acordo com a determinação do governador Jaques Wagner, naquilo que a Seinfra pode fazer em benefício da cidade e sendo programa do governo e prioridade do governador, eu serei um vetor, serei um instrumento para ajudar a fazer essas coisas e eu tenho toda a disponibilidade, todo o tempo, toda a vontade de fazer um bom trabalho por Salvador e pela Bahia. Agora, dentro do programa de governo. Eu sou muito disciplinado na minha vida política e eu sei que, na política, como em qualquer outra atividade, existe uma hierarquia. Eu sigo sempre a hierarquia e o sistema tem que ser hierarquizado mesmo. Então, eu estou aqui como secretário, e o programa de governo Wagner será desenvolvido de acordo com as prioridades e determinação do governador. Se, por acaso, Salvador precisar da Seinfra e eu puder ajudar dentro do programa do governador e por determinação dele, o prefeito vai ter em mim um colaborador. Mesmo porque eu tenho uma ótima relação com o prefeito, tenho uma boa convivência com ele, ele é uma pessoa de trato fino, uma pessoa muito educada. Eu até já conversei algumas vezes com ele e percebo que ele precisa de ajuda, e se eu puder ajudar eu vou ajudar.

Tribuna – O que pode ser feito para modificar a realidade da capital? Acredita na ida dele ao PP? Seria uma alternativa para resolver a situação?
Otto – Eu creio que a questão política ele vai ter que decidir, mas a coisa que é inerente à decisão e à vontade dele. Eu acho que a coisa principal que ele precisa fazer é o ajuste fiscal. É cortar gastos, é não deixar que as despesas superem as receitas e procurar, pelo que eu vi, diminuir e conter o passivo que foi identificado nas contas de 2009. Então, tem, realmente, uma dívida, Salvador tem uma dívida fundada, que significa dívida negociada, e desconta no fundo de participação todo mês. É uma dívida de mais de R$2 bilhões e uma dívida de curto prazo de mais de R$300 milhões, pelo que eu vi pela imprensa. Então, essa dívida de curto prazo precisa ser sanada porque ela tem que ser paga em doze meses. Então, ele tem que sentar na mesa com os secretários da Fazenda e do Planejamento para estabelecer critérios para resolver esse passivo que foi identificado. Resolvendo isso, resolveu a cidade. As obras de infraestrutura, o governador já disse que vai tocar.

Colaborou: Romulo Faro

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