No Rio, eles estão partindo. E, em Salvador, eles vão ter é que  se picar. O que importa é que, aqui, como lá, os traficantes precisarão disparar da UPP, a Unidade de Polícia Pacificadora, modelo que vem dando resultado para os cariocas e que a Secretaria da Segurança Pública da Bahia promete implantar em Salvador, como novo nome, até o fim deste ano.
A medida pretende controlar a atuação do tráfico de drogas e reduzir o número de homicídios em bairros onde a violência é considerada alarmante. Mas o projeto deve combater uma realidade vivenciada por moradores e que dificulta a ação dos policiais: o comando e a influência do narcotráfico.
A instalação das Bases Comunitárias de Segurança, versão baiana para o projeto de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro, está prevista para ser implantada até o mês de dezembro deste ano.

Na manhã de ontem, o novo secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa,  defendeu que a ação é uma estratégia “fundamental para evitar esse tipo de situação”. Ainda não estão definidos, no entanto, quais os bairros onde será implantado o projeto e a quantidade de bases que serão instaladas.
Segundo o secretário, três critérios devem ser levados em consideração. “A instalação será definida de acordo com a nossa capacidade, o índice de homicídios nos bairros e as áreas que são controladas pelo narcotráfico”, adianta.

Questões estruturais do Estado, como o orçamento e efetivo de policiais para o programa, também devem ser avaliadas. “Vai depender das nossas condições para instalar as bases comunitárias”, emenda. Porém, ele garante que a secretaria já tem mapeadas as regiões de Salvador que apresentaram os maiores índices de homicídios.

“A definição a curto prazo é exatamente conseguirmos colocar o nosso efetivo e a nossa capacidade em cima de áreas críticas. A polícia tem que estar presente junto à comunidade”, explica Barbosa.

No ranking das áreas consideradas mais violentas, segundo o secretário, o Subúrbio Ferroviário e bairros como Pernambués e Cajazeiras são candidatos a receberem as bases comunitárias. “São áreas que tiveram um número elevado de homicídios”.

sigilo O novo secretário tomou posse no dia 18 deste mês, substituindo César Nunes. Com apenas dez dia em exercício, Maurício Barbosa explica que prefere não divulgar quais serão os primeiros bairros, por receio de que os moradores das localidades possam sofrer retaliações. “Não podemos prejudicar a população. É preciso que ela entenda o nosso propósito de policiamento”, destaca.

As bases comunitárias fazem parte de um programa maior do governo estadual. “O programa se denomina Pacto pela Vida. É um programa de governo que abrange não só a Secretaria da Segurança Pública, como outras secretarias, e temos que ter a participação da sociedade. A definição do Plano de Segurança será feita nos próximos meses”, disse o secretário, ontem, à TV Bahia.

NÚMEROS
Até 24 de janeiro deste ano, já foram registrados 146 homicídios em Salvador e Região Metropolitana. O número é semelhante ao registro feito durante todo o mês de janeiro de 2010, quando ocorreram 154 assassinatos na capital e RMS.

De acordo com o balanço divulgado pela própria secretaria no final do ano passado, a região do Subúrbio Ferroviário encabeça a lista das regiões mais violentas, com 226 homicídios contabilizados de janeiro a novembro de 2010.
Já a região que abrange os bairros de Narandiba, Doron, Engomadeira e Tancredo Neves ficou em segundo lugar, com 165 homicídios. Em seguida, na terceira posição, a região do Centro Industrial de Aratu, incluindo bairros como Valéria, Palestina, Pirajá e Nova Brasília de Valéria atingiu o patamar de 157 assassinatos.

Salvador é a quarta capital do país com o maior número de homicídios, segundo o relatório Saúde Brasil 2009, uma publicação anual da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde. Em 2008, a taxa de homicídios, principal indicador da violência, alcançou o patamar de 57,1 mortes por homicídio a cada 100 mil habitantes.

DIFICULDADES
Para o titular da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes, Daniel Menezes, o enfrentamento do tráfico de drogas é dificultado pela geografia de bairros de Salvador. “São locais cheios de vielas e que dificultam o acesso da polícia. A gente consegue entrar, mas ainda tem que andar 800 metros, por exemplo. Até chegar ao local, os ‘olheiros’ já avisaram aos traficantes”, explica o delegado.

Ele defende o investimento no setor de inteligência da polícia para que o narcotráfico seja combatido. “O enfrentamento da situação é através do trabalho de inteligência”, garante. No entanto, ele admite que a atual situação do tráfico em Salvador é grave, mesmo após conseguirem prender os líderes. “Depois que a gente prende o líder, os que ficam brigam entre si para ocupar o cargo. Sempre vai ter uma pessoa liderando, se o Estado não entrar com uma ação que não seja só a polícia”, alerta.

Comando do tráfico
Cajazeiras, região apontada como uma das mais violentas de Salvador
Nos três bairros citados pelo secretário da Segurança Pública, o tráfico tem seus líderes. Em Pernambués, Luciano dos Santos, o Babalu, é um deles. Dono da maior “boca” da região, a da Baixa do Manu, onde ele movimenta mais de R$ 10 mil por dia. Babalu possui mandados de prisão por tráfico e homicídio, juntamente com seus principais comparsas: Clebinho, Reinaldo, conhecido como Nau, e Denilson, o Tutuca.

Já na localidade de Saramandaia, situada atrás do Detran, o comando é de Cosme Paixão Lisboa, o Coe, que mesmo no complexo penitenciário, comanda as execuções. Segundo agentes da 11ª Delegacia, em Tancredo Neves, as ordens são dadas a Wallace e  Alex, que, do lado de fora, cumprem à risca as determinações do líder. 

No início do mês, a quadrilha dele teve uma baixa: o feirante José Júlio Santos Souza, 29,  foi executado com vários tiros por rivais de Mussurunga. No Subúrbio Ferroviário, a localidade de Teotônio Vilela, em Fazenda Coutos, todo o movimento do tráfico é controlado por Dani, que há cerca de dois meses teve o irmão Pepi morto  por integrantes de outro bando.  Ele assume o controle de uma das áreas mais violentas da região atendida pela 5ª Delegacia, em Periperi.

Tráfico, homicídios, assaltos a bancos e roubo de carros. Ao bandido Eduardo Pit Bull são imputados todos esses crimes cometidos nos últimos cinco anos na região de Cajazeiras. Segundo o Serviço de Investigação da 13ª Delegacia, em Cajazeiras XI, ele  ganhou notoriedade ao matar os rivais Tiago e Pepe há  dois anos. Desde então, ele se tornou o inimigo número um dos agentes da 13ª DP. Pit Bull movimenta o tráfico também nas regiões de Pau da Lima, Castelo Branco e Nova Brasília.

Bairros lideram número de homicídios na cidade
Depois que uma vizinha tentou agredir a doméstica Juliana Souza, 31 anos, com uma faca, ela nunca mais permitiu que os quatro filhos ficassem na rua. “É da escola para casa. A violência está muito grande”, garante a moradora de Tubarão, na região do Subúrbio, que ocupa a primeira posição da mais violenta de 2010. Segundo a SSP, foram 226 homicídios. Na segunda posição, Pernambués e bairros adjacentes, com 165 homicídios.  Na terceira posição, Cajaxeiras e Cia, com 157 mortes.

A agressão teve início quando uma das filhas da doméstica ouviu uma piada racista de uma vizinha. “Minha vizinha perguntou se minha filha que, é bem escura, estava limpa. Tudo por causa da cor da pele. Depois,  veio me agredir”, conta. Ela prestou queixa na delegacia de Periperi e, ontem pela manhã, aguardava mais uma audiência do caso. Para a doméstica, que não se sente segura em sair de casa com os filhos, não é só a violência banal que assusta. “O tráfico de drogas comanda a área”. Ela acredita que a saída é aproximar a polícia da comunidade. “A polícia tem que estar mais presente”.

Programa expulsou crime organizado de morros no Rio
Unidade de Polícia Pacificadora, conhecida também pela sigla UPP, é um projeto da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro que pretende instituir polícias comunitárias em favelas, principalmente, como forma de desarticular quadrilhas que antes controlavam estes territórios como estados paralelos.

Antes do projeto, inaugurado em 2008, apenas a favela Tavares Bastos, entre mais de 500 existentes no Rio, não possuía crime organizado (tráfico de drogas ou milícia). A primeira UPP foi instalada na Favela Santa Marta em 20 de novembro de 2008. Posteriormente, outras unidades foram instaladas na Cidade de Deus, no Batan, Pavão-Pavãozinho, Morro dos Macacos, entre outras favelas. Em algumas delas, o crime organizado já foi totalmente expulso, enquanto em outras está em avançado processo de desmantelamento.

O programa tem sido bem avaliado por especialistas, mas vem sofrendo críticas devido ao fato de as comunidades que mais rapidamente têm recebido este serviço serem aquelas situadas próximas à Zona Sul, a mais rica da cidade, sendo uma forma de, portanto, reduzir a criminalidade nos bairros mais ricos. As informações são do Correio

Compartilhe