Roberto Gogoy, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO – Uma nova empresa no ar – e isso quase literalmente: o grupo Embraer anunciou sexta-feira a criação da Embraer Defesa e Segurança, unidade de negócios autônoma, destinada a cuidar dos projetos e negócios da área militar. Com essa nova corporação ficarão ainda as atividades ligadas às tecnologias sensíveis – tanto a absorção como o desenvolvimento.

A Embraer Defesa nasce poderosa. De acordo com Luiz Carlos Aguiar, executivo que assume a presidência da organização, a receita prevista para o segmento, “vai bater em R$ 1,5 bilhão já em 2011”. Aguiar é o atual vice presidente Financeiro e de Relacionamento com Investidores, mas esteve anteriormente à frente da área Defesa do grupo. O atual titular do setor, Orlando Nogueira Neto, continua no cargo de vice-presidente.

O presidente da Embraer, Frederico Curado, considera que o moviment0 “era inevitável, não apenas considerados os benefícios para a racionalização da gestão empresarial mas, também, o alinhamento com os conceitos fixados pela Estratégia Nacional de Defesa” (a END é o programa do Ministério da Defesa que estabeleceu prioridades para a reorganização das Forças Armadas e fixou diretrizes da base industrial).

Para Curado a ação confirma o compromisso da empresa com o País: “é um sinal claro: podem contar com a gente”.

Fábrica própria

A nova unidade tem fábrica própria, em Gavião Peixoto, na região de Araraquara, a 300 quilômetros de São Paulo. Ali trabalham 2,2 mil funcionários envolvidos na construção dos turboélices de ataque leve Super Tucano e na transformação de 46 caças supersônicos F-5, americanos com 30 anos de idade, em modernas versões M. A revitalização está chegando para 53 bombardeiros leves de precisão AMX e para o caça subsônico Skyhawk, da Marinha.

Um novo hangar vai abrigar a linha de produção do cargueiro e avião tanque KC-390, militar, a maior aeronave já criada na Embraer. Os produtos mais discretos do catálogo, grandes jatos birreatores tipo Emb-145 convertidos em estranhas configurações eletrônicas cheias de antenas e bulbos externos, para cumprir missões de inteligência, vigilância e reconhecimento, saem dos mesmos prédios. Sem alarde, pela porta dos fundos.

O complexo abriga o ninho dos jatos Phenom executivos. A pista de ensaios mede 5 mil metros, a maior da América Latina. É repleta de sensores eletrônicos. A Embraer surgiu, faz 41 anos, como iniciativa estritamente da Força Aérea. “Felizmente, ao longo do tempo, os dirigentes perceberam que era preciso expandir a atividade no rumo do mercado civil – e isso fez da empresa, em 2010, a fabricante líder de jatos comerciais para até 120 passageiros. Agora, retomamos o caminho da Defesa”,explica Curado. Ele lembra que em 1997 todo o faturamento da Embraer era do tamanho da carteira de negócios militares atual, “alguma coisa como os US$ 760 milhões alcançados esse ano”.

Inteligência

Não por acaso, as prioridades da Embraer Defesa e Segurança que receberão os novos investimentos estão ligadas à sofisticada tecnologia de sensoriamento eletrônico – na prática sistemas de espionagem, escuta, e produção de informações.

Os sistemas avançados são os do tipo C4I, integrando Comando, Controle, Comunicações, Inteligência e Computadores. “Será fundamental no domínio do cenário estratégico dos grandes eventos como a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, aplicados sobre plataformas aéreas”, enfatiza o presidente Frederico.

Não apenas

Um levantamento recente do Pentágono, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, estima em 300 unidades a demanda internacional por aeronaves configuradas em estações C4I. Um terço delas, estarão em países emergentes. Onde mora a clientela da Embraer.

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