Correio

A declaração foi feita durante o sepultamento do garoto na manhã desta terça-feira (23).

 

Enterro do garoto Joel no cemitério do Campo Santo, no bairro da Federação, em Salvador

“Meu filho caiu nos meus braços que nem uma pena”, relembrou Mestre Ninha, pai de Joel da Conceição, de 10 anos, minutos antes de sepultar seu filho, vitima de uma bala perdida na noite do último domingo (21), no Nordeste de Amaralina. “Nunca mais vou conseguir dormir porque desde nascido ele dorme comigo”, completou, enquanto um familiar o avisava da chegada do corpo do garoto Joel da Conceição Santana.

Indignado com a postura dos policiais, que negaram socorro à criança, o pai do capoeirista desabafava abraçado ao outro filho, Jeandeson Castro.” Será que esses agentes não têm filho? Quero justiça!”. Mais de duzentas pessoas, entre familiares e vizinhos, participaram da missa em homenagem a Joel. Eles também protestaram contra a ação policial, caminhando com faixas ao som do berimbau. O sepultamento do garoto aconteceu às 11h30 desta terça-feira (23), no Campo Santo, na Federação, seguido por uma caminhada pelo bairro em mais uma manifestação.

 

Reivindicações
Além de criticar a ação dos agentes da 40ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), os moradores do Nordeste cobram também uma resposta das autoridades. “O governador Jaques Wagner soube utilizar a imagem do Joel para a propaganda de Turismo do Estado no verão do ano passado, mas agora, depois da morte de um garoto como esse, não aparece para nos dar explicações”, declarou Jorge Anderson Nascimento, conhecido como mestre Pica Pau.

Outra moradora do Nordeste, uma professora que vive na região há 40 anos, contou que é comum a ocorrência de ações truculentas por parte da Polícia Militar no bairro. “Ainda este ano eles chegaram, colocaram arma de fogo na cabeça dos alunos da Escola Anita Barbuda e obrigaram eles a deitarem nas fezes dos cavalos. Amedrontados os jovens deitaram e saíram rindo. Eu tive que intervir, e fui ameaçada”, acusou, pedindo para não ser identificada, com medo de represálias.

Segundo a professora, na noite da morte de Joel os PMs chegaram mandando todo mundo fechar as casas e atirando para cima. “Não houve troca de tiros, os bandidos fardados chegaram atirando. Eles são tão covardes que viram apenas a sombra  do nosso pequeno capoeirista e balearam ele. Se você for no local a casa da família está cheia de marcas de tiro”, disse, acrescentando que os policiais voltaram meia hora após o crime para recuperar as cápsulas disparadas.

Investigação
O secretário de Segurança Pública do Estado, César Nunes, afirmou na tarde da terça-feira (23), em entrevista ao jornal Bahia Meio Dia, da TV Bahia, que a titular da 28ª delegacia no Nordeste de Amaralina, Jussara Souza, vai apurar com todo rigor os fatos ocorridos. Ele ressaltou que a  PM instaurou um processo administrativo. ”Estávamos com a  delegada vendo as perícias para provar quem efetuou os disparos contra o menor, isso não vai ficar sem esclarecimento. Estamos adotando medidas, vamos procurar familiares pessoalmente, vamos procurar as testemunhas para desvendar esse fato lamentável”, assegurou.

Entenda o caso
O garoto Joel da Conceição foi baleado na cabeça por volta das 23h do último domingo (21), na rua Aurelino Silva, no bairro Nordeste de Amaralina. Uma equipe da polícia militar estava fazendo uma operação na área quando teria começado um tiroteio. O menino estava próximo à janela de casa se arrumando para dormir quando foi atingido. Ele foi levado para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

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