da Agência Brasil

São Paulo – A participação de mulheres e negros está crescendo lentamente nos quadros de funcionários de grandes empresas do Brasil. A participação feminina passou de 11,5% em 2007 para 13,7% em 2010. A mulher negra representa 9,3% das trabalhadoras da base e 0,05% das que ocupam cargos no topo. Os negros ocupam 31,1% das vagas nos quadros funcionais e 25,6% dos cargos de chefia. Na gerência são 13,2% e na diretoria 5,3%.

Os dados constam da pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas do Brasil, feita desde 2001 pelo Instituto Ethos e pelo Ibope, em parceria com a Fundação Getulio Vargas, o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), o Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgada hoje (11), em São Paulo.

Com relação aos portadores de deficiência, a participação nas empresas não passa de 1,5%, o que, segundo o estudo, indica que o setor empresarial não cumpre a porcentagem determinada pela Lei 8.213/91, de ocupação de 5% do quadro. No caso da contratação de aprendiz, 93% das empresas disseram contratá-los, mas 43% delas têm um número menor do que o exigido pela Lei 10.097/2000, que é de 5% dos funcionários.

O vice-presidente do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, afirmou que o levantamento mostra um resultado otimista, mas ainda não é o ideal. Quando observa o crescimento da participação da mulher nos cargos de direção das empresas, a participação dos negros, o ritmo é lento. “E a desigualdade é muito grande no Brasil. Nos vamos trabalhar com as empresas para que elas adotem essa questão como fundamental. O Brasil será a quinta economia do mundo e é preciso que os desenvolvimento humano esteja no mesmo patamar ”, disse.

Na avaliação de Itacarambi, com a desigualdade de gênero e racial em diversos aspectos sociais, o país não terá desenvolvimento humano compatível com o nosso crescimento econômico. “É fundamental que as empresas promovam esse desenvolvimento. Um país com uma economia maior não necessariamente é um país melhor. A pesquisa está mostrando que precisamos acelerar o ritmo de promoção da equidade e da biodiversidade nas empresas”, afirmou.

A gerente da Unifem, Junia Puglia, disse que para mudar a realidade feminina no mercado de trabalho é necessário modificar a cabeça dos gestores e a cultura interna das empresas. Para a gerente da Unifem, o Brasil vive um momento especial com a eleição de uma mulher para a Presidência da República, e o momento econômico e social também merece destaque com sua presença no cenário internacional. “A inclusão, a diversidade, o olhar para as mulheres, os negros, os diferentes em geral é um fator de desenvolvimento e essencial. Se realmente queremos ser um país desenvolvido temos que levar isso em conta”.

O diretor do curso de direito da Faculdade Zumbi dos Palmares, Hédio Silva Júnior, avalia com otimismo e preocupação a participação tímida do negro nas grandes empresas. “Otimismo porque a pesquisa revela que as empresas estão se preocupando com o tema, ensaiando iniciativas e algumas estão implementando inciativas. E preocupação porque os dados mostram que há muito a ser feito”. Para ele, o futuro é otimista porque há um debate constante sobre o tema que está em evidência, o que já é um ponto de partida para avanços. Silva disse que ainda faltam políticas e diretrizes para muitas empresas que colocam o assunto no campo ético e humanitário.

O presidente do Instituto Ethos, Jorge Abraão, fez um rápido cálculo e estimou que se o Brasil continuar no ritmo que está, o número de mulheres nos quadros executivos das empresas, equivalente ao que tem como população ocupada na sociedade, só será observado em 2.045. Já os negros aparecerão nas empresas da mesma forma que na sociedade somente em 2.160. “Nós podemos convocar as empresas e fazer reuniões e, a partir daí, fazer uma análise e provocar ações de mudança para conseguirmos dar uma velocidade maior nisso. Nós do Ethos vamos tomar essa atitude”, afirmou.

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