Folha de S. Paulo

Derrota em MG acirra ânimos no PSDB

No tabuleiro político interno do PSDB, a derrota de José Serra significa, automaticamente, a ascensão de Aécio Neves, preterido na disputa pelo Planalto. Mas Serra deu sinais, ontem, de que pretende manter no tucanato paulista o controle do partido. A decepção com o resultado das urnas em Minas Gerais foi estopim para uma mudança de visão de Serra. O coordenador do programa de governo de Serra, Xico Graziano, expressou esse sentimento no Twitter, pouco depois das 19h.

“Perdemos feio em Minas Gerais. Por que será?!”, escreveu Graziano. Em seu discurso após reconhecer a derrota para Dilma Rousseff (PT), Serra não mencionou, nem indiretamente, Aécio. Ao mesmo tempo, o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi objeto dos principais agradecimentos. Aécio Neves havia prometido a vitória do tucano no Estado, segundo maior colégio eleitoral do país. Não conseguiu. Serra conquistou apenas 1,1 milhão de votos a mais no Estado em relação ao primeiro turno. O crescimento do tucano foi menor que o de Dilma. A petista teve mais 1,2 milhão de votos.

Primeira mulher eleita tem 56% dos votos

Dilma Vana Rousseff, 62, foi eleita ontem a primeira mulher presidente da República do Brasil. Com 99,98% dos votos apurados, ela tinha 56% dos votos válidos. Seu triunfo é uma vitória pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que escolheu uma técnica neófita em eleições para sucedê-lo, à revelia de seu partido, o PT.

Dilma teve uma escalada de 8% de intenções de votos no fim de 2008, segundo o Datafolha, para a vitória num acirrado segundo turno.
José Serra (PSDB), 68, que disputou o cargo pela segunda vez, teve 44% dos válidos. Dilma teve 12 milhões de votos a mais que Serra, 10,7 milhões só no Nordeste. Também venceu no Sudeste, graças a votações maciças no Rio e em Minas -Estado de Aécio Neves, que terá de costurar com os paulistas para se sagrar novo líder tucano.

Dilma diz que vai “bater à porta” de Lula

Em seu primeiro pronunciamento como presidente eleita, Dilma Rousseff afirmou que vai “bater muito à porta” de Lula, em seu governo, se comprometeu a zelar pelos valores democráticos, como as liberdades de imprensa e religiosa, e estabeleceu como principal meta a erradicação da miséria.

Em 25 minutos de discurso lido, Dilma se emocionou e chorou ao falar de Lula, que há oito anos, ao tomar posse, também elencou a miséria como foco de seu governo. “Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas.”

Após vitória, presidente e eleita se abraçam e choram

No primeiro encontro após o resultado, Lula e a presidente eleita Dilma Rousseff se abraçaram e choraram. O encontro foi testemunhado pelos integrantes da coordenação da campanha petista e por vários ministros que estiveram ontem à noite no Palácio da Alvorada. Lula discursou para os convidados dizendo que sua sucessora foi uma “guerreira” ao longo de toda campanha e merecedora da vitória. Em meio à comemoração, Dilma disse que pretende descansar alguns dias nesta semana e depois acompanhar Lula em uma viagem à África e ao G20.

Eleita, Dilma promete erradicar a miséria

Em seu primeiro discurso como presidente eleita, ontem à noite, em Brasília, Dilma Rousseff (PT) disse que seu principal compromisso é erradicar a miséria no país. “Ressalto, entretanto, que essa ambiciosa meta não será realizada apenas pela vontade do governo. Essa meta é um chamado a nação. [É preciso] o apoio de todos para superar esse abismo que nos separa de ser uma nação desenvolvida”, disse a ex-ministra em hotel na capital federal, onde se concentravam petistas e aliados, como o vice Michel Temer (PMDB).

Lula defende manter Mantega e Meirelles

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já aconselhou a sucessora, Dilma Rousseff, a manter Guido Mantega no Ministério da Fazenda e Henrique Meirelles no comando do Banco Central. Apesar de Lula dizer publicamente que não interferirá no governo Dilma, a Folha apurou que ele já teve algumas conversas com ela sobre a formação do ministério.

Lula disse a Dilma que acha que deu certo a “dobradinha” entre Mantega, tido como mais desenvolvimentista, e Meirelles, mais conservador, na crise econômica internacional de 2008/ 2009. Para Lula, a manutenção deles sinalizaria uma continuidade que acalmaria o mercado numa hora de preocupante valorização do real em relação ao dólar e de possibilidade de guerra cambial entre os países.

“Serra sai menor” da campanha, diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula disse ontem que José Serra “sai menor dessa campanha”, pela agressividade contra Dilma Rousseff, e evitou falar de conciliação após a eleição. “Essa campanha foi muito mais violenta de uma parte para outra. Eu sinceramente acho que o candidato Serra sai menor dessa campanha, porque a agressividade deles [tucanos] à companheira Dilma Rousseff é uma coisa que eu imaginava que já tivesse terminado na política brasileira”, afirmou Lula, após votar pela manhã, em São Bernardo do Campo.

Dilma manterá estabilidade, diz Palocci

Principal coordenador de campanha de Dilma, Antonio Palocci disse à Folha que a presidente eleita deu quatro recados em seu pronunciamento de vitória. Primeiro foi a “garantia de que não se abandonará os pilares fundamentais da estabilidade”. Depois, que governará com sua aliança, mas dará “a mão à oposição”. Destacou ainda que ela defendeu uma “imprensa crítica” e que o pré-sal é uma poupança para o futuro. Ex-ministro da Fazenda, cotado para a Casa Civil, Palocci disse que a redução da dívida pública irá “presidir a postura fiscal da presidente”.

Com controle do PMDB, Temer será vice com mais poder

Diferentemente de Marco Maciel e José Alencar, que foram extremamente leais respectivamente a Fernando Henrique Cardoso e a Lula, a expectativa é de que Michel Temer seja um vice em que a presidente Dilma Rousseff vá confiar, mas desconfiando. Ele é presidente do maior partido do país, exerce inequívoca liderança no Congresso e tem personalidade política e pessoal mais forte do que seus antecessores. Com seis mandatos consecutivos na Câmara desde 1987, Temer será um intermediador dos interesses do PMDB no novo governo. O preenchimento do primeiro escalão passa por ele.

Longe da crise , economia exigirá ajustes

A herança econômica que Luiz Inácio Lula da Silva deixará para sua sucessora está longe do cenário de crise de oito anos atrás, quando foi eleito pela primeira vez. É muito menos confortável, porém, que a deixada por Lula para si próprio do primeiro para o segundo mandato. Ao contrário de seu padrinho político, Dilma Rousseff começará com dívida pública relativamente baixa e reservas em dólar absolutamente fartas -ou sobra de crédito interno e externo para o governo e o país.

Serra diz que “luta de verdade” está só no começo e descarta “adeus”

No discurso de reconhecimento da derrota, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou ontem que está “apenas começando uma luta de verdade”. “Por isso, a minha mensagem de despedida nesse momento não é um adeus, mas um até logo”, discursou o tucano, ao lado de aliados como o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, mas sem a presença do senador eleito Aécio Neves nem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O tucano não escondeu a decepção com seu desempenho em Minas Gerais, Estado em que perdeu para Dilma Rousseff (PT) por uma diferença de quase dois milhões de votos. Serra nem sequer citou Aécio em seu discurso, no qual exaltou o “empenho” de Alckmin.

FHC não crê em cooperação porque PT destruiu “pontes” com o PSDB

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não acredita que Dilma Rousseff criará pontes com a oposição para fazer mudanças importantes, como a reforma política e a reforma tributária. “O governo do presidente Lula e o PT foram dinamitadores de pontes”, afirmou, pouco antes de votar neste domingo, às 11h, no Colégio Sion, em Higienópolis.

A hipótese de contribuição da oposição, segundo FHC, “depende de como ela [Dilma] proceda”. “Não basta intenção. O currículo é ruim, é de agressão”, afirmou. FHC entende que o PT e o PSDB, deveriam ter trabalhado essas propostas durante a campanha. “Mas para isso, tem que criar um clima.”

“Personagem” da campanha, Paulo Preto diz estar magoado

Logo após votar, no final da tarde de ontem em São Paulo, o ex-diretor de Engenharia da Dersa Paulo Vieira de Souza afirmou que foi usado na campanha eleitoral. Personagem que se tornou pública no segundo turno, ele disse que está “magoado” por ter sido acusado por integrantes do PSDB de arrecadar verba ilegalmente e desviar R$ 4 milhões destinados à campanha de José Serra.

“Estou magoado. Hoje eu tenho como resultado disso 12 processos e representações criminais. Nunca pautei minha vida para ter isso como objetivo”, disse Souza. “Vou esclarecer jurídica e tecnicamente item por item tudo de que fui acusado. Simplesmente fui usado na campanha. O início de tudo isso se deu por integrantes do PSDB e foi utilizado pela candidata Dilma Rousseff [PT].”

Serra vai ao exterior e deixa PSDB com Aécio

Na derrota de José Serra, a ascensão de Aécio Neves. Batido numa corrida presidencial pela segunda vez, e aos 68 anos, Serra avisou a aliados, antes mesmo da campanha, que seria sua última candidatura a um cargo no Executivo caso não vencesse. Ao longo da campanha, Serra se recusava até a ouvir a hipótese de concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2012.

Segundo aliados, Serra deverá tirar férias após a eleição e decidir seu futuro na volta ao Brasil. A aposta é que passe uma temporada fora do país, dedicando-se aos estudos, e avalie seu destino. Uma alternativa é concorrer ao Senado. Duro será atravessar quatro anos até lá. O afastamento nasce da constatação de que Aécio deve assumir o comando do partido. Sem enfrentar resistência de um Geraldo Alckmin mergulhado no governo de São Paulo, Aécio trabalhará para atrair tucanos.

Placar da vitória é mais apertado desde 89

Apontada candidata por Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Vana Rousseff, 62, a primeira mulher eleita presidente do Brasil, não superou a votação do mentor. Lula continua o presidente com a maior votação da história – teve 61,3% dos votos válidos no segundo turno de 2002. Além da questão de gênero, há vários outros fatores históricos inéditos na escolha de Dilma para ser o 40º presidente do país. Quando receber a faixa presidencial de Lula, Dilma protagonizará um ato que não acontecia no país havia 84 anos, desde 1926, quando Arthur Bernardes entregou o cargo a Washington Luís.

Como registrou em um artigo em setembro o jornalista Elio Gaspari, assim como Washington Luís, a presidente eleita conquistou o cargo pelo voto direto e receberá o país das mãos de outro cidadão escolhido da mesma forma -e que, por sua vez, também chegou ao Planalto sucedendo outro governante, Fernando Henrique Cardoso, escolhido nas urnas.

Mas há uma peculiaridade extra. Washington Luís havia sido senador por São Paulo antes de ser presidente. Já Dilma nunca disputou uma eleição na vida antes dessa. Esse feito ocorreu só uma vez no Brasil, há 65 anos: o marechal Eurico Gaspar Dutra foi eleito por meio do voto direto, em 1945, sem experiência anterior nas urnas.

Projeto Dilma decolou com pré-sal e PAC

Dilma Rousseff tornou-se na prática a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua sucessão no dia 8 de novembro de 2007, relatam seus assessores. O presidente, então com 11 meses de seu segundo mandato, decidiu que caberia a Dilma, ministra da Casa Civil, anunciar e capitalizar politicamente a confirmação da descoberta do campo de Tupi – até então o maior do chamado pré-sal, capaz de colocar o Brasil entre os quatro maiores produtores de petróleo do mundo. “A descoberta de grande reserva de petróleo e gás na bacia de Santos eleva o Brasil para a elite mundial dos produtores”, disse Dilma no auditório da Petrobras, sem Lula. Antes, ela conversara com o marqueteiro João Santana. A ideia parecia desastrosa.

Dilma constrói vitória no Nordeste, e Serra não consegue virada em MG

Sem Marina Silva (PV) na disputa, a vitória de Dilma Rousseff (PT) sobre José Serra (PSDB) no segundo turno foi calcada numa maioria acachapante no Nordeste e em sólida votação obtida em Minas Gerais, segundo colégio eleitoral do país. A petista derrotou o tucano em todos os Estados do Nordeste e teve 10,7 milhões de votos a mais do que seu adversário na região (com 99,9% das urnas apuradas). A vantagem de Dilma no país foi de 12 milhões de votos. No Nordeste, a petista conquistou 70% dos votos, ante 30% de Serra.

Nos três maiores colégios nordestinos -Bahia (70,8%), Pernambuco (75,6%) e Ceará (77,3%)- ela obteve vitória com mais de 70% dos votos válidos. Mesmo nas duas “ilhas” da oposição na região, Alagoas e Rio Grande do Norte, Dilma conseguiu bater Serra. A esperança dos tucanos para virar o jogo era um avanço significativo em Minas Gerais, reduto do correligionário Aécio Neves. Dilma, entretanto, conseguiu equilibrar o cenário, saltando de 46,9% dos votos válidos no 1º turno para 58,5%. Serra passou de 30,8% para 41,5%. O mesmo ocorreu no Rio, onde ela levou vantagem de 1,7 milhão de votos.

Eleitorado se divide onde Marina venceu no 1º turno

Com Marina Silva (PV) neutra, a eleição presidencial terminou equilibrada nas três capitais em que ela surpreendeu ao vencer no primeiro turno: Belo Horizonte, Brasília e Vitória. A disputa quase empatou na cidade mineira, onde José Serra (PSDB) superou ontem a presidente eleita Dilma Rousseff (PT) por uma margem milimétrica: 50,4% a 49,6% dos votos válidos.

No Distrito Federal, houve pequena vantagem para a petista, que venceu por 52,8% a 47,2%. O desempenho dela ficou bem atrás do registrado pelo colega de partido Agnelo Queiroz, que foi eleito governador com 66,1% dos votos. Em Vitória, a menor das três capitais “marineiras”, Serra teve uma vitória um pouco mais folgada: bateu Dilma por 55,6% a 44,3%.
O Globo

Eleições 2010: Lula elege Dilma e aliados já articulam sua volta em 2014

Com dez milhões de votos a menos que os obtidos em 2006 em sua reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem mais um passo no seu projeto de poder: transformou a ex-ministra Dilma Rousseff, que até então não havia disputado nenhuma eleição, na primeira mulher eleita para presidente do Brasil. O próximo passo do lulismo, a volta presidente em 2014, embora sempre negada; já é articulada por aliados no Congresso e auxiliares diretos do Palácio do Planalto. Na campanha presidencial mais longa em 2007 por Lula – e mais radical, no discurso e no uso da máquina pública, Dilma venceu com 55 milhões de votos (56%), contra 43,4 milhões de votos (43,9%) dados ao candidato oposicionista, José Serra, do PSDB. A candidata de Lula venceu no DF e em 15 estados – inclusive em Minas Gerais, seu estado natal. Em seu primeiro pronunciamento após a vitória, ao lado do vice eleito, o peemedebista Michel Temer, e do ex-ministro Antônio Palacci, Dilma, resistindo à emoção,incentivou as mulheres a se mirarem em seu exemplo, prometeu zelar pela ampla e irrestrita liberdade de imprensa e elogiou a “genialidade” do presidente Lula. Aos adversários, lançou palavras cordiais: “Estendo a mão aos partidos de oposição”.

Caderno Especial: De Silva para Rousseff

Nesta edição, um caderno especial de 12 páginas relata a trajetória da filha de uma tradicional família mineira que, após ser presa e torturada como guerrilheira, começou sua vida pública no Sul, virou ministra de Lula e acaba de se eleger para o posto máximo do país. Fã de ópera e batata frita, apelidada na campanha de “a mulher do Lula”, ela enfrentará agora a pressão do PT por cargos, os problemas gigantescos que ainda perduram na infraestrutura do pais e, sobretudo, a sombra de seu padrinho político.

‘Nunca pensei em ser presidente do Brasil’

Na noite de sábado, num jantar na casa do ex-marido e da namorada dele, Ana, os dois ex-guerrilheiros Max (Carlos Araújo) e Vanda (Dilma Rousseff) repassaram o filme de suas vidas e conversaram sobre a surpresa de um deles ter chegado, 40 anos depois, ao topo do poder no Brasil. Como que se beliscando para ver se era sonho, Dilma e Carlos ainda não acreditavam no desfecho de suas histórias, que, admitiram, nunca passou nem da forma mais remota pela cabeça dos dois. Bebericando um vinho tinto chileno, Dilma e Carlos compararam a trajetória de Dilma e a de Serra, que sempre trabalhou e sonhou em ser presidente do Brasil, e ela, que nunca pretendeu, chegou lá.

O ex-marido de Dilma, para ilustrar a surpresa de sua chegada à Presidência da República, contou que na noite de sábado os dois se lembraram de quando estavam presos. A comida foi preparada por Ana, atual namorada de Carlos Araújo: arroz com feijão, maionese caseira com ovos caipira e filezinho de panela com alho. A filha, Paula, deveria participar do encontro em família, mas o filho Gabriel estava doente.

São 17 as outras líderes poderosas

Ao assumir a Presidência do Brasil, em janeiro, Dilma Rousseff vai entrar para um restrito clube de líderes globais que tem, atualmente, 17 mulheres. Ainda que cada uma dessas presidentes ou primeiras-ministras tenha chegado ao poder em circunstâncias distintas, especialistas ouvidas pela BBC Brasil traçaram paralelos entre elas. Também comentaram as dificuldades que as mulheres enfrentam no poder pelo mero fato de serem ainda poucas no panorama mundial.

Segundo dados compilados pela entidade americana 50-50 by 2020, que defende a representação igualitária dos gêneros no poder, as 17 mulheres – Dilma ainda não incluída – estão à frente de 16 países do mundo (a Finlândia tem uma presidente e uma primeira-ministra do sexo feminino), de um total de 192 nações representadas na ONU. “Fora dos países escandinavos, onde cerca de metade dos gabinetes já é formada por mulheres, há relativamente poucas delas em cargos eletivos”, diz Wendy Stokes, autora de Women in Contemporary Politics.

Dessas 17 citadas, aliás, uma não foi eleita: Roza Otunbayeva assumiu o comando do Quirguistão após um golpe de Estado que depôs o presidente. Outras não são necessariamente as principais mandantes de seu país – caso da Índia, onde Manmohan Singh ocupa o cargo mais importante, o de primeiro-ministro, e a presidente Pratibha Patil tem um posto cerimonial.

Na boa em Minas, Rio e Nordeste

A petista Dilma Rousseff conseguiu ampliar seu colchão de votos no Nordeste, além de melhorar seu desempenho em Minas e no Rio, segundo e terceiro colégios eleitorais do país. A conjunção desses fatores assegurou sua eleição ontem. Ela venceu no Distrito Federal e em 15 estados, a maioria no eixo Norte-Nordeste. José Serra (PSDB) virou a eleição em três estados em relação ao primeiro turno — Rio Grande do Sul, Goiás e Espírito Santo — e obteve maioria de votos em 11 unidades da federação, concentrados no Sul e no Centro-Oeste, além de São Paulo.

No estado em que governou até março, Serra tinha 54,05% dos votos válidos (12,3 milhões), contra 45,95% de Dilma (10,4 milhões). A diferença foi de 1,8 milhão de votos, menor do que a meta traçada por sua campanha, que era a de superar os três milhões. O esforço apregoado pelo senador eleito Aécio Neves (PSDB) para alavancar o paulista em Minas não surtiu o efeito esperado.

Embora tenha aumentado sua votação em Minas em 11 pontos percentuais, Serra não conseguiu neutralizar o crescimento da rival. Dilma abriu uma dianteira de 1,7 milhão de votos, praticamente anulando a vantagem que ele obteve em São Paulo. A petista teve 58,4% dos votos (6,2 milhões) na terra de Aécio, contra 41,5% do adversário (4,4 milhões).

A performance do tucano no segundo turno foi 33% melhor (mais 1,1 milhão de votos) e a de Dilma, 22% (mais 1,15 milhão). Mas a diferença manteve-se no mesmo patamar, entre 16 e 17 pontos. O Rio deu 60,48% dos votos válidos à ex-ministra (4,9 milhões) e 39,52% a Serra (3,2 milhões). Ela ganhou 1,1 milhão de votos em relação ao primeiro turno e ele, 1,2 milhão. É como se o eleitorado que apoiou Marina Silva (PV), que ficou em segundo no Rio, com 2,6 milhões de votos, tivesse se dividido.

Dilma se aproximou do governador Sérgio Cabral (PMDB), que teve 66% dos votos válidos no primeiro turno. Ele e outros governadores foram cobrados pelo presidente Lula para que puxassem mais apoios para Dilma. Também foi assim em Pernambuco: Eduardo Campos (PSB) foi reeleito com 82%. Dilma teve 75,6% ontem no estado.

Hora de juntar os cacos e abrir diálogo

A presidente eleita, Dilma Rousseff, deve atuar em três frentes prioritárias para resolver sequelas políticas da eleição: tentar criar um ambiente de unidade nacional e pacificação dos ânimos com a oposição; curar feridas dos aliados; e afastar do seu governo a sombra de denúncias de irregularidades que surgiram ao longo da campanha eleitoral. Dilma tentará construir um ambiente de trégua nos seis primeiros meses de governo.

Num primeiro momento, Dilma deve fazer um gesto para aliados que ficaram magoados. É o caso dos senadores Alfredo Nascimento (PR) e Hélio Costa (PMDB), que perderam a eleição para os governos do Amazonas e de Minas, respectivamente. A presidente eleita terá que juntar os cacos também no PT, principalmente em Minas Gerais. Depois da intervenção direta do presidente Lula, o PT mineiro teve que abrir mão de uma candidatura própria para apoiar Hélio Costa.

Montagem de equipe

Em comum acordo com o presidente Lula, a presidente eleita, Dilma Rousseff, deverá confirmar o primeiro nome de sua futura equipe do primeiro escalão antes da posse: o atual do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, é o nome mais forte para a chefia da Casa Civil. Internamente, Lula já confidenciou que ele seria a melhor opção para ser o “Dilmo da Dilma”. Para facilitar a transição, o presidente pode nomeá-lo antes da posse, em janeiro, se Dilma preferir.

Segundo interlocutores do presidente, o nome de Paulo Bernardo não enfrenta resistência porque ele não tem um projeto pessoal de poder, que poderia ofuscar a gestão de Dilma. No Palácio do Planalto, foi lembrado que, no máximo, ele poderia consolidar, na chefia da Casa Civil, um projeto regional no Paraná. Jamais usaria a pasta para se fortalecer nacionalmente. Diferentemente de José Dirceu, no primeiro mandato de Lula. Com projeto pessoal de suceder ao presidente, Dirceu tentou rivalizar no poder com Lula.

Dentro desse mesmo raciocínio, o nome do deputado Antonio Palocci (PT-SP) está praticamente descartado para ocupar uma função de destaque dentro do Palácio do Planalto — o que não o elimina da lista de ministeriáveis. Lula já disse que gostaria de vê-lo no Ministério da Saúde. Outra opção é a presidência da Petrobras.

Outro nome que ganhou força é o do deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP), um dos três principais coordenadores da campanha de Dilma, ao lado de Palocci e do presidente do PT, José Eduardo Dutra. É o mais cotado para assumir o Ministério da Justiça. O presidente Lula também quer deixar no Planalto seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho. O mais fiel assessor de Lula pode assumir a Secretaria Geral da Presidência. Lula teria em Gilberto, nesse posto, a garantia da continuidade da ligação estreita do governo com os movimentos sociais.

FHC acusa Lula de ‘intolerante’

Após criticar o presidente Lula por “abuso de poder político” nas eleições a favor de sua candidata, Dilma Rousseff, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chamou o PT e Lula de “dinamitadores de pontes”, numa alusão ao quanto considera difícil uma eventual aproximação entre petistas e tucanos no futuro governo. Ele culpa a intransigência e a intolerância do governo Lula pela polarização entre os partidos e no próprio país, o que impediria um debate mais construtivo sobre o futuro do Brasil.

O ex-presidente diz que o currículo petista é ruim, caracterizado por discurso agressivo e uso escandaloso da máquina pública na defesa de interesses partidários. Ele criticou a falta de visão conciliatória de futuro do PT e disse que, nos últimos oito anos, o partido “nunca acenou para oposição nenhuma”.

Oposição menor no Congresso terá que se unir

Com a derrota para Dilma Rousseff na eleição presidencial, a oposição chegará menor e mais enfraquecida ao Congresso e terá que redefinir a forma de atuar na Câmara e no Senado. Embora tenha perdido também vagas no Parlamento, a oposição controla os principais estados do país, com destaque para São Paulo e Minas. A saída para se fortalecer, segundo os próprios oposicionistas, é atuar em bloco e de forma unida, algo que os três partidos (PSDB, DEM e PPS) nem sempre conseguiram.

O primeiro teste dessa nova fase da oposição será na votação de gargalos que o governo de Dilma terá a partir de agora: a questão cambial, a lei de exploração do pré-sal, o Orçamento da União para 2011 e o reajuste do salário mínimo. A presidente eleita terá maioria confortável na Câmara — que o governo Lula tem — e sobretudo no Senado, onde Lula teve sua maior derrota em 2007, com o fim da CPMF. Isso significa amplo poder para aprovar medidas provisórias e impedir instalação de CPIs.

Internamente, a oposição terá uma “dança das cadeiras” de lideranças parlamentares, em especial no Senado, onde, com empenho pessoal de Lula, foram derrotados nas urnas oposicionistas como os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM), Tasso Jereissatti (PSDB-CE) e Marco Maciel (DEM-PE). Agora, chega com força o senador eleito Aécio Neves, que é de Minas e tem pretensões presidenciais em 2014.

O PSDB também terá uma renovação de poder no comando interno, com a saída do grupo de José Serra e o crescimento do número de aliados dos governadores Geraldo Alckmin (São Paulo) e Beto Richa (Paraná). Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), a oposição terá que ser muito mais “aguerrida”. Ele lamenta a falta de espaço que os partidos terão no Congresso.

PSDB governará mais e maiores estados

Derrotado pela terceira vez consecutiva na disputa presidencial, o PSDB saiu vitorioso nas eleições regionais: comandará oito estados, inclusive São Paulo e Minas, maiores colégios eleitorais. O PSB também sai fortalecido, dobrando de três para seis os estados sob sua administração. O PT mantém cinco governadores. O PMDB perdeu força: de seus oito governadores, ficará com cinco.
O Estado de S. Paulo

A vitória de Lula

O presidente Lula alcançou seu objetivo de obter a terceira vitória consecutiva numa eleição presidencial. A maioria dos eleitores atendeu ao seu chamado de votar em Dilma Rousseff, tornando-a a primeira mulher presidente da história do Brasil. Desconhecida de grande parte dos brasileiros até o início do ano, a ex-ministra da Casa Civil, de 62 anos, venceu sem nunca ter disputado uma eleição, derrotando o experiente José Serra, de 68 anos. Apurados mais de 90% das umas, Dilma teve 55% dos votos válidos, e Serra, 45%. Ao longo da contagem, a diferença se manteve em torno dos 10 milhões de votos. Assim como no primeiro turno, o Nordeste desempenhou papel importante na vitória da candidata do PT. Dilma obteve cerca de 70% dos votos na região. O Sul, por outro lado, voltou a ser a única região em que Serra foi mais votado, com cerca de 54%. Nas demais regiões, Serra também aumentou sua votação no segundo turno em relação ao primeiro, mais do que Dilma, mas não o suficiente para alcançá-la. A petista prometeu “governar para todos” e conversar com “todos os brasileiros”. Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, porém, “o governo Lula e o PT foram dinamitadores de pontes”.

Lula avisa que seguirá como protagonista

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 31, que continuará à frente da rede de movimentos sociais e sindicais depois que deixar a Presidência. Em entrevista no pátio da Escola Estadual João Firmino, onde votou pela manhã, afirmou que estará à disposição de sua sucessora, a “companheira” Dilma Rousseff, para eventuais embates com os adversários e diálogos com empresários e aliados. “Não tenho como desaparecer da minha relação com a sociedade de uma hora para a outra”, afirmou. “Quero continuar viajando, ajudando o Brasil e a política”, ressaltou. “Sou um ser humano político.”

Nas respostas sobre o futuro político, Lula sugeriu que a disputa de 2014 é um tema de interesse da imprensa, enquanto a preocupação dele é permanecer em evidência nas ruas após deixar o governo. “Ela (Dilma) vai tomar posse no dia 1º. Eu vou para a terra e ela continua. Eu, no nosso barco”, afirmou. E repetiu semblante de falta de interesse toda vez que foi perguntado sobre um possível terceiro mandato, dizendo não ter “vontade” de voltar ao Planalto.

A imagem de ‘subalterna’ do Lula

O vocabulário do brasileiro ainda não deu conta da novidade. A partir de hoje, os eleitores se dividem entre os que chamam Dilma Rousseff (PT) de “presidente” ou “presidenta”.  Não há unanimidade sobre se ela é a primeira mulher presidente ou a primeira presidente mulher do Brasil. O fato é que a petista colocou, pela primeira vez, as mulheres no mais alto posto da República. E o vocabulário certamente se adaptará ao novo cenário. A chegada de Dilma ao poder foi construída com base em ambiguidades na questão de gênero. A campanha da petista se apropriou de imagens intrinsecamente femininas, embora ultrapassadas.

Associou a candidata ao título de “mãe do PAC” ou de “mulher do Lula” e tornou Dilma uma sucessora palatável, já que “subalterna” ao futuro ex-presidente. “Isso foi intencional. Se o continuador fosse um homem, parte do eleitorado, sobretudo o masculino, poderia achar que o sucessor logo teria autonomia e se desligaria de Lula”, explica Fátima Pacheco Jordão, diretora do Instituto Patrícia Galvão, socióloga e especialista em pesquisas de opinião. Ela lembra que Dilma foi trabalhada para ser feminina “na aparência física, na contemporaneidade de seu cabelo”.

Serra elogia Alckmin e ignora Aécio

Com discurso de líder da oposição e recebido com muitos aplausos por correligionários, o presidenciável derrotado do PSDB, José Serra, agradeceu na noite de hoje a contribuição de aliados, e reservou um afago especial para o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, “que se empenhou mais na minha campanha do que na dele”. Embora tenha citado praticamente todos os líderes partidários que trabalharam pela sua vitória, o tucano ignorou o nome do senador eleito de Minas Gerais, Aécio Neves.

O discurso foi feito no comitê da campanha tucana, no centro de São Paulo, minutos após o pronunciamento da presidente eleita, Dilma Rousseff. Embora tenha cumprimentado a adversária e desejado que ela “faça bem” ao País, o tucano procurou preparar o terreno para a atuação da oposição nos próximos quatro anos. Citando a “defesa da pátria, da liberdade, da democracia”, Serra prometeu uma atuação aguerrida contra os políticos que se “servem do nosso povo”.

“Para os que nos acham derrotados, nós apenas estamos começando uma luta de verdade”, disse. “Minha mensagem de despedida nesse momento não é um adeus, mas um até logo. A luta continua. Viva o Brasil!” Aplaudido em várias momentos do discurso, Serra também agradeceu a militância e criticou indiretamente a campanha adversária. ”Nesses meses difíceis, quando enfrentamos forças terríveis, vocês alcançaram uma vitória estratégica no Brasil. Cavaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza. Consolidaram um campo político de defesa da liberdade e da democracia no Brasil”, afirmou.

O erro de Serra foi não confrontar

José Serra chegou ao final da segunda campanha presidencial – e mais uma vez derrotado – carregando dois grandes erros. Primeiro, o tucano não conseguiu anular a guerra eleitoral plebiscitária montada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Dilma Rousseff. Segundo, abrindo mão de se apresentar como candidato de oposição. Serra não conseguiu convencer o eleitor de que ele deveria trocar a “continuidade” prometida por Lula por um novo governo tucano.

Depois de admitir que Lula era um personagem da política “acima do bem e do mal” e de dizer que “candidato a presidente não é líder da oposição”, Serra fez uma campanha com tanto ziguezague que, diante, novamente, da acusação de “privatista”, encheu o horário eleitoral com propaganda em que revidava acusando Dilma de “já ter vendido parte do pré-sal a estrangeiros”.

A expectativa inicial era bem diferente. Quando o então governador de Minas Gerais e senador eleito Aécio Neves discursou no dia 10 de abril a cerca de 3,5 mil dirigentes e militantes do PSDB, DEM e PPS, no pré-lançamento da candidatura Serra, o tucanato identificou ali o mote para a campanha de oposição.

Sob aplausos entusiasmados do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e apupos de toda a plateia, Aécio voltou sua artilharia de críticas e ataques ao PT e ao modo petista de governar.

Administração: Eleita terá 50 assessores para fazer a transição

A presidente eleita Dilma Rousseff contará com orçamento de R$ 2,8 milhões para realizar a transição, com time de 50 assessores para buscar informações na atual equipe de governo.

Desafios da sucessora

Mesmo sem o carisma de Lula, o governo de Dilma terá de mostrar transparência e confiabilidade na administração do pré-sal e da macroeconomia.

O derrotado Serra afirma que ‘alternância de poder faria bem’

O candidato derrotado à Presidência José Serra (PSDB) disse que a “alternância de poder faria muito bem” e classificou a eleição como uma “batalha desigual”. Para o presidente Lula, “Serra sai menor desta campanha”.

A oposição: PSDB e DEM ampliam força nos Estados

Com o resultado do segundo turno no Distrito Federal e em oito Estados, PSDB e DEM expandiram o controle sobre governos estaduais. O “corredor oposicionista” soma mais de 50% dos votos do País.
Correio Braziliense

Dilma do Brasil

A primeira mulher a conquistar a Presidência da República agradeceu especialmente às eleitoras — “Sim, a mulher pode!” — e disse que a vitória representa um avanço democrático no país. Com o respaldo de 55 milhões de votos, Dilma Vana Rousseff comprometeu-se a erradicar a miséria, melhorar a qualidade dos serviços públicos e controlar os gastos do governo. Durante o discurso, com tom programático, Dilma ficou claramente emocionada ao referir-se a Lula. Em São Paulo, o tucano José Serra parabenizou a candidata eleita, mas adiantou que “a luta continua” e que a oposição ao terceiro governo petista apenas começou.

Como a filha de um imigrante búlgaro e de uma professora chegou ao cargo máximo do país aos 62 anos. Conheça a trajetória de Dilma Rousseff, desde a militância estudantil ao Ministério de Lula, e os desafios que enfrentará para manter o Brasil na rota de crescimento e justiça social.

Agnelo obtém vitória histórica

Com 875.612 votos, Agnelo Queiroz vence a ex-primeira-dama Weslian, conquista o Buriti e impõe uma derrota acachapante sobre Joaquim Roriz, que nunca havia perdido uma disputa contra o PT. Médico, ex-ministro do Esporte e ex-deputado, Agnelo assume o GDF escorado em uma maioria de peso: teve a maior votação proporcional registrada na capital e ficou em primeiro lugar em 19 das 21 zonas eleitorais.

Agnelo comemorou a vitória na Esplanada, ao lado dos senadores eleitos Cristovam e Rollemberg e de milhares de militantes. Em entrevista ao Correio, prometeu unir a cidade, mas sem dar espaço ao rorizismo.

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