“Não posso, não quero e não devo.” Assim o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu descartou uma eventual inclusão no governo Dilma Rousseff, caso se confirme neste domingo a vitória da petista nas urnas.

“[Participação] no governo? Nenhum. Sou dirigente do PT”, disse Dirceu logo após votar esta manhã, em um colégio eleitoral de Moema (zona sul de São Paulo).

Ele ressaltou não ter pleiteado cargo na coordenação da campanha dilmista. “Sei qual é o meu lugar no Brasil. Sei que devo contas à Justiça.”

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Um dos primeiros a chegar, às 8h05, o petista dispensou a “blindagem” que usou no primeiro turno.

Na ocasião, entrou por uma porta lateral da universidade particular que abriga sua zona eleitoral. Sem enfrentar fila e chuva, evitou um déjà-vu de 2006, quando foi rotulado de “bandido” por eleitores e virou alvo de uma nova modalidade de protesto: arremesso de pastéis.

Os fantasmas do mensalão, se hoje presentes, não assombraram o ex-ministro. Acompanhado de dois assessores, com óculos escuros no bolso e ar despreocupado, Dirceu recusou proposta de passar à frente das três pessoas que aguardavam na fila.

No máximo, eleitores lançaram olhares curiosos ao acusado, em 2005, de comandar um suposto esquema de pagamentos mensais a deputados.

Defender-se das acusações no STF (Supremo Tribunal Federal) é prioridade de Dirceu em 2011. “Agora quero ser julgado. Fui pré-julgado, linchado”, afirmou.

Se a vida política está descartada por ora, ele disse que a história pode mudar se “for absolvido”.

‘COVARDIA’

Sem aparecer nas propagandas eleitorais de Dilma, que o sucedeu na Casa Civil, Dirceu era coadjuvante involuntário na campanha de José Serra (PSDB).

Tática recorrente dos tucanos era afirmar que, se triunfasse nas urnas, Dilma acolheria em seu governo personagens controversos do PT. Dirceu e Erenice Guerra, a mais recente ocupante da Casa Civil a cair após escândalos, eram o maior capital de risco.

“Toc, toc, toc/ Bate na madeira/ Dilma e Zé Dirceu/ Nem de brincadeira”, dizia um jingle assíduo no programa serrista.

O ex-ministro reclamou de uma decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que negou liminar pedida pelos advogados de Dilma. O desejo era que o tribunal suspendesse propaganda da coligação tucana que expõe Dirceu como “membro da quadrilha do mensalão”.

“Uma covardia, né, porque eu não posso responder. A decisão foi no mínimo equivocada. Eu tenho direito de resposta”, disse Dirceu.

Recorreu à “presunção da inocência” e pediu “respeito ao devido processo legal”.

“Cabe a quem acusa provar. Se nós desrespeitarmos isso, nada mais vale no país. São garantias individuais que garantem a democracia.”

Dirceu afirma que, nas quase três décadas em que acompanha de perto o processo eleitoral, nunca viu uma campanha tão suja.

A belicosidade partiu principalmente da trincheira tucana, em sua opinião. Por conta disso, “Serra perdeu voto da inteligência, da juventude, de empreendedores e de empresários”.

Após votar, Dirceu foi tomar café da manhã em uma padaria próxima, acompanhado dos assessores. Disse ainda não saber se seguiria para Brasília ainda hoje –no caso, para participar da festa que celebrará uma possível vitória de Dilma, em um hotel da capital. UOL

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