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Em reunião com governadores eleitos, presidente admite que foi agressivo em alguns comícios. Lula promete ressuscitar o “Paz e Amor” no 2º turno

 

Lula em encontro com governadores e senadores da base aliada, em Brasília

Em reunião com governadores e senadores eleitos da base aliada na manhã desta terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu seus próprios erros no primeiro turno da disputa presidencial e sinalizou que, a partir de agora, voltará a vestir o figurino “Lulinha Paz e Amor”.

“Em certos momentos fui duro em alguns Estados onde precisava eleger os senadores, mas a partir de agora é outro jogo”, disse o presidente ao abrir o encontro no Palácio da Alvorada, segundo um dos governadores presentes.

 

Na véspera, em reunião com a candidata Dilma Rousseff, vários deles verbalizaram a necessidade de Lula adotar um tom mais brando, acalmar a militância e capitalizar a expressiva votação obtida no primeiro turno.

Entre os que defenderam a volta do “Lulinha Paz e Amor” na reunião com Dilma estão o deputado Ciro Gomes (PSB) e os governadores reeleitos do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), e de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Embora não tenha ido à reunião de segunda-feira, Lula registrou as críticas. “Agora é o momento de termos humildade e tranquilidade e de um freio de arrumação”, disse o presidente, hoje, de acordo com um participante do encontro.

Segundo aliados, Lula teve uma parcela de responsabilidade no resultado da eleição de domingo por ter sido muito agressivo em alguns comícios. Eles citam os discursos em Santa Catarina, no qual o presidente falou em “extirpar” o DEM; Recife, onde atacou duramente Marco Maciel (DEM); e Campinas, quando atacou duramente a imprensa e comprou uma briga com os maiores de veículos de comunicação do país.

Tudo isso teria respingado em Dilma e ajudado a levar a eleição para o segundo turno.

Erros

Nos últimos dois dias, os apoiadores de Dilma começaram a identificar os erros que evitaram a vitória no domingo. Além do exagero verbal de Lula, eles apontam a própria postura do presidente em comício nos quais, certo da vitória, o presidente chamava mais atenção para si do que para a candidata, que ficava em segundo plano.

Outro erro apontado foi a demora em responder de forma eficiente aos ataques dos adversários e às denúncias de corrupção e violação de sigilos feitas pela imprensa. “Demoramos e quando respondemos não foi de forma satisfatória”, disse Eduardo Campos.

No primeiro turno, Dilma deixou claro que quem respondia pela coordenação de sua campanha era a trinca Antonio Palocci, José Eduardo Dutra e José Eduardo Cardozo, todos do PT. Desde domingo, os próprios petistas e principalmente os aliados já apontavam esta centralização de poder da campanha como um dos erros e reivindicaram maior participação.

“O PT vai precisar abrir esta coordenação para garantir um resultado positivo nesta segunda fase. Do jeito que foi os aliados ficaram a maior parte do tempo de fora das decisões e não foram consultados”, afirmou ontem o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves.

Em conversa com Dilma e seu comando da campanha, ontem, a cúpula do PMDB deixou claro que se sentiu “pouco acionada” neste primeiro turno das eleições, conforme revelou o Poder Online. Um jeito educado de dizer que os petistas cercaram Dilma e não abriram espaço à participação dos aliados. Esse tipo de centralização faz com que os aliados também não se comprometam. O vice Michel Temer, por exemplo, atuou por conta própria, sem grandes solicitações do pessoal da campanha.

O próprio PT reclama nos bastidores que foi excluído das decisões centrais por culpa da coordenação que se fechou em três. Há mais de um mês, a tradicional reunião no comitê central da campanha com integrantes do partido não acontecia.

Subestimar a “onda verde” provocada pela candidatura de Marina Silva foi também apontada pelos aliados como decisivo para o segundo turno. Mais que isso, a coordenação da campanha de Dilma admite que menosprezou a habilidade de Marina de fazer campanha corpo a corpo com eleitores, movimentação a que Dilma não se submeteu no primeiro turno. A campanha, na maioria das vezes, blindava a petista alegando tumulto provocado pela candidata nas cidades visitadas.

“O PT esqueceu que Marina foi criada dentro das raízes do próprio partido há mais de 30 anos”, afirmou um dirigente petista.

Além disso, os apoiadores de Dilma pedem ajustes no programa da TV feito por João Santana e classificado como “olímpico” demais e também na agenda da candidata. O fato de ela não ter ido à região e a pausa ocorrida durante o nascimento do neto, Gabriel, são vistos como sinal de confiança excessiva.

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