Lilian Machado/Tribuna

 A insatisfação dos democratas baianos que, durante a campanha reclamaram da falta de apoio da legenda e das parcerias inusitadas dentro do partido, conforme foi antecipado pela Tribuna da Bahia, se comprovou com o resultado pífio da bancada estadual nas eleições deste ano.

 A redução de 12 para apenas cinco deputados confirmou o processo de desidratação da sigla, que perdeu algumas forças na Casa, a exemplo do líder Heraldo Rocha e do deputado Carlos Gaban, opositor ferrenho ao governo. Passadas as eleições, já é dado como certa a debandada de pelo menos três deputados estaduais, que podem ingressar em uma nova conjuntura partidária ou cair nos braços do governo.

Rumores dão conta de que o governador eleito Otto Alencar (PP), que teria ajudado na eleição de ex-aliados, pode ser o articulador do ingresso de parlamentares na base governista.
 
Diante do novo cenário, nos bastidores comenta-se que Gaban e Clóvis Ferraz, derrotados no pleito, já estariam de malas prontas para outras coligações. Além deles, pode sair do Democratas, o deputado reeleito Gildásio Penedo, que é genro do vice eleito (Otto) e, influenciado por essa situação, pode estar seguindo rumo ao governo pelo PP, dos deputados federais Mário Negromonte e João Leão. Dentro do DEM saíram vitoriosos no pleito, além de Penedo, os deputados Rogério Andrade e Paulo Azi.

Devem estrear como representantes da legenda no Legislativo, Tom, que entrou na campanha no lugar de Emério Resedá, e Herbert Barbosa.
 
Apesar de ainda não admitirem a saída para outras correntes, alguns deputados assumiram que faltou “senso de coletividade” durante a campanha eleitoral. 

“Política é grupo e só tem futuro quem está dentro de um grupo. Lembro-me que o senador ACM e o deputado Luis Eduardo trabalhavam para distribuir votos dentro do partido e ajudar aqueles que estavam mais fracos.

Fazer parcerias para ajudar outros não é justo. O mais correto é ajudar aqueles que sempre estiveram ali”, disse Gaban, sem querer citar nomes, mas alfinetando aliados que intensificaram dobradinhas com candidatos de outros partidos.

Segundo ele, o PT hoje é um exemplo do que o líder ACM fazia no passado, “quando escolhe aqueles que precisam ser ajudados e trabalham para elegê-los”. “Na hora em que se esquece o coletivo, se dissolve o partido”, acrescentou, justificando que além desse motivo, o fato de ter sido um crítico do atual governo pode ter contribuído para sua derrota.

Derrotados procuram por novo grupo

Questionado sobre o futuro, o democrata afirmou que deve se juntar aos políticos com os quais tem “afinidade” para repensar um novo grupo. “Eu incluo nisso César Borges e Antonio Imbassahy, que são grandes amigos. Portanto, em termos de partido, vou ver pessoas identificadas comigo e pensar algo para o futuro, mas que seja sem individualismo”, afirmou, descartando, entretanto, que esteja à disposição de um convite do governo. 
 
O deputado Clovis Ferraz, que também não conseguiu a reeleição, disse que vai esperar a “poeira baixar” para avaliar novas possibilidades. “Vou me reunir com os colegas e apoiadores para ver como ficarei e depois irei me pronunciar a respeito. Por enquanto, não tenho o que dizer sobre o assunto”, restringiu.
 
Em situação mais “delicada” dentro partido por ser genro de Otto, considerado um dos grandes nomes da campanha de reeleição do governador Jaques Wagner, o deputado Gildásio Penedo negou que esteja de saída do Democratas. Embora os rumores sejam fortes de que esteja indo em direção ao PP, ele descarta a hipótese. “Sou um homem de partido e isso tudo é mera especulação”, limitou-se.

Penedo também negou que tivesse feito “corpo mole” na campanha do democrata Paulo Souto ao governo, como acusou um de seus colegas. “Estive ao lado de Paulo Souto em vários eventos no interior da Bahia, portanto isso não tem fundamento”.
 
Apesar de lamentar a “campanha individualista” na maioria dos partidos, Heraldo Rocha descartou que esse tenha sido o motivo de sua não reeleição. Caso fosse eleito, ele iria para o sexto mandato.

“Foi uma eleição em que prevaleceu o poder econômico. Apenas o poder de alguns se sobrepôs ao meu”, minimizou. Segundo ele, agora as apostas vão para uma campanha vitoriosa do presidenciável José Serra (PSDB) na corrida ao segundo turno. “Vamos trabalhar pela sua vitória. Estou aí apoiando ele e acho que esse resultado de deixar para decidir no segundo turno foi muito bom para a Bahia”, ressaltou.  
 
Além do líder democrata, admitiu dificuldades financeiras na campanha, o deputado Junior Magalhães, que também não conseguiu se reeleger. “Foi uma campanha muito difícil, mas não quero culpar ninguém por isso.

 Talvez os que reclamem de falta de ajuda é porque já tiveram algum dia e dessa vez não tiveram, mas esse não é o meu caso”, afirmou. Ele também rejeitou qualquer especulação sobre o seu futuro político.

Procurado pela reportagem, o presidente do Democratas, segundo colocado na eleição estadual, Paulo Souto, disse através da assessoria de imprensa que “não iria comentar especulações” sobre mudanças no partido. 

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