Luciana Alvarez, Mariana Mandelli, Isis Brum, Rejane Lima e Nayanne Santana, Especial Para o Estado – O Estado de S.Paulo

Um ano após a descoberta do vazamento da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), feita pelo Estado, os cinco acusados ainda não foram ouvidos pela Justiça. O depoimento dos réus está agendado para 12 novembro. Estima-se que a sentença judicial saia até fevereiro. Anteontem, a reportagem que denunciou o vazamento rendeu ao Estado o Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo.
A matéria Prova do Enem vaza e ministério anuncia cancelamento do exame, feita pelos jornalistas Renata Cafardo e Sérgio Pompeu e pelo fotógrafo Evelson de Freitas, e a cobertura realizada nos dias seguintes venceram na categoria jornal impresso.

Francisco Dantas
Francisco Dantas
Consagração. Crianças participam de cerimônia do Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo; reportagem do ‘Estado’ venceu na categoria jornal impresso

 

A fraude, denunciada dois dias antes da data marcada para a aplicação do Enem 2009, prejudicou cerca de 4,1 milhões de estudantes em todo o País. O cancelamento e a realização do exame em nova data consumiram R$ 99,95 milhões dos cofres públicos. O valor total gasto para o Enem ultrapassou R$ 168 milhões, mas o governo ainda tenta reaver R$ 35 milhões pagos ao consórcio Connasel pela impressão da prova. Como a quebra de contrato foi amigável, a devolução está sendo pedida por meio de processo administrativo. Se não houver acordo, o caso seguirá para a Justiça.

Na época do vazamento, o ministro da Educação, Fernando Haddad, agradeceu ao jornal por ter informado sobre a fraude e disse que a atitude evitou o deslocamento desnecessário de estudantes para a realização de uma avaliação cujos resultados terminariam anulados. “Se nós anulássemos a prova (depois de realizada), em vez de adiá-la, os prejuízos e transtornos seriam maiores. Todo mundo teria feito a prova e os resultados não poderiam ser usados.”

A prova foi adiada para os dias 5 e 6 de dezembro. Com a nova data, algumas das mais importantes instituições do País, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desistiram de usar a nota do exame como parte de seu processo seletivo. Como consequência, o Enem teve a maior abstenção da história: 37,7% no País ou 1,5 milhão de inscritos.

O vazamento derrubou o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes. Ele pediu demissão em dezembro. O Inep é o responsável no Ministério da Educação (MEC) pela realização da prova. Em carta aos funcionários, Fernandez assumiu a responsabilidade “de todo o ocorrido”. Após a fraude, o Inep também desistiu de realizar uma edição do Enem no meio de ano.

Reportagem. As provas foram furtadas da gráfica Plural, em São Paulo, onde eram impressas. O Estado foi procurado por dois homens, que tentaram vendê-la por R$ 500 mil. O jornal não compra informações. A reportagem disse isso aos homens pelo telefone, mas pediu para marcar um encontro em um local público para que pudesse ver a prova.

Em nenhum momento os dois deram seus nomes e, por isso, foram identificados nos textos como “Informante” e “Sócio”. Ao folhear o caderno da prova, a reportagem memorizou algumas das questões e alertou o Ministério da Educação (MEC) de que o exame poderia ter vazado. A confirmação do vazamento chegou junto com a informação do cancelamento do Enem. Uma nova empresa foi contratada em caráter emergencial para organizar e aplicar o exame.

Enem 2010. Neste ano, o Enem enfrentou novos problemas. No início de agosto, o Estado denunciou que uma falha do Inep havia permitido acesso livre aos dados pessoais de 12 milhões de inscritos nas últimas três edições do exame no site do órgão.

Dias depois, o jornal também revelou que, a três meses da realização do Enem, o contrato com as empresas que deveriam organizar a prova ainda não tinha sido assinado. O processo ficou ainda mais polêmico quando a Justiça suspendeu o pregão eletrônico para a contratação de serviços de impressão. A Plural, gráfica de onde o exame foi furtado no ano passado, impetrou mandado de segurança, alegando que o instituto a inabilitou da concorrência. A Plural ofereceu o menor preço pelo serviço: R$ 65 milhões. Dias depois, a Justiça recolocou a gráfica na licitação. No fim, uma decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1.ª Região acabou por suspender a liminar obtida pela Plural.

Com o processo, houve atraso na impressão das provas. Prevista para começar no fim de agosto, ela só teve início depois da metade de setembro, a dois meses da avaliação.
OS TROPEÇOS DO ENEM
1º de outubro/2009:
Estadorevela vazamento da prova do Enem e Ministério da Educação cancela o exame.

7 de outubro/2009:
Universidades desistem de usar o Enem na seleção.

3 de agosto/2010:
Falha no site do Inep permite acesso aos dados de 12 milhões de inscritos.

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