Do Correio

Eles garantem não usar a fé alheia para obter votos, mas a maioria não abre mão do título religioso do nome político. Na sucessão estadual, o cidadão tem se deparado com pelo menos 20 padres, pastores, bispos, pais de santo e até médiuns, que, desde o início do horário eleitoral, disputam a preferência do eleitorado. A psicóloga Heloísa Saback, da Faculdade Ruy Barbosa e especialista em ciências da família, inclui o fenômeno em
um contexto maior: “O que acontece é exatamente o mesmo fenômeno dos candidatos artistas, jogadores de futebol, gente que aproveita o fato de já ser, de alguma forma, conhecida para atrair mais votos”.

Segundo a psicóloga, a estratégia costuma funcionar melhor com pessoas menos informadas, que podem ser mais facilmente induzidas. “As religiões mais massificadas, que usam a fé de uma maneira mais contundente, têm mais chances de obter sucesso com isso”, complementa.

Apesar de não considerar o fenômeno dos candidatos religiosos relevante, o cientista político Paulo Fábio Dantas, da Universidade Federal da Bahia (Ufba) afirma que, diferente da crença, o que costuma fazer a diferença é como a questão é conduzida por cada candidato. Para ilustrar, ele cita a última disputa pela prefeitura de Salvador, em 2008, quando dois candidatos evangélicos concorriam pela Prefeitura de Salvador. “Enquanto João Henrique (PMDB) invocou Deus a campanha inteira, Walter Pinheiro (PT) não explorou o assunto”, comparou.

Para ele, a questão religiosa pode ajudar, mas não é relevante para decidir uma eleição. Mais do que não ser relevante, a depender da filosofia defendida, a questão religiosa pode até contar pontos contra o candidato, segundo Heloísa, que cita como exemplo o caso do candidato Luís Bassuma (PV), que é espírita. O candidato ao governo do estado foi alvo de muita polêmica em 2004, quando teria recebido um espírito durante uma sessão solene no Congresso.

Reflexos
“Eu sei que apenas 2% da população é espírita, e se eu fosse pensar eleitoralmente, seria muito mais cômodo para mim ocultar isso”, afirma Bassuma, que alega motivos mais nobres para a maneira com que trata o assunto. “Eu seria um ingrato perante Deus, se escondesse minhas crenças”, afirma.
Motivos nobres também fazem parte das justificativas do Padre Joel (PPS) para se lançar na política. “Precisava de mais ferramentas para materializar os princípios da minha formação na Igreja, o bem estar coletivo, a justiça”, afirma o candidato a deputado estadual.

Celebrações
Desde que decidiu se candidatar, o padre foi orientado pela Igreja a não celebrar missas para a comunidade durante o período de campanha.“Só celebro privadamente”, garante. Ele também assegura não fazer propaganda eleitoral nas igrejas.

O candidato a deputado federal Bispo Gê Tenuta (DEM), ao contrário, não parou suas pregações, que acontecem de quatro a seis vezes por semana. Ele também admite distribuir santinhos na porta de igrejas evangélicas, mas ressalva: “Só fazemos isso com a permissão dos pastores e sempre fora, na porta das igrejas, nunca dentro”. Para ele, os cargos religioso e político têm uma ligação importante. “Ser bispo me dá uma base muito melhor para exercer um mandato político, pois temos uma ligação muito próxima com o povo, seus problemas familiares, sociais e pessoais. Isso nas mais variadas classes”, afirma. Se eleito, o bispo não tem propostas específicas para os evangélicos, mas promete defender os valores cristãos e da defesa dos mais carentes.

Já Mãe Angélica (Psol), que é candidata a deputada estadual promete políticas afirmativas para o candomblé. Dona de um terreiro de candomblé, a ialorixá vive como baiana e tem propostas de conservação dos templos da religião, além da afirmação da mulher negra. Segundo ela, o fato de ser mãe de santo não ajuda nem atrapalha sua campanha. “As pessoas me conhecem por causa do meu trabalho nas comunidades, independente de religião”, diz.

Outros candidatos religiosos:

Pastor Cláudio Lima (PDT)
Pastor Ednei (PT do B)
Pastor Elias (PT do B)
Pastor Fernando (PR)
Pastor José Arimatéia (PRB)
Pastora Leda (PMDB)
Pastor Nelson (PRP)
Pastor Samuel (PSC)
Bispo Márcio Marinho (PRB)
Bispo Fabio Santos (PDT)
Pai Torres (Psol)
Pai Gil (PTN)
Pastor Samuel (PSC)
Pastor Josevaldo (PSC)
Pastor Eduardo Aleluia (PSC)
Rose Bassuma (PV)

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