G1 RJ A condenação do ator Dado Dolabella a 2 anos e 9 meses de prisão em regime aberto é vista como importante por especialistas ouvidos pelo G1 por estimular a discussão da Lei Maria da Penha, que completa quatro anos neste mês. Apesar de concordarem sobre a importância do debate, porém, advogados da área penal avaliam que a pena pode ter sido exagerada. O ator foi condenado pelo 1º Juizado de Violência Doméstica Familiar contra a Mulher do Rio, por lesão corporal. A denúncia foi feita por sua ex-namorada, a atriz Luana Piovani, em outubro de 2008. O ator foi condenado por agredir a atriz e uma camareira dela durante uma festa. O caso foi enquadrado na Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Pelo regime aberto, Dado teria que dormir toda noite na cadeia. Mas os advogados do ator vão recorrer da decisão e, durante o julgamento do recurso, Dado permanecerá em liberdade. saiba mais Luana Piovani manda recado sobre Dado: ‘Aos meus inimigos, a lei’ Dado Dolabella é condenado a quase três anos de prisão em regime aberto ‘Ele sempre negou tapa na Luana’, diz advogado de Dado Ator Dado Dolabella é preso no Rio Exagero Para o professor de direito penal da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) David Teixeira de Azevedo, a lei é positiva por estabelecer uma proteção jurídica às mulheres que se encontram em situações vulneráveis. “Há, no entanto, alguns exageros na aplicabilidade da lei, como me parece ser o caso de Dolabella”, disse. Azevedo avalia que a pena do ator pode ter sido injusta por ser como uma espécie de exemplo para a sociedade, já que o caso tem ampla divulgação nos meios de comunicação. “Ao meu ver houve, nesse caso, uma espécie de instrumentalização da pessoa humana, uma crucificação para a exemplaridade”, avaliou. O especialista disse que talvez a pena não teria sido a mesma se o caso tivesse ocorrido com um casal que não é famoso. Para ele, como a lesão aparenta ter sido leve, não há motivo para a condenação da uma pena dessa magnitude. O especialista explicou, porém, que não conhece os detalhes do caso e, por isso, tem uma visão distanciada. O advogado criminalista Sergei Cobra Arbex e conselheiro Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também avalia que a condenação possa ter sido um exagero. Ele também ressaltou que sua é visão distanciada, já que não acompanhou o processo de perto. Avanço Para Arbex, porém, todo o procedimento que envolve o caso foi um avanço, já que foram aplicadas medidas de proteção para evitar que Dolabella e Luana Piovani se encontrassem, o que poderia causar novas agressões. Uma das medidas nesse sentido foi a determinação da Justiça de que o ator deveria ficar a, no mínimo, 250 metros de distância da atriz. “O processo todo, independente do resultado, foi um avanço pedagógico para a população entender que a lei funciona”, avaliou. Para o especialista, o melhor na Lei Maria da Penha não é a condenação, mas sim medidas como proteção policial e afastamento entre os envolvidos, o que evita novas agressões. Para Ana Cláudia Pereira, consultora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) na área de violência contra as mulheres, o avanço está na própria condenação, que tem um significado importante para acabar com a banalização da violência doméstica, ainda mais pelo fato de a agressão ter tido uma grande dimensão pública. “Acho que a punição é bastante cabível. Vale ressaltar que muitas vezes a violência doméstica e familiar é cíclica, começa com manifestações menos graves e podem se transformar em algo pior”, disse. “Se um caso assim público fica sem punição, o que está se dizendo para os homens é que eles podem agredir livremente”, afirmou. Mediação O professor de direito penal da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Leonardo Augusto Marinho Marques, defende que a melhor forma para a resolução de casos como o de Dolabella não é a pena, mas a mediação do conflito. De acordo com o especialista, na mediação as partes se reúnem e procuram fazer um acordo para evitar que o problema se repita, sem a necessidade de virar um processo judicial. “Vejo distância do estado brasileiro no momento que o conflito acontece. A pena ainda não eliminou o conflito, pois a relação deles [Luana e Dolabella] anda está desgastada”, disse. O especialista afirma que o indício do desgaste da relação de ambos foi a frase deixada pelo ator no serviço de microblog Twitter na noite desta quarta-feira (4), quando Dolabella disse que sua maior sentença foi namorar Luana. Para Marques, o Estado tem de agir na tentativa de mediação e resolução do ocorrido, onde os envolvidos se comprometem a evitar novos desentendimentos. “Esses conflitos são de carga emotiva muito grande. A pena ainda não eliminou a origem do problema.”

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