CBN/Globo

RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA – Quase 45% dos voos da Gol programados para todo o país até as 6h da manhã apresentaram atrasos e oito foram cancelados de acordo com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) cobrou explicações da companhia aérea sobre os problemas registrados desde o fim de semana. Na segunda-feira o índice de voos atrasados da empresa superou 54%. A média de atrasos nos voos domésticos nos primeiros cinco meses do ano é de 12,4%.

O transtorno causado pela Gol e a falta de informações resultaram na segunda-feira em 104 reclamações nos Juizados Especiais instalados nos aeroportos de Rio, São Paulo e Brasília. Só no Rio e em Brasília, foram abertos 46 processos judiciais – a maior parte tem como alvo a Gol.

Neste último fim de semana, em relação ao fim de semana anterior, o número de queixas no Aeroporto Internacional Tom Jobim passou de 18 para 135 – alta de 650%. Nesta segunda, das 33 queixas no Tom Jobim, 27 se transformaram em processos e apenas uma se reverteu em acordo entre as partes. No Santos Dumont, dos 20 clientes que procuraram a juizado, houve quatro acordos, cinco aberturas de processos e 11 pedidos de informação.

No Aeroporto de Brasília, foram registradas 33 queixas. Desse total, foram abertos 14 processos, todos contra a Gol. No Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, das dez reclamações, a Gol foi alvo de nove. Desse total, duas queixas resultaram em acordos. Em Cumbica, das oito reclamações, cinco foram contra a Gol.

Problemas na escala associados ao elevado tráfego aéreo na volta às aulas levaram à insuficiência de tripulantes para os voos programados da companhia, que registram atrasos desde sexta-feira. Os problemas enfrentados pela Gol provocaram efeito cascata que levaram o número de voos domésticos atrasados no país a 26% dos 2.162 voos programados em 54 aeroportos brasileiros, segundo dados da Infraero atualizados até às 21h de segunda.

Na Gol, houve desde excesso de voos fretados (não regulares) para destinos turísticos em julho a falhas no sistema da empresa que monitora a carga horária dos tripulantes. A decisão dos funcionários de cumprir estritamente a legislação trabalhista do setor – máximo de 85 horas de voo por mês – também fez os passageiros da segunda maior companhia aérea do país passarem por um verdadeiro tormento nos aeroportos na volta das férias. Até as 21h, 393 decolagens domésticas da empresa – 52,5% dos 748 voos programados – sofreram atrasos e 94 viagens (12,6%) foram canceladas. Dos 34 embarques internacionais previstos, 44,1% (15) foram adiados.

Segundo fontes do mercado e dos sindicatos, a empresa teria reativado aviões da antiga Varig para rotas turísticas fechadas, com receita garantida, sem contratar funcionários extras, o que estourou o limite de horas de trabalho determinado por lei, impedindo a formação das tripulações dos voos regulares. Sindicatos dos trabalhadores apontam que o quadro de pessoal enxuto – realidade da empresa – agravou a situação.

Procurada, a Gol chegou a confirmar que houve excesso de fretamentos em julho e que esse foi um dos motivos dos atrasos. “Isso procede”, informou a assesssoria de imprensa da aérea, que depois voltou atrás, alegando que a informação não era oficial e que o assunto ainda estava sendo apurado. Ainda segundo a assessoria de imprensa, o principal motivo foi a pane do sistema, que deixou de computar excesso de jornada de determinados funcionários. Mais cedo, em nota, a empresa culpou o excesso de tráfego aéreo, mas o Comando da Aeronáutica informou que não havia anormalidade no movimento, considerado comum para o período de fim de férias.

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