George Brito, Helga Cirino e Hieros Vasconcelos l A TARDE

Dos 111 casarões com alto risco de desabar em Salvador – conforme dados da Coordenadoria de Defesa Civil de Salvador (Codesal) –, 38 deles abrigam pelo menos 260 pessoas. O dado foi apurado por A TARDE nesta teça-feira, 20, quando três equipes de reportagem visitaram os 38 casarões, distribuídos em oito bairros da capital: Barbalho (4), Carmo (1), Centro Histórico (1), Comércio (14), Dois de Julho (2), Nazaré (6), Santo Antônio (6) e Saúde (4).

Em geral, as moradias de valor histórico e arquitetônico apresentam infiltrações nas paredes e tetos, assoalhos apodrecidos, fiações elétricas expostas, fachadas danificadas com desprendimento de reboco, alvenarias comprometidas, ferragens expostas e oxidadas e rachaduras.

Para o engenheiro da Codesal Gilberto Campos, essas são evidências muito graves que apontam para riscos de desabamento. Mas também há outros indicadores do perigo de os imóveis ruírem, aparentemente mais simples, mas que podem apontar riscos graves e que precisam ser checados, a exemplo de portas empenadas, com dificuldade de fechar ou inchadas por causa da água da chuva.

Campos destaca que qualquer alteração na estrutura da casa, na parede ou no piso, exige mais atenção do residente, que deve chamar a Codesal imediatamente (199) para fazer uma avaliação.

Perfil – O perfil dos moradores localizados por A TARDE varia desde profissionais do sexo e usuários de drogas, até integrantes do movimento dos sem-teto, trabalhadores informais e aposentados com baixo poder aquisitivo, que não têm outra opção de moradia. Alguns, aos poucos, tentam angariar recursos para reformar os imóveis, cujos proprietários legais são desconhecidos. Outros esperam uma ação do poder público.

A aposentada Ivanildes Queiroz Soares, 79, por exemplo, mora há 30 anos na casa 131 da Ladeira da Soledade. Merendeira há várias décadas do Colégio Estadual Carneiro Ribeiro, no mesmo local, ela passou a morar no casarão como inquilina do proprietário, de quem só lembra o primeiro nome. “Era Laurentino, que já morreu. A esposa passou a receber, depois sumiu, dona Lourdes”, relata.

Mãe de oito filhos, mora com apenas um. Os outros estão espalhados em outros cômodos do casarão. “Quem segura isso aqui é Deus. Toda vez que olho para o teto, sinto uma aflição muito grande. Mas para onde vou com um salário mínimo?”, desabafa.

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