Bruno Wendel | Redação CORREIO

Uma briga para elevar em 40% os rendimentos do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado com a cobrança de plano de saúde é um dos possíveis motivos do assassinato do diretor- tesoureiro Paulo Roberto Colombiano dos Santos, 53 anos. Ele e a mulher, Catarina Ascensão Galindo, 53, secretária do Partido Comunista do Brasil (PC do B), retornavam para casa, em um Sportage, quando foram executados, anteontem, por dois homens numa moto, em Brotas.

Ontem, fontes da Secretaria de Segurança Pública informaram que Colombiano não concordava com a proposta de um reajuste de R$ 900 mil para R$ 2 milhões na arrecadação mensal na assistência médica. Pelos cofres do sindicato circulam cerca de R$ 2,5 milhões por mês. Sobre o crime, o delegado-chefe Joselito Bispo disse que não há dúvidas que as mortes foram encomendadas.

Quanto ao motivo, disse que há várias linhas de investigação, mas não disse se as mortes estão relacionadas a questões políticas ou sindicais. O presidente do sindicato Manoel Machado classificou a informação sobre o reajuste de “leviana” e que teria sido plantada pela oposição.

Investigação da Polícia recolheu memórias de computadores e pelo menos 24 pastas de documentos foram levados do Sindicato para análise

“Não tenho conhecimento disso. Temos interesse de que o crime seja  logo solucionado. Para que possamos contribuir com as investigações, interrompemos até sexta-feira o funcionamento do sindicato”, declarou Machado.  Sobre as declarações do ex-diretor do sindicato José Carlos Rodrigues, de que Colombiano tinha recebido ameaças por e-mail, Machado confirmou apenas que circulam boatos nas garagens e nas estações de transbordo de que ele e Colombiano estavam jurados de morte.

“Os recados trazido pelos companheiros era de que a gente ia cair, de que não íamos durar muito tempo em nossos cargos” , contou o presidente do sindicato sem informar a quem atribui as ameaças. “Elas foram intensificadas após decisão judicial que favorecia nossa chapa em dezembro do ano passado”.

PERÍCIA
Três memórias de computadores e pelo menos 24 pastas de documentos foram levados do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários, situado em Brotas, para o Departamento de Polícia Técnica para análise. A perícia, iniciada por volta das 9h e finalizada às 18h30, contou com cinco peritos, sendo um contábil, que se revezaram em dois turnos.
Todo o trabalho foi coordenado pelas delegadas Francineide Moura e Maria Andrade, ambas da Delegacia de Homicídio, e Maria Fernanda Porfírio, da 6ª Delegacia, na Ladeira dos Galés. A perícia foi acompanhada por vários integrantes do sindicato, entre eles Manoel Machado.

Militantes estenderam uma faixa de luto em frente à sede . Ontem à tarde, na rua Teixeira Barros, em Brotas, local do crime, um policial civil, que se identificou como representante da Secretaria de Segurança Pública, distribuía panfletos do Disque-Denúncia a moradores e comerciantes do local.

FAMILIAS E AMIGOS PEDEM JUSTIÇA
Bruno Menezes | Redação CORREIO
bruno.menezes@redebahia.com.br

 “Sejam militantes não só aqui, durante o enterro. Mas também lá fora. Denunciem, repassem as informações.Não se calem. Minha mãe e Paulo gastaram a vida, mais de 30 anos nessa porra de partido. Que não tenha sido em vão”. O desabafo é de Élder, um dos filhos de Catarina, durante o enterro da mãe e do padrasto, no cemitério Jardim da Saudade, na tarde de ontem. Amigos, parentes e militantes do PCdoB participaram da cerimônia e, assustados, tentavam entender o que poderia ter motivado a morte violenta do casal.

“Precisamos saber qual foi o motivo e encontrar quem mandou fazer isso. A polícia precisa dar essa resposta não só à família, mas, também, à sociedade”, diz a irmã de Paulo, Celeste Matos dos Santos. O governador Jaques Wagner foi ao cemitério conversar com a família. Ele garantiu empenho nas investigações.
“Já determinei que todo o equipamento da segurança pública estadual seja empregado na busca desses assassinos. Quero respostas rápidas, assim como fizemos na morte do delegado Clayton”, afirma o governador, referindo-se à morte do delegado Clayton Leão, assassinado dia 26 de maio na Estrada da Cascalheira, em Camaçari.

Para a família, faltam respostas. “Ele foi abatido na rua, como se fosse um animal selvagem. Morreu como um bandido e precisamos provar que ele não tinha envolvimento com esses esquemas de política e sindicato como está parecendo. Não vamos descansar até que a gente veja que os criminosos estão pagando pelo crime que cometeram”, diz Celeste.

O presidente do PC do B,deputado Daniel Almeida, ressaltou a importância de Paulo e Catarina para o partido e garantiu que a morte do casal foi um atentado à democracia. O partido emitiu nota cobrando respostas do governo do Estado e exigindo rapidez nas investigações.

PAULO CUIDAVA DE DOIS MILHÕES POR MÊS
Jorge Gauthier | Redação CORREIO
jorge.souza@redebahia.com.br

Paulo Colombiano assumiu a tesouraria, pois discordava, segundo amigos, do gerenciamento dos R$ 2,5 milhões mensais na entidade.“Aí pode estar a chave do mistério. Meu irmão dizia que o legado dele era a honestidade e quem trabalha com dinheiro e é honesto corre riscos. Não me importa o motivo, quero que quem fez e mandou seja punido”, clamou a irmã de Colombiano, Celeste Matos.

Diretor financeiro do sindicato dos rodoviários e membro do comitê municipal do PC do B, Paulo Colombiano, 53 anos, estudava museologia na Ufba.“ Sempre foi militante político, pedimos que parasse, mas a militância foi a vida dele”, diz a irmã Celeste. A família de Colombiano, em menos de uma semana, enterra mais um membro. No sábado, o pai do sindicalista morreu aos 94 anos. Mesmo abalado, foi trabalhar na convenção do partido.

Com a secretária Catarina Galindo, morta com ele na emboscada, Colombiano viveu por dez anos. De um relacionamento anterior, teve três filhos. “Sempre me acompanhou nas ações políticas. Um homem correto, digno e justo”, disse a deputada federal Lídice da Mata.

Políticos que estiveram no enterro falaram sobre o crime. “O sindicato tem muita força política. Ocupar um cargo de importância, como Paulo tinha, incomodamuita gente”, afirmou o ex-presidente do sindicato, o deputado estadual J. Carlos.

Em novembro passado, a disputa pela direção do sindicato parou nos tribunais, após causar confusão na cidade. Integrantes da Chapa 1, da qual Colombiano fazia parte, foram acusados de subtraírem urnas da eleição que culminou na derrota da Chapa 4 por 370 votos de diferença.

À época, o então candidato à presidência pela Chapa 4, Mário Cleber, disse que andava com segurança . Após a morte de Colombiano, membros da atual direção acusaram membros da Chapa 4 pelo crime. Mário foi procurado, ontem, mas seu celular estava desligado. O presidente eleito, Manoel Machado, segundo J. Carlos, anda com segurança.

Compartilhe