Bruna Bessi, iG São Paulo 

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma metodologia para identificação do vírus da dengue em amostras de urina e saliva. Na nova técnica, as substâncias são analisadas em um equipamento denominado termociclador, que amplifica amostras de DNA e revela a presença do vírus em até três horas. A nova metodologia é uma alternativa ao tradicional exame de sangue, que demora dez dias para informar se o paciente está com a doença.

 

Foto: Agência Estado

Larvas do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da dengue: resultado do novo exame para detecção do vírus sai em até três horas

Apesar das frequentes mutações virais, os pesquisadores identificaram no genoma do vírus da dengue trechos “conservados” de seu DNA. O termociclador é ligado a um computador que possui um software especializado na realização de gráficos analíticos sobre o DNA. O material do genoma viral pode ser visualizado graças ao recurso de fluorescência do equipamento.

O resultado do exame de sangue é mais demorado porque, para identificar a doença, é preciso que existam anticorpos no organismo – a doença precisa, portanto, estar presente há dias. Graças à rapidez do diagnóstico obtido com a nova metodologia, o paciente já pode começar o tratamento no primeiro dia de manifestação dos sintomas.

A grande inovação nesse projeto é a estipulação de “padrões” de análises para a detecção do vírus da dengue. “Nós padronizamos a sequência de DNA que deve ser amplificada, o volume da amostra, os reagentes utilizados, entre outros fatores específicos”, diz Telma Ramos Poloni, integrante do projeto e aluna de doutorado em biociências da USP.

Entre as vantagens da escolha das substâncias para a análise, a pesquisadora destaca o fato de a técnica ser pouco invasiva. “A saliva e a urina podem ser coletadas em grandes volumes e isso é uma vantagem, assim como a facilidade de sua obtenção”, diz.

Além disso, Victor Hugo Aquino, professor da faculdade de ciências farmacêuticas da USP e orientador do projeto, revela que o uso das amostras pode ser uma boa alternativa quando o sangue não puder ser obtido. “Nosso método é mais sensível e poderá auxiliar em situações difíceis como na obtenção de amostras de sangue em recém-nascidos e adultos com hemorragia”, afirma.

Metas para o futuro

Tornar viável o acesso ao termociclador ainda é um desafio no sistema brasileiro de saúde. O equipamento, usado para amplificar as imagens dos exames, já é usado em diversas cidades do País, como Recife, Belém, Rio de Janeiro, São Paulo e Manaus. Sua presença, no entanto, limita-se a grandes laboratórios, já que seu custo é considerado elevado – cada aparelho custa entre R$ 25 mil e R$ 100 mil, dependendo das características.

O novo método ainda precisa ser aceito pelo Ministério da Saúde. Para que se comprove eficácia da técnica, é preciso que ela seja testada em um número maior de pacientes. “Os resultados que já obtivemos são positivos, mas ainda são necessários cálculos estatísticos para concluirmos a viabilidade do método”, diz Aquino. Também são necessárias mais amostras de sangue, urina e saliva para que seja avaliado o grau de acerto em cada passo, afirma.

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