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Maria Dolores Cunha Toloi é psicóloga, especialista em Psicologia Clínica e Jurídica com mestrado pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e doutorado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. No mês passado, ela lançou “Sob Fogo Cruzado” (Editora Ágora) – um estudo sobre o impacto dos conflitos conjugais e das separações pela perspectiva dos filhos. Conversamos com a psicóloga para saber o que os pais devem evitar e como devem agir para tornar uma separação o menos problemática possível.
iG O que coloca os adolescentes e as crianças ‘sob fogo cruzado’?
Maria Dolores Cunha Toloi O nível de conflito entre os pais. O que fragiliza um filho são os pais brigando, porque a segurança emocional das crianças está depositada nas figuras parentais. Quando essas figuras entram em discórdia e começam a brigar, a criança começa a ficar insegura e impotente sobre como se resguardar emocionalmente.
iG E como evitar que isso aconteça?
Maria Dolores Se os pais têm melhor comunicação e mais flexibilidade, resolvem os conflitos e afetam menos a criança. Conflitos são normais. Temos conflito entre nações, entre pessoas, em relacionamentos… o problema é como as pessoas os resolvem.
iG Qual é, na sua opinião e experiência, o pior problema para os filhos dos casais que se separam?
Maria Dolores A perpetuação do conflito e o uso dos filhos como “pombos correios”. O casal precisa avaliar o quanto separa a conjugalidade da parentalidade. Ao separar-se, eles deixam de ser marido e mulher, mas continuam sendo pais daquela criança. Geralmente, leva 2 a 4 anos para os pais se adaptarem a essa nova situação. Esse é o período de maior probabilidade de brigas – e também é a fase em que a criança mais precisa dos pais. É uma fase de risco. Muitos pais dizem estar brigando pelo interesse dos filhos, mas o motivo número um das brigas depois da separação é o dinheiro. O tema número dois é a criação dos filhos.
Na verdade, os pais devem se perguntar, desde que o filho nasce, como eles encaram essa criança: como uma posse ou como um ser que foi colocado no mundo pelos dois, pelo qual ambos querem fazer o melhor? Utilizar a criança como “pombo correio”, para mandar recados ou manipular o outro, é só a ponta do iceberg. Significa que, por baixo, antes da separação, já existe toda uma história de desequilíbrio familiar.

Para Maria Dolores Cunha Toloi, os pais devem separar a conjugalidade da parentalidade
iG Como estes pais podem alinhar o discurso e a ação, fazendo o melhor para os filhos depois de uma separação?
Maria Dolores
iG Uma das consequências mais comuns de uma separação é o sentimento de culpa das crianças. Como perceber o quanto seu filho foi afetado e deixar claro que a culpa do fim do relacionamento dos pais não é dele?
Maria Dolores As crianças afetadas pela separação reagem, de forma geral, apresentando os mesmos sintomas de quaisquer problemas psicológicos. A autoestima fica baixa, eles passam a estar mais isolados socialmente, às vezes aparece agressividade, cai o rendimento escolar… São sintomas clássicos de que a criança precisa de ajuda. Aliás, não só a criança, como toda a família. Sobre a culpa, os pais precisam ser claros. Falar, diretamente, para a criança: “papai e mamãe vão se separar, isso é um problema nosso, não tem a ver com você”. E orientá-la, caso ela venha com recado do outro: “isso não é uma coisa de criança, quem tem que falar comigo é o papai ou a mamãe”.
iG Qual seu principal conselho para os pais que se separam?
Maria Dolores Que aprendam a o quanto antes. E que procurem ajuda, como aconselhamento psicológico ou mediação.